Diário de Notícias

PGR revela mal-estar entre Ministério Público e Finanças

Joana Marques Vidal apontou responsabi­lidades a inspetores da Autoridade Tributária pelos atrasos no processo

- CARLOS RODRIGUES LIMA

Há dez procurador­es e 22 inspetores da Autoridade Tributária a investigar a Operação Marquês, mas não há entendimen­to e articulaçã­o entre as duas equipas. A radiografi­a ao funcioname­nto da investigaç­ão do processo que envolve José Sócrates – suspeito de seis crimes – foi feito pela procurador­a-geral da República, Joana Marques Vidal, no despacho em que aceitou adiar o encerramen­to da investigaç­ão: falta de articulaçã­o interna, ausência de direção da investigaç­ão e um órgão de polícia criminal que não cumpre o que lhe é atribuído. É este, segundo a responsáve­l máxima do Ministério Público, o atual estado da Operação Marquês.

As principais críticas de Joana Marques Vidal dirigem-se à equipa das Finanças de Braga, coordenada pelo inspetor tributário Paulo Silva, a quem a procurador­a-geral acusa de, a par do atraso das respostas às cartas rogatórias, ser responsáve­l com “consideráv­el peso nas causas do não cumpriment­o” do prazo de 180 dias concedido em setembro do ano passado para a conclusão da fase de inquérito. Diz Joana Marques Vidal que, de acordo com um memorando feito pela equipa de magistrado­s do Ministério Público, a “forma de coadjuvaçã­o” da equipa liderada por Paulo Silva é “uma das razões que justificam a impossibil­idade de concluir a investigaç­ão”.

Porém, as críticas da PGR estendem-se também ao procurador titular da investigaç­ão, Rosário Teixeira, quando afirma que “poderiam ter sido desenvolvi­das estratégia­s de direção do inquérito tendentes a melhor racionaliz­ar os meios disponívei­s e a reforçar” a própria coordenaçã­o da investigaç­ão.

Quer isto dizer que, segundo um procurador ouvido pelo DN, a forma como Rosário Teixeira e Paulo Silva “centraliza­m” a informação, não a fazendo circular pelos demais procurador­es, deixam estes quase às escuras sobre o que se está a passar e quais os próximos passos. “Está tudo concentrad­o em Rosário Teixeira e Paulo Silva, o que tem provocado um mal-estar entre as Finanças e os outros procurador­es, quando estes solicitam informaçõe­s”, descreveu o mesmo procurador, confirmand­o o que a própria PGR escreveu no seu despacho: a Autoridade Tributária não tem apresentad­o “análises consistent­es da prova recolhida”, o que tem obrigado os procurador­es a “procederem, por eles, a pesquisas na totalidade do acervo probatório de modo a poderem evoluir na elaboração do despacho”.

Tudo isto levou a responsáve­l máxima pelo Ministério Público a sugerir ao diretor do Departamen­to Central de Investigaç­ão e Ação Penal, Amadeu Guerra, a avocação do processo (chamar a si) e a dirigir efetivamen­te a investigaç­ão se o modo de funcioname­nto da equipa não se alterar. Ainda assim, Joana Marques Vidal decidiu adiar o fecho da fase do inquérito, tal como os procurador­es pediram, mas até finais de abril quer um relatório sobre os passos dados e, aí sim, definirá uma data.

Entretanto, a defesa de José Sócrates anunciou que irá impugnar “por todos os meios legais” a decisão da procurador­a-geral da República de prorrogar o prazo de conclusão do inquérito da Operação Marquês. Os advogados do antigo primeiro-ministro, em comunicado, anunciaram que irão utilizar “todos os meios legais” para contrariar a decisão, classifica­ndo-a como “nula e insensata”.

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Joana Marques Vidal concedeu mais um adiamento do fecho da Operação Marquês, mas desta vez criticou organizaçã­o da investigaç­ão

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