Estrangeiros já são 40% dos escritores que vão à Madeira
O Festival Literário da Madeira pretende internacionalizar-se rapidamente. A 7.ª edição começa amanhã com Svetlana Alexievich
JOÃO CÉU E SILVA Quando o responsável pelo Festival Literário da Madeira anunciou no fim do evento do ano passado que a estrela da 7.ª edição, que tem início amanhã, seria a prémio Nobel da Literatura de 2015, Svetlana Alexievich, poucos acreditaram que fosse possível o cumprimento da promessa. No entanto, assim é e a abertura do festival será protagonizada pela escritora ucraniana, pois, como recorda Francesco Valentini, Svetlana Alexievich comprometera-se com a ida ao Funchal neste ano e “honrou a sua palavra”.
Segundo Valentini, o Festival da Madeira tem vindo a crescer todos os anos: “Principalmente, em termos de público, como se pôde comprovar com as salas quase sempre cheias no ano passado durante as várias mesas e espetáculos.” Também em termos de reconhecimento público o festival tem vindo a fazer-se notado, diz: “Em termos mediáticos, tem-lhe sido dada muita atenção tanto na comunicação social como na internet.” Quanto à sustentabilidade financeira da iniciativa, Valentini confirma que sem os apoios públicos seria impossível ser viabilizado: “A autossustentabilidade de um evento cultural que não se baseia no pagamento do bilhete, ainda mais numa ilha, é sempre muito complicada.” Daí que, explique, o “apoio das autoridades da Madeira seja fundamental para que tudo se concretize do melhor modo”.
Nos bastidores do Festival Literário da Madeira está também a sua editora, a Nova Delphi, que beneficia do período de notoriedade do livro na Madeira durante o festival. Tal como em anos anteriores, vai ser lançado um novo romance do escritor brasileiro Marcelino Freire durante o período do evento. Mas não fica por aí o benefício, como explica Valentini: “A editora tem picos de vendas de livros nos meses anteriores e posteriores no que respeita aos autores que vêm ao festival. É uma altura em que não se sente tanto o peso do isolamento em relação ao mercado e à distribuição do continente.”
Quanto ao critério dos convites para cada edição do Festival Literário da Madeira, o responsável explica que o principal é o da internacionalização do evento: “Neste ano, 40 por cento dos autores presentes são estrangeiros.” Mas não deixa de fazer notar que o primeiro critério da organização “é a qualidade literária e a possibilidade de fazer encontrar a literatura lusófona com outras do mundo”. Quanto ao guião do festival, ele resulta do tema: “Neste ano é Literatura e Web – Entre o Medo e a Liberdade; portanto cada convidado é uma peça para se compreender e analisar essa realidade. Um tema muito forte e que pode ser declinado sob várias formas.” Russo, inglês, português... O principal nome entre os convidados é Svetlana Alexievich. Nascida na Ucrânia em 1948, a jornalista e escritora recebeu o Nobel de Literatura de 2015 pela “sua escrita polifónica, monumento ao sofrimento e à coragem na nossa época”. Desde criança que gostava de escrever, tendo passado por vários registos – ensaios, contos e reportagens –, até se destacar no que é considerado a “novela coletiva”, uma técnica que une literatura e jornalismo. Depois de ter deixado a Bielorrússia em 2000, residiu em Paris, Gotemburgo e Berlim, até que em 2011 regressa a Minsk. A sua obra está bem traduzida em Portugal e a visita coincide com o lançamento de Rapazes de Zinco, A prémio Nobel Svetlana Alexievich tinha prometido ir ao Funchal no ano passado uma narrativa da negação por parte da União Soviética em relação às vítimas mortais da Guerra do Afeganistão, sendo o título uma metáfora para os caixões de zinco em que eram transportados os mortos.
Entre os estrangeiros, o destaque vai também para o norte-americano Adam Johnson, que tem traduzido em português o seu livro premiado com o Pulitzer de 2013, Vida Roubada. O escritor estará na sessão de encerramento, no sábado, numa conversa com Miguel Sousa Tavares. Imediatamente antes, será