Diocese fala em atitudes “muito graves”. João Maria diz que é por ser homossexual
A decisão da diocese de Coimbra de afastar o maestro que dirigia o coro na igreja em Castanheira de Pera (Leiria) – e que tinha revelado no ano passado ser homossexual – está a levar os fiéis a defenderem que “mais vale fechar a igreja”. Ontem, ouviram-se, uma vez mais, críticas à decisão por parte de alguns dos habitantes da vila, que tem vivido momentos de agitação, durante e após as celebrações dominicais, na igreja matriz, desde que o maestro João Cláudio Maria, que dirigia o coro há seis anos, foi demitido, em fevereiro.
O jovem de 21 anos fala em afastamento por parte do conselho económico da Igreja devido à sua orientação sexual. Já a diocese diz existir “desrespeito” e “desobediência” ao padre da paróquia, José Carvalho.
Há três semanas que o coro se recusa a cantar na missa, vestindo-se de preto, com uma fita branca no braço. Também há três semanas que o padre da igreja de Castanheira de Pera não está nas celebrações.
Ontem, no final da missa, com presença da GNR no largo da igreja, vários paroquianos protestaram contra a decisão da diocese. “Mais vale fechar a porta da capela se o coro não canta”, disse à Lusa Maria de Lurdes Cruz, 67 anos.
A missa foi presidida pelo vigário-geral da diocese de Coimbra, Pedro Miranda. Numa comunicação aos fiéis, recordou que a 2 de janeiro uma exposição assinada pelo padre e pelo conselho económico deu conta de um “comportamento persistente de desobediência, rebeldia e falta de respeito” por parte do diretor do coro para com o pároco. O comportamento culminou em atitudes “muito graves”, em dezembro, em que o maestro terá excedido “todos os limites do que é tolerável”. Na altura, a 24 de dezembro, o coro cantou à revelia das ordens do padre. Pedro Miranda realçou que foi essa a razão da demissão de João Cláudio das suas funções, que “continuou com o coro em funções, mesmo que desautorizado”.
Já o maestro entendeu a comunicação como um “linchamento público” e uma afronta à sua honra e dignidade. “Não tenho dúvida de que é por causa da minha orientação sexual”, disse, recordando que “as implicâncias” começaram no início do ano passado, quando passou a assumir a sua relação com um jovem da vila.
Referiu que em fevereiro tentou uma conciliação, tendo acordado endereçar um pedido de desculpas. Mas, passados alguns dias, o padre recusou o pedido, dizendo que “não havia nada a fazer”. João Maria acredita que, por trás de toda a situação, não está o padre, mas sim o conselho económico.
Segundo o antigo diretor do coro, até agora só foi “acusado” pela diocese, sem ter tido a oportunidade de ser ouvido, mas promete que, um dia, a Igreja terá de o ouvir e que o coro continuará o seu protesto, aos domingos. LUSA