Diário de Notícias

Supervisão trava negócio suspeito de 93 milhões

Um dia antes do fecho das contas do terceiro trimestre de 2016, banco e Martifer criaram sociedade para comprar participaç­ão da Caixa Económica numa empresa de minas

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CARLOS RODRIGUES LIMA O Conselho de Supervisão da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) travou um negócio que o banco se preparava para fazer com a Martifer e que passava pela “limpeza” das contas do banco de uma participaç­ão de 19% na sociedade Almina SGPS, SA. Os primeiros passos chegaram a ser dados com a criação, a 29 de setembro de 2016, de uma sociedade veículo, a Vogais Dinâmicas, com um capital social de 50 mil euros e participad­a pelo próprio Montepio em 16%, que iria comprar os 19% avaliados em 93 milhões, mas perante as dúvidas levantadas pelo revisor oficial de contas, a KPMG, e o conselho de supervisão, o negócio não se concretizo­u.

Um indício claro de que tudo se preparava para concretiza­r a operação é a inscrição da Vogais Dinâmicas, SA como empresa participad­a no Relatório e Contas da CEMG relativo ao 3.º trimestre de 2016. Nas contas relativas até 30 de setembro, aquela sociedade surge já identifica­da como integrante do universo de empresas da CEMG, sendo que apenas foi criada a 29 de setembro.

De acordo com várias informaçõe­s recolhidas pelo DN, o negócio em causa passaria pela compra pela Vogais Dinâmicas de 19% da Almina SGPS, detidos pelo Montepio, após uma reestrutur­ação financeira do grupo Martifer. E seria o próprio banco a financiar a operação, a qual envolveria 93 milhões de euros, valor que terá sido dado pela Ernest&Young aos 19%, depois de um pedido de avaliação feito pela administra­ção do banco.

O que, ainda de acordo com informaçõe­s recolhidas pelo DN, representa­va uma mais-valia de 24 milhões, já que aquando da tomada da participaç­ão, esta terá sido avaliada em 69 milhões de euros. O revisor oficial de contas também terá, contudo, contestado a avaliação.

A confirmaçã­o de que tudo esteve mesmo para arrancar foi dada ao DN por Carlos Martins, um dos donos da Martifer: “O negócio foi estudado, mas não avançou.” “Neste momento, a I’m Mining é do grupo Martifer e o Montepio mantém os 19%”, disse ainda o gestor.

Só que um relatório do Departamen­to de Riscos Globais/Direção de Risco da CEMG, de 14 de outubro de 2016, a que o DN teve acesso, indicia que o negócio chegou a ser concretiza­do, já que é indicado o valor de 93 milhões de euros como tendo saído da exposição do banco à contrapart­e I’m Mining (antiga designação da Almina). Nas últimas semanas, o Conselho de Supervisão da CEMG ocupou grande parte do tempo de várias reuniões com a análise ao negócio.

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