Diário de Notícias

Quatro de Versalhes defendem UE a várias velocidade­s

Hollande, Merkel, Gentiloni e Rajoy dizem que futuro da União Europeia passa por projetos que não excluam ninguém mas que também não obriguem ninguém a participar

- PATRÍCIA VIEGAS

O que antes alguns defendiam em surdina passou agora a dizer-se em voz alta e de forma clara: a salvação do projeto europeu está numa UE a várias velocidade­s, com vários níveis de integração, como acontece já, por exemplo, com o euro. Foi pelo menos essa a mensagem transmitid­a pelos líderes da França, Alemanha, Itália e Espanha, que ontem estiveram reunidos numa minicimeir­a em Versalhes. Esta teve como objetivo preparar o Conselho Europeu de quinta e de sexta-feira e a declaração de Roma, que sairá da cimeira de dia 25 na capital italiana. A ocasião é o 60.º aniversári­o do Tratado de Roma, o qual lançou as bases daquilo que hoje é a União Europeia.

“A unidade não é uniformida­de”, disse o presidente francês. “Proponho novas formas de cooperação ou novos projetos, aos quais chamamos cooperaçõe­s diferencia­das através das quais alguns países possam ir mais rápido”, precisou François Hollande, nas declaraçõe­s que fez à imprensa no palácio, lembrando que foi ali, há um século, que os países saídos da I Guerra Mundial se reuniram. Ao seu lado, a chanceler alemã e os primeirosm­inistros italiano e espanhol. Cada um falou seis minutos, sem que tenha havido direito a perguntas por parte dos jornalista­s presentes.

“É preciso ter coragem para que alguns países sigam em frente se nem todos quiserem participar. Uma Europa a diferentes velocidade­s é necessária, caso contrário ficaremos paralisado­s”, afirmou por seu lado Angela Merkel. “É algo que deve permanecer aberto – não deve excluir ninguém, mas também não deve obrigar toda a gente a participar em todos os projetos. Se a Europa ficar paralisada, não se desenvolve­r e seguir em frente, então o trabalho de paz que foi feito poderá ficar em perigo mais depressa do que imaginamos”, sublinhou a líder alemã, numa clara referência aos movimentos e partidos populistas e nacionalis­tas que sobem nas sondagens – nomeadamen­te em países como a Holanda, a França e a Alemanha.

No mesmo sentido, embora com ligeiras variações, Paolo Gentiloni e Mariano Rajoy apoiaram a mensagem dos dirigentes do eixo franco-alemão. “Estou de acordo que é preciso avançar para uma defesa comum europeia”, declarou o chefe do governo italiano, que será o anfitrião da cimeira de Roma. A declaração de Gentiloni surge no mesmo dia em que os ministros dos Negócios Estrangeir­os e da Defesa da União Europeia aprovaram a abertura de um quartel-general europeu em Bruxelas para treinar missões no estrangeir­o.

Este passo surge depois de o Reino Unido – a braços com o brexit – ter retirado a sua oposição à criação deste comando europeu. Confrontad­a com as ameaças da administra­ção de Donald Trump – de que os norte-americanos poderão rever a sua contribuiç­ão para a aliança caso os europeus não aumentem também a sua –, a UE procura, assim, ter um maior poder de dissuasão face à Rússia e também usar os seus militares para estabiliza­r estados falhados que são emissores de migrantes. A necessidad­e de cooperar com África para travar os fluxos migratório­s e de reforçar o controlo das fronteiras externas da UE foram também ontem aspetos bastante referidos pelos quatro de Versalhes.

“Eu gosto da opção que aposta em mais e melhor integração. Acredito que a Europa deve olhar mais além porque sempre que olhou mais além viveu os melhores momentos da sua história”, declarou o primeiro-ministro espanhol. Mariano Rajoy afirmou que Espanha “está disposta a ir mais além” em matéria de integração europeia com “todos aqueles” que queiram “continuar a integração”. O líder espanhol, tal como os restantes, sublinhou que a UE é para continuar, mesmo que só composta por 27 Estados membros – após a saída do Reino Unido.

 ??  ?? Mariano Rajoy, Angela Merkel, François Hollande e Paolo Gentiloni, líderes de Espanha, Alemanha, França e Itália, ontem, em Versalhes
Mariano Rajoy, Angela Merkel, François Hollande e Paolo Gentiloni, líderes de Espanha, Alemanha, França e Itália, ontem, em Versalhes

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal