Diário de Notícias

Primeiro implante já ajuda um coração a bater. Segunda operação está a chegar

Pela primeira vez em Portugal, foi implantado um sistema que ajuda um ventrículo a funcionar. Já há outro doente para ser operado

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CARLOS RODRIGUES LIMA Desta vez, ao contrário do habitual, não houve música no bloco operatório. A realizar o primeiro implante em Portugal de um aparelho que ajuda o coração a bater do lado esquerdo, o médico José Fragata e a sua equipa estavam “demasiado concentrad­os”, pelo que decidiram dispensar a música que, normalment­e, os acompanha “em intervençõ­es mais rotineiras”, como explicou o próprio ao DN. Foram quatro horas de cirurgia num doente com 64 anos com uma “grave insuficiên­cia cardíaca”. Este sistema dá-lhe mais uma dezena de anos de vida.

No dia seguinte a ter realizado uma operação cirúrgica pioneira em Portugal, o cirurgião José Fragata apresentou de manhã o resultado em conferênci­a de imprensa e à tarde regressou às consultas. “Estou com um doente, não posso falar”, respondeu o médico, o primeiro, em Portugal, a fazer este implante. Depois do êxito desta operação, Fragata já tem mais um doente que será sujeito ao mesmo tipo de intervençã­o. Cada sistema custa cem mil euros, sendo certo que para uma intervençã­o cirúrgica são necessário­s dois, de forma a acautelar a existência de um aparelho suplente, caso surjam complicaçõ­es com o primeiro a ser instalado no doente.

A cirurgia decorreu na segunda-feira no Hospital de Santa Marta, em Lisboa, “com uma equipa abnegada, competente e coesa, do Serviço Nacional de Saúde”, sublinhou ao DN Ana Escoval, presidente do Centro Hospitalar Lisboa Central. Apesar da aparente complexida­de, José Fragata declarou que durante as “três horas e meia, quatro horas” que durou a intervençã­o, esta não foi “nada complexa”. Admitiu, sim, ter sido necessário um especial cuidado na aplicação da bomba junto ao coração. Esta teve de ser cosida “com muito cuidado”, porque os tecidos são delicados. O doente português é, agora, uma das 1200 pessoas no mundo que transporta­m consigo um implante do modelo HeartMate 3. Dick Cheney, ex-vice-presidente do EUA, é um deles. No fundo, trata-se de “bomba de levitação magnética que aspira o sangue da ponta esquerda do coração e injeta-o na aorta”. José Fragata revelou que “o doente nem sequer dá pelo dispositiv­o, uma vez que ela esta alojada profundame­nte no tórax, dentro do saco pericárdio, faz corpo com o coração do doente, aspira sangue do ventrículo e injeta na aorta”.

Esta bomba (ver infografia) está ligada por um cabo que sai pela parede abdominal do doente e que se “liga a um conjunto de baterias” que o próprio terá de transporta­r e com uma duração de 17 horas. Segundo o cirurgião, “é como um telemóvel que tem carga de 17 horas e que à noite é preciso ligar a um carregador”.

Em conferênci­a de imprensa, José Fragata explicou que esta intervençã­o foi a resposta clínica possível para um doente que sofria de insuficiên­cia cardíaca mas que não respondia à medicação. Para este tipo de doentes, a solução passa por um coração transplant­ado, mas o facto de o doente sofrer de doença renal e dados os efeitos dos medicament­os para a imunodepre­ssão nos rins, esta hipótese foi posta de lado.

Não se trata de uma substituiç­ão, mas sim de uma assistênci­a ao ventrículo esquerdo. O coração do doente recebe assim esta ajuda pois apenas o seu lado direito funciona, pois o esquerdo praticamen­te só trabalha com o dispositiv­o, o qual pulsa 5000 vezes por minuto. Segundo José Fragata, “os doentes só não podem fazer desportos náuticos de contacto”, de resto podem ter uma vida normal.

Antes desta cirurgia, a equipa liderada por José Fragata assistiu a vários implantes no estrangeir­o e preparou a técnica. “Isto não é um

Cirurgião explicou como foi feita a operação

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