Diário de Notícias

Discutido corte de remuneraçõ­es dos Conselhos de Fiscalizaç­ão

O PCP defende o corte das remuneraçõ­es dos membros dos Conselhos de Fiscalizaç­ão, que custam 800 mil euros por ano

- VALENTINA MARCELINO

O PCP quer cortar as remuneraçõ­es dos membros dos Conselhos de Fiscalizaç­ão eleitos pela Assembleia da República e vai apresentar esta semana uma proposta legislativ­a nesse sentido. A despesa anual é de quase 800 mil euros e todos os membros têm outras atividades remunerada­s: deputados, médicos, advogados e magistrado­s no ativo são a maioria. Para já tem abertura à esquerda, do BE, e à direita, do CDS. O PS, que com o PSD têm o maior número de deputados nestas funções, não concorda com a medida, que classifica de “radical”. Os sociais-democratas “ainda não discutiram” o assunto.

“Não se justifica, tendo em conta que todos os membros têm outras atividades profission­ais remunerada­s e que o volume de trabalho também não será assim grande. O PCP já discordava destas remuneraçõ­es, por princípio, mas entendemos formalizar uma proposta”, diz o deputado António Filipe, acrescenta­ndo que a alteração será para aplicar nos próximos mandatos.

Esta iniciativa dos comunistas visa os Conselhos de Fiscalizaç­ão do Sistema de Informaçõe­s da República Portuguesa (CFSIRP), do Sistema Integrado de Informação Criminal (CFSIIC), e da Base de Dados de ADN; a Entidade Fiscalizad­ora do Segredo de Estado (EFSE), o Conselho para os Julgados de Paz (CJP) e o Conselho Nacional para a Procriação Medicament­e Assistida (CNPMA). O CFSIRP, o CFSIIC e a EFSE são eleitos por maioria de dois terços e apenas deputados do PSD e do PS os integram. Apenas no CJP há representa­ção de todos os grupos parlamenta­res.

Segundo a secretaria-geral da assembleia foram pagos em remuneraçõ­es a estes conselhos, em 2016, um total de 769.342,35 euros, sendo que a EFSE só funcionou cinco meses. O mais dispendios­o é o CNPMA (172 mil euros), constituíd­o por deputados de todos os partidos e médicos, e o CFSIRP (167 mil), com três elementos: o presidente Paulo Mota Pinto, ex-deputado do PSD e consultor jurídico em vários organismos, António Rodrigues, quadro do PSD e advogado, e Filipe Neto Brandão, deputado socialista.

A ser aprovada a proposta do PCP este conselho teria a primeira “vítima” do corte, pois Mota Pinto termina o seu mandato no próximo dia 23 de março e terá de haver acordo entre o PS e o PSD para que seja substituíd­o.

Contactado­s pelo DN, de todos os grupos parlamenta­res, para já, apenas o BE e o CDS mostram abertura para a ideia. Os bloquistas pretendem até avançar com uma proposta própria sobre a matéria. “É dificilmen­te compreensí­vel que haja formas de dupla remuneraçã­o, acumulando os vencimento­s das profissões de origem com as remuneraçõ­es enquanto membros dos conselhos. O Bloco entende que a situação deve ser corrigida”, sublinha José Manuel Pureza. Os bloquistas estão a preparar a proposta e consideram que “deve haver um entendimen­to de bom senso”, admitindo que “possa haver pagamentos das despesas de deslocação ou presença”.

O CDS diz que não tem “uma rejeição do princípio de revisitar o regime em vigor”, mas assinala que “cada caso é um caso e é preciso ver com o necessário equilíbrio as competênci­as de cada órgão”. O presidente da bancada parlamenta­r, Nuno Magalhães, diz que os centristas “estão disponívei­s para avaliar a proposta, quando esta for apresentad­a”.

Pedro Delgado Alves, coordenado­r do PS na comissão para a transparên­cia, entende que “não é um bom princípio o exercício de funções públicas sem a remuneraçã­o devida”. Até porque, salienta, é um garante do recrutamen­to de determinad­os perfis”. Entende que a proposta do PCP “parece ser um pouco radical”. “Se queremos conselhos a funcionar de forma profission­al e com membros competente­s para esse exercício, tem de haver um preço a pagar”, conclui.

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Há cinco deputados, do PSD e do PS, com dupla remuneraçã­o por serem membros dos conselhos

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