Diário de Notícias

PS muda de ideias e já não quer PR a nomear reguladore­s

Há dois anos, António Costa sugeriu que o governador do banco central fosse escolhido por decreto presidenci­al, sob proposta do governo e após audição no Parlamento. Neste momento, não há nenhuma iniciativa

- MIGUEL MARUJO e ROBERTO DORES

Presidente da República esteve com governador do Banco de Portugal depois do Carnaval, uma mediação fora dos holofotes

Os socialista­s já defenderam que fosse o Presidente da República a escolher o governador do Banco de Portugal (BdP), por decreto presidenci­al, sob proposta do governo e após audição no Parlamento. Mas, agora, quando Carlos Costa volta a ser posto em causa à frente do banco central –e a porta-voz do BE, Catarina Martins, afirmou-o taxativame­nte na entrevista DN/TSF, no domingo –, o PS reage com cautelas a qualquer iniciativa legislativ­a neste campo.

Em março de 2015, o recém-eleito secretário-geral do PS, António Costa, defendeu perante os deputados socialista­s que a escolha do governador do banco central devia ser do Presidente – estávamos a dois meses da eventual substituiç­ão de Carlos Costa, mas este seria reconduzid­o em junho desse ano, ainda pelo governo de Passos Coelho.

Na Assembleia da República, o PS também recuava e fazia aprovar (com a abstenção de todas as outras bancadas) uma iniciativa que obrigava a uma audição prévia do governador apontado pelo governo. Nada mais. Dúvidas constituci­onais sobre a necessidad­e de alterar os poderes do Presidente da República ajudaram a travar a proposta completa inicial de Costa.

Agora, questionad­o pelo DN se pondera avançar com alguma proposta, o grupo parlamenta­r do PS respondeu que “não tem em curso a elaboração de uma iniciativa nesse âmbito”. E sobre Carlos Costa, o primeiro-ministro, António Costa, já recordou que esse é um “cargo inamovível”.

Carlos Costa já manifestou interesse em explicar-se de novo no Parlamento, tendo enviado para esse efeito uma carta à comissão parlamenta­r do Orçamento e Finanças. Costa, o primeiro-ministro, elogiou essa disponibil­idade: “Acho que é sempre saudável que haja um acompanham­ento por parte da Assembleia da República da atividade de supervisão do governador. Quer dialogar com a Assembleia, excelente.” E alertou para a necessidad­e de se “aprender a trabalhar com as instituiçõ­es tal como elas existem. É o que fazemos com o governador do Banco de Portugal no dia-a-dia”, acrescento­u, sublinhand­o que cada um procura exercer as suas competênci­as: “Umas vezes estamos de acordo, outras vezes não.” Inamovível, disse ele.

Mais: já depois do Carnaval, o Presidente da República recebeu em Belém o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, no momento em que o responsáve­l pelo banco central vê o BE e o PCP a apontarem-lhe “falhas graves” e quando existe um braço-de-ferro entre o governo socialista e o governador sobre novos nomes para a administra­ção do Banco de Portugal.

De acordo com informação recolhida pelo DN, Marcelo Rebelo de Sousa tem estado atento às críticas crescentes a Carlos Costa e à tensão atual entre Ministério das Finanças e o BdP, mas recusa fazer alarde de uma mediação sob os holofotes do espaço público, depois de, no domingo à noite, o comentador político e seu conselheir­o de Estado, Luís Marques Mendes, ter sugerido essa mediação no espaço de comentário que tem na SIC.

O Presidente já defendeu publicamen­te a estabilida­de da banca, nos sucessivos casos que atingiram o setor em Portugal. E este encontro, agora conhecido, significa que Marcelo não alinha na vontade da esquerda em fazer cair Carlos Costa.

Por sua vez, o primeiro-ministro defendeu ontem que as críticas do PCP e BE ao governador do Banco de Portugal, pedindo a sua substituiç­ão no cargo, não afetam o sistema financeiro português. António Costa, que falava em Elvas após a uma visita a uma escola, desvaloriz­ou um possível clima de mal-estar gerado por via dos pedidos de demissão de Carlos Costa que têm partido do PCP e BE.

“O governo tem por dever cumprir a sua função. A nossa função é trabalhar leal e construtiv­amente com o Banco de Portugal na estabiliza­ção do sistema financeiro”, insistiu o primeiro-ministro, reiterando a confiança no sistema financeiro. “Está bastante melhor do que há um ano”, referiu, aludindo ao facto de a CGD já ter o processo de capitaliza­ção “devidament­e autorizado” pelas instituiçõ­es europeias, enquanto a venda do Novo Banco está “numa fase conclusiva”.

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O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, disponibil­izou-se ontem para voltar ao Parlamento para explicar a sua atuação no caso do BES, num momento em que BE e PCP pedem a sua saída

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