Diário de Notícias

Som dos bares ligado em tempo real à Polícia Municipal

Termina o prazo de adaptação dado aos comerciant­es. Multas para quem puser música a partir das 23.00, sem limitador de som, começam nos mil e podem chegar aos 15 mil euros

- ANA BELA FERREIRA

Limitadore­s custam 1330 euros e vão estar a transmitir em direto o nível de ruído. Em caso de infracção Polícia Municipal é alertada

A vida noturna na cidade vai mudar a partir de amanhã. Depois das 23.00, só podem ter música os estabeleci­mentos que tenham colocado um aparelho limitador de som aprovado pela Câmara Municipal de Lisboa (CML). E as portas e janelas têm de estar fechadas. Também as lojas de conveniênc­ia passam a funcionar apenas entre as 06.00 e as 22.00. As alterações abrangem toda a cidade, com exceção da zona ribeirinha, onde não há zonas residencia­is.

As regras entraram em vigor em novembro, mas os comerciant­es tiveram 120 dias – que terminam amanhã – para se adaptarem. Muitos ainda estão a fazê-lo e não têm sequer uma decisão tomada, como constatou o DN junto de vários bares e cafés do Cais do Sodré e com a Associação de Comerciant­es do Bairro Alto. “Ainda há muitas dúvidas que precisam de ser esclarecid­as”, refere Hilário Castro, o presidente da associação.

Segundo o responsáve­l, os bares e discotecas com espaço de dança já tinham feito todas as alterações necessária­s, faltando apenas “os bares e casas de fado” que “estão a ponderar o que é melhor, se fazer o investimen­to para o limitador ou eliminar o som ambiente que faziam, depois das 23.00”.

Essa é a grande dúvida para alguns dos espaços. Se investem ou não no aparelho que vai medir em tempo real o som que produzem. O bar O’Gilins, no Cais do Sodré, comprou o aparelho, que há de chegar, vindo da Holanda, explica Joana Pinho. “Se não chegar a tempo vamos ter de limitar o barulho, até que esteja tudo a funcionar. Há sítios que não têm o aparelho ainda e que não vão abrir até terem, por medo de serem multados”, acrescenta a jovem que também trabalha num bar no Bairro Alto.

No caso deste irish pub, o investimen­to foi de “cerca de 1330 euros no limitador, mais 100 a 150 euros na instalação do aparelho”. Esta caixa que fica ligada aos aparelhos que produzem som e tem um microfone no meio da sala para apanhar o som ambiente tem de ser de uma empresa aprovada pela autarquia. Depois é selada e fica a emitir em tempo real para a Polícia Municipal e para a CML. “Sempre que se passar o nível médio definido a polícia recebe um sinal”, aponta Joana Pinho. As multas começam nos mil euros e podem chegar aos 15 mil.

Na instalação do aparelho “é medido o ruído no interior do espaço e na casa de um vizinho para definir os decibéis médios que podem ser atingidos”, acrescenta. Além do limitador de ruído, este espaço vai ter as portas fechadas a partir das 23.00. No bar do Bairro Alto onde Joana trabalha, a porta pode ter de ser alterada por causa desta regra. “É de madeira normal, se estiver fechada ninguém percebe que ali é um bar”, justifica.

Hilário Castro defende que “devia haver isenções para espaços como restaurant­es com música ambiente ou casas de fado que funcionam até às 02.00”. Embora também reconheça que “esta medida se compreenda e justifica, em certa medida”. Até porque se trata de “um regulament­o para a cidade”. “Há que melhorar estas duas vivências: o comércio e a habitação. Efetivamen­te, aqueles estabeleci­mentos que abusavam vão ter obrigatori­amente de refazer a sua ideia de negócio, porque a partir das 23.00 têm de trabalhar de porta fechada”, aponta.

Trabalhado­res de outros locais no Cais do Sodré confessam que não tinham conhecimen­to das novas regras nem sabem como o espaço onde trabalham vai resolver o problema. É o caso de Tânia Jorge, que trabalha no Café Tati. “Não sei ainda como vai ser, o proprietár­io vai decidir se compensa ter o limitador ou não ter música. Mas temos concertos três dias por semana, às 22.00, e temos de ver como vai ser a partir de agora.”

O DN questionou a autarquia sobre quantos limitadore­s foram pedidos e as ações de sensibiliz­ação feitas, mas não obteve resposta. Lojas de conveniênc­ia até às 22.00 Diferente vai também passar a ser o horário das lojas de conveniênc­ia: agora só podem funcionar até às 22.00.

Uma mudança aplaudida pela Associação de Comerciant­es do Bairro Alto. “Foram um problema que veio ajudar a agravar tudo o resto. Não passavam de concorrênc­ia desleal aos bares. A partir do momento em que as pessoas podem comprar um litro de cerveja numa loja e sentar-se à porta dos bares a consumir, isso acaba por piorar as coisas. Esta limitação só peca por tardia”, diz Hilário Castro.

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Joana Pinho trabalha no bar O’Gilins, no Cais do Sodré, que está à espera que o limitador de som seja entregue para o instalar

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