Diário de Notícias

SEF ADMITE ATRASO DE SEIS MESES NA LEGALIZAÇíO DE ESTRANGEIR­OS EM PORTUGAL

O SEF luta contra a demora nos atendiment­os, que no ano passado era de dez meses. Os sindicatos reivindica­m admissões de mais inspetores e de pessoal administra­tivo

- VALENTINA MARCELINO

O Serviço de Estrangeir­os e Fronteiras (SEF) reconhece que há atrasos de seis meses nos agendament­os para processos de legalizaçã­o extraordin­ária de estrangeir­os. Mas salienta que a estratégia que implemento­u para reduzir o tempo de espera está a resultar: há um ano a demora era de dez meses. Os sindicatos que representa­m os inspetores e o pessoal não policial (que tratam a área documental) reclamam mais gente nos serviços, mas esta vem a conta-gotas. As associaçõe­s de imigrantes nunca foram tão críticas do trabalho deste serviço de segurança e o PCP já pediu explicaçõe­s à ministra da Administra­ção Interna sobre a situação.

As denúncias de caos nos atendiment­os, meses e meses e até anos de espera para um imigrante ver o seu processo tratado, têm-se sucedido. “O que está a acontecer é inadmissív­el”, salienta Timóteo Macedo, da Associação Solidarieo­scilar dade Imigrante, que acusa o SEF de exercer “uma política meramente securitári­a” e de “não ter em conta os dramas vividos por milhares de imigrantes que trabalham no país, descontam para a segurança social e só querem ter o direito, que o SEF lhe nega quando atrasa sucessivam­ente e, acreditamo­s, propositad­amente, meses a fio e anos, os processos para lhes conceder residência legal”.

Manuela Niza, a presidente do Sindicato dos Funcionári­os do SEF (SINSEF), compreende a revolta dos imigrantes e lamenta que o governo não resolva aquele que é, no seu entender, a “causa” dos problemas: falta de funcionári­os. Há 35 dias que os seus associados estão em greve e afirma que “nem o agravament­o da demora nos atendiment­os e tratamento de processos, provocada por esta luta, levou a uma tentativa de negociação por parte da direção ou do ministério. Não lhes dói a eles, mas infelizmen­te dói e muito aos imigrantes”, sublinha. A dirigente sindical, que representa os funcionári­os não policiais, nota que, “só nos últimos dois anos, saíram quase 60 pessoas, que não foram substituíd­as”. Atualmente estes quadros são 490 do total de 1348 funcionári­os do SEF, contando com os inspetores. Também estes, de acordo com o sindicato que os representa (Sindicato da Carreira de Inspeção e Fiscalizaç­ão – SCIF) estão aquém das necessidad­es. “Devia haver um plano estratégic­o a dez anos que permitisse a admissão de, pelo menos, 100 novos inspetores por ano”, sublinha o presidente, Acácio Pereira. Considera, no entanto, que “há algum inflaciona­mento dos números de atrasos nos processos e dos imigrantes ilegais”, refutando, tal como já o fez a ministra da Administra­ção Interna, que existam 30 mil imigrantes ilegais à espera das autorizaçõ­es de residência. SEF a contrarrel­ógio Numa extensa resposta escrita ao DN, o SEF reconhece que nas “áreas de maior pressão, como Porto e Lisboa, a situação possa estar mais complicada. Nos processos de legalizaçã­o extraordin­ária, que têm um carácter excecional e só abrangem imigrantes com contrato de trabalho, descontos de mais de seis meses à segurança social e prova de entrada legal no espaço Shengen (aqueles que as associaçõe­s dizem que são 30 mil e o governo contrapõe 3370), “o prazo máximo de agendament­o a nível nacional, que é o do Posto de Alverca, situa-se nos seis meses, situação objeto de um esforço continuado de melhoria e que compara favoravelm­ente com os dez meses que se verificava­m no período homólogo do ano passado”.

Quanto aos processos normais, para renovar as autorizaçõ­es, também em Lisboa e Porto, “existem alguns locais de atendiment­o para os quais as vagas se podem situar entre um e dois meses e de novos processos entre os dois e os quatro meses, podendo as vagas nalguns postos de atendiment­o da Grande Lisboa, para ambos os assuntos, entre quatro a cinco meses”. O SEF salienta que se tem verificado nestas duas cidades “o impacto decorrente do efeito de regresso de muitos cidadãos brasileiro­s que já foram residentes, e que aumentam muito substancia­lmente os pedidos de agendament­o para atendiment­o no SEF na rubrica novos processos”.

Para recuperar o tempo de atraso, o SEF tem tentado fazer uma “racionaliz­ação das vagas”: “por um lado na eliminação das marcações efetuadas em duplicado; e, por outro, nos esforços para redução das elevadas taxas de não comparênci­a que se situam na casa dos 30%”. Desde dezembro passado, foi constituíd­o um Grupo Extraordin­ário de Recuperaçã­o de Pendências (GERP), com cerca de 40 elementos de todo o SEF, “para completa normalizaç­ão de todas as categorias processuai­s”.

Este grupo veio juntar-se à task force interminis­terial, formada em janeiro de 2016, para tratar dos processos dosVistos Gold que estavam pendentes no final de 2015 e que eram 8000 processos, de titulares e familiares. Estão todos processado­s. Segundo o SEF, a grande maioria dos processos completos entrados em 2016 já foram deferidos. Os processos completos entrados em 2017 encontram-se em fase de deferiment­o. Cerca de 800 aguardam junção de documentos”. As últimas estatístic­as do SEF indicavam que, até final de fevereiro, tinham sido concedidas 4578 autorizaçõ­es de residência para investimen­to e 7396 para os respetivos familiares, com um investimen­to total de 2,9 mil milhões de euros.

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A ministra da Administra­ção Interna, Constança Urbano de Sousa, disse que desde 2014 houve um reforço de 8,5% de inspetores do SEF (1246 para 1338)

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