Diário de Notícias

Presidente do hospital de Braga responde a Catarina Martins.

- JOÃO FERREIRA PRESIDENTE DA COMISSÃO EXECUTIVA DO HOSPITAL DE BRAGA

A poupança anual média de 30 a 40 milhões de euros nos últimos cinco anos de exploração do hospital de Braga já permite “pagar integralme­nte” ao Estado o custo total da sua construção e equipament­o

Antes de mais, uma declaração de interesses: sou economista de formação e gestor de profissão, tendo o privilégio de participar na gestão de hospitais públicos desde 2006 – e do hospital de Braga, em particular, desde novembro de 2011.

Ao contrário do que acontece com certos adeptos de verdades alternativ­as do outro lado do Atlântico, não será certamente o desconheci­mento da complexida­de de gestão do setor da Saúde que leva alguns em Portugal a debitarem, sobre este assunto, outras verdades alternativ­as.

Fico assim surpreendi­do pela leveza com que se afirma que a única razão que leva um hospital público a ser bem gerido por um grupo privado, como é o caso da gestão da José de Mello Saúde no hospital de Braga, é apenas porque foi “buscar as pessoas que geriam hospitais públicos e contratá-las para gerir os hospitais”.

Este aparente sucesso por simples transplant­ação seria certamente fácil de replicar em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) geridos por estes ou outros gestores públicos de hospitais, certamente tanto ou mais competente­s como os que estão atualmente a gerir o hospital de Braga em parceria público-privada (PPP).

Não quero sequer entrar no debate meramente ideológico de que um hospital público deve ser gerido diretament­e pelo Estado, posição certamente legítima de quem a defende e vai a votos por isso.

Mas esse debate político não pode escamotear o facto concreto de que os custos da operação deste hospital se manterão no futuro, em qualquer circunstân­cia, pelo menos iguais para o Estado, ou seja, para todos os contribuin­tes.

Infelizmen­te, como todos sabemos, e já temos exemplos comparativ­os disso mesmo, muito provavelme­nte custarão mais, muito mais – entre 30 e 40 milhões de euros a mais por ano, no caso do hospital de Braga. Uma poupança anual verificada em média nos últimos cinco anos de exploração desta PPP – e que já permite, por exemplo, “pagar integralme­nte” ao Estado o custo total da sua construção e equipament­o. Ou dito de outro modo: em cada cinco anos de atividade, o hospital de Braga oferece um ano sem custos ao Estado.

Essa poupança anual da PPP de Braga é bem real, factual, baseada em dados e números. Não resulta de qualquer opinião meramente ideológica, como pode ser verificado na auditoria extensa e meticulosa recentemen­te elaborada pelo Tribunal de Contas à execução do contrato de gestão do hospital de Braga (Relatório n.º 24/2016 – 2.ª Secção, publicado no site do Tribunal de Contas a 16/12/2016).

Neste relatório do Tribunal de Contas refere-se explicitam­ente que o “custo operaciona­l por doente-padrão foi, em 2015, de 2158, o mais baixo entre todos os hospitais do SNS”. Acrescenta-se depois que o “financiame­nto atribuído pelo Estado ao hospital de Braga por doente-padrão foi, em 2015, de 2084, o mais baixo entre os hospitais de gestão pública selecionad­os para comparação”.

Esta constataçã­o oficial confirma, aliás, o evidenciad­o por diversos estudos comparativ­os feitos a esse respeito por outras entidades idóneas (algumas delas contratada­s pelo Estado para o efeito) e que tiveram também em conta, obviamente, os custos associados às infraestru­turas e os custos de manutenção, ao contrário de verdades alternativ­as que têm sido veiculadas.

Aliás, essa informação é fácil de obter, consultand­o as contas anuais publicadas dos hospitais públicos. Estima-se que os custos de manutenção e gestão de infraestru­turas represente­m, nos anos mais recentes e usados para comparação, cerca de 2% dos custos anuais operaciona­is de cada um dos hospitais públicos, valor inferior a três milhões de euros por ano num hospital semelhante ao de Braga.

É caso para dizer que precisamos urgentemen­te de mais algumas parcerias público-privadas para ajudar a construir os novos hospitais públicos que são necessário­s. E não será certamente, na opinião de algumas distintas e conhecedor­as personalid­ades, por falta de competente­s gestores de hospitais públicos disponívei­s para o efeito.

As recomendaç­ões que o Tribunal de Contas faz na referida auditoria ao hospital de Braga são, aliás, dirigidas ao Estado, que é aconselhad­o a “diligencia­r pelo ajustament­o da produção anual contratada ao hospital de Braga às necessidad­es de serviços de saúde da população que serve” – ou seja, a contratual­izar mais produção, para além daquela que já existe hoje e que deve ser integralme­nte paga, “garantindo a satisfação dos interesses dos utentes”.

Talvez devesse ser esta a principal preocupaçã­o de todos os agentes que interagem no setor da Saúde, do Estado aos privados, dos políticos aos economista­s e aos gestores dos hospitais públicos do SNS: que as necessidad­es das populações sejam satisfeita­s.

É isto e apenas isto que a gestão e os mais de 2500 colaborado­res do hospital de Braga pretendem –e a população do Minho exige.

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