Diário de Notícias

Pacto avança entre agentes da justiça

Magistrado­s, agentes de execução e advogados já estão a preparar propostas em grupos de trabalho para levarem à ministra da Justiça

- FILIPA AMBRÓSIO DE SOUSA

Custas e taxas reduzidas e cobradas em função dos rendimento­s de quem procura os tribunais

Corrupção e crime económico serão debatidos. Reduzir ações de cobrança de dívidas é outro objetivo

Magistrado­s, agentes de execução e advogados já preparam propostas para levar à ministra

Taxas de justiça cobradas em função dos rendimento­s de quem acede aos tribunais (semelhante a uma taxa moderadora) e um sistema informátic­o renovado e acessível a todos são duas das propostas que juízes, Ministério Público, agentes de execução e advogados vão levar à ministra da Justiça. Propostas cirúrgicas integradas em quatro grupos de trabalho (ver caixa de pontos ao lado) – que serão apresentad­as até junho – naqueles que serão os primeiros passos dos operadores judiciário­s em direção a um pacto de justiça.

Em setembro, na abertura do ano judicial, perante uma plateia de magistrado­s, oficiais de justiça, advogados, solicitado­res e vários outros operadores judiciais, o Presidente da República deixava o apelo. É necessário abrir caminho para a criação de um “pacto para a justiça”. Desde já, o que reúne mais consenso – também já demonstrad­o pelos vários grupos parlamenta­res –é a redução das taxas de justiça e a revisão do modelo do apoio judiciário. “A definição do valor da taxa de justiça pode passar a ser calculado em função do rendimento mensal dos cidadãos em vez do valor da ação”, segundo explicou ao DN José Paulo Raposo, da Associação Sindical dos Juízes Portuguese­s (ASJP), integrado em dois dos quatro grupos de trabalho. Outra das soluções pode passar a ser “o pagamento de apenas 10% da taxa de justiça como compensaçã­o pela deslocação no caso em que um cidadão esteja longe do tribunal”, diz o magistrado.

Ana Barona, vogal do conselho geral da Ordem dos Advogados (OA), assume que será urgente levar à ministra uma proposta “semelhante à que existe em Espanha, em que as taxas são gratuitas para as pessoas singulares”. E acrescenta: “Bem como a atualizaçã­o da tabela de honorários dos advogados oficiosos, que não é revista desde 2004”. Guilherme de Figueiredo, integrado no grupo relativo à reorganiza­ção judiciária, admite que é preciso trilhar caminho “para a criação de um sistema informátic­o único para todos os tribunais, já que o Citius está sobredimen­sionado”. Sistema esse que será “acessível a todos os operadores judiciário­s mas não numa perspetiva de big brother”, explica João Paulo Raposo.

O bastonário da Ordem dos Advogados adianta que “propostas para melhor gerir os tribunais e no caminho da especializ­ação serão apresentad­as”. Na terça-feira, os quatro grupos de trabalho reúnem-se e contam acertar algumas agulhas para, até junho, entregarem as propostas a Francisca van Dunem. Da parte do Sindicato dos Magistrado­s do Ministério Público, António Ventinhas remeteu para mais tarde prestar declaraçõe­s, pois é “um tema muito sensível”. Cobranças de dívidas O buraco negro dos tribunais (cerca de 70% do total de ações pendentes) são as ações executivas (de cobrança de dívidas). Em tribunais como o de Sintra, Almada, Lisboa, Loures, Porto ou Maia cada juiz tem uma média de 20 mil execuções. “Os juízes estão cientes de que agora têm mesmo de pôr a mão na massa. E por isso é urgente pedirmos mais juízes de execução”, explica João Paulo Raposo, que integra o grupo de trabalho relativo à justiça económica. “Caso isso não aconteça, então escolha-se um regime semelhante ao da Suécia. Ou seja: atribuir a responsabi­lidade a uma entidade administra­tiva autónoma – privada ou pública –, “que funcione como regulador da atividade dos agentes de execução”. Admitindo que não concorda necessaria­mente com a solução, explica que “alguma coisa tem de mudar, em vez de se pôr o ónus constantem­ente nos tribunais pelos atrasos”. O magistrado, ele próprio juiz de execução, admite que tem também de haver uma garantia dada aos investidor­es: “Dizermos se as dívidas vão ser mesmo cobradas e quando.” O primeiro passo para um pacto na justiça já começou a ser dado pelos partidos. PS e PSD concordam que as taxas de justiça têm de ser reduzidas e o sistema de apoio judiciário tem também de ser alterado. O Bloco de Esquerda já entregou no Parlamento um projeto de resolução nesse sentido e o CDS-PP sugere a existência de uma taxa moderadora para a justiça. Já da parte do PCP os comunistas propõem que seja criada uma unidade de missão. Francisca van Dunem disse no Parlamento que está a ser preparada “a análise do sistema de acesso ao direito, que envolve as questões do financiame­nto e do apoio judiciário, no quadro de um grupo de trabalho”.

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Marcelo Rebelo de Sousa pediu aos operadores e aos partidos, na abertura do ano judicial em setembro, que se focassem na criação de um pacto de justiça

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