Quatro de Versalhes defendem UE a várias velocidades
Hollande, Merkel, Gentiloni e Rajoy dizem que futuro da União Europeia passa por projetos que não excluam ninguém mas que também não obriguem ninguém a participar
O que antes alguns defendiam em surdina passou agora a dizer-se em voz alta e de forma clara: a salvação do projeto europeu está numa UE a várias velocidades, com vários níveis de integração, como acontece já, por exemplo, com o euro. Foi pelo menos essa a mensagem transmitida pelos líderes da França, Alemanha, Itália e Espanha, que ontem estiveram reunidos numa minicimeira em Versalhes. Esta teve como objetivo preparar o Conselho Europeu de quinta e de sexta-feira e a declaração de Roma, que sairá da cimeira de dia 25 na capital italiana. A ocasião é o 60.º aniversário do Tratado de Roma, o qual lançou as bases daquilo que hoje é a União Europeia.
“A unidade não é uniformidade”, disse o presidente francês. “Proponho novas formas de cooperação ou novos projetos, aos quais chamamos cooperações diferenciadas através das quais alguns países possam ir mais rápido”, precisou François Hollande, nas declarações que fez à imprensa no palácio, lembrando que foi ali, há um século, que os países saídos da I Guerra Mundial se reuniram. Ao seu lado, a chanceler alemã e os primeirosministros italiano e espanhol. Cada um falou seis minutos, sem que tenha havido direito a perguntas por parte dos jornalistas presentes.
“É preciso ter coragem para que alguns países sigam em frente se nem todos quiserem participar. Uma Europa a diferentes velocidades é necessária, caso contrário ficaremos paralisados”, afirmou por seu lado Angela Merkel. “É algo que deve permanecer aberto – não deve excluir ninguém, mas também não deve obrigar toda a gente a participar em todos os projetos. Se a Europa ficar paralisada, não se desenvolver e seguir em frente, então o trabalho de paz que foi feito poderá ficar em perigo mais depressa do que imaginamos”, sublinhou a líder alemã, numa clara referência aos movimentos e partidos populistas e nacionalistas que sobem nas sondagens – nomeadamente em países como a Holanda, a França e a Alemanha.
No mesmo sentido, embora com ligeiras variações, Paolo Gentiloni e Mariano Rajoy apoiaram a mensagem dos dirigentes do eixo franco-alemão. “Estou de acordo que é preciso avançar para uma defesa comum europeia”, declarou o chefe do governo italiano, que será o anfitrião da cimeira de Roma. A declaração de Gentiloni surge no mesmo dia em que os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa da União Europeia aprovaram a abertura de um quartel-general europeu em Bruxelas para treinar missões no estrangeiro.
Este passo surge depois de o Reino Unido – a braços com o brexit – ter retirado a sua oposição à criação deste comando europeu. Confrontada com as ameaças da administração de Donald Trump – de que os norte-americanos poderão rever a sua contribuição para a aliança caso os europeus não aumentem também a sua –, a UE procura, assim, ter um maior poder de dissuasão face à Rússia e também usar os seus militares para estabilizar estados falhados que são emissores de migrantes. A necessidade de cooperar com África para travar os fluxos migratórios e de reforçar o controlo das fronteiras externas da UE foram também ontem aspetos bastante referidos pelos quatro de Versalhes.
“Eu gosto da opção que aposta em mais e melhor integração. Acredito que a Europa deve olhar mais além porque sempre que olhou mais além viveu os melhores momentos da sua história”, declarou o primeiro-ministro espanhol. Mariano Rajoy afirmou que Espanha “está disposta a ir mais além” em matéria de integração europeia com “todos aqueles” que queiram “continuar a integração”. O líder espanhol, tal como os restantes, sublinhou que a UE é para continuar, mesmo que só composta por 27 Estados membros – após a saída do Reino Unido.