Diário de Notícias

Sete deputados advogados vão ter de se explicar

Em causa eventuais violações das incompatib­ilidades. BE insiste em Entidade para a Transparên­cia nos cargos públicos

- SUSETE FRANCISCO e MIGUEL MARUJO

Há sete deputados advogados – incluindo o líder parlamenta­r do PSD, Luís Montenegro – que vão ter de se explicar junto da subcomissã­o parlamenta­r de Ética por eventuais violações do Estatuto dos Deputados.

Em causa estão parlamenta­res que detêm mais de 10% do capital de empresas que beneficiar­am de adjudicaçõ­es de entidades públicas, o que estarão impedidos por lei, segundo avançou ontem o Jornal Económico.

Luís Montenegro afirmou-se, também ontem, “100% seguro” de que não incorre em “nenhum tipo de incompatib­ilidade ou impediment­o”. Falando no Parlamento, o líder social-democrata antecipou que entregaria ainda ontem à subcomissã­o parlamenta­r de Ética esclarecim­entos sobre a sua situação, mas até ao final da tarde a justificaç­ão de Montenegro ainda não tinha dado entrada.

O líder parlamenta­r social-democrata é, segundo a notícia de ontem, “proprietár­io de 50% do capital social” da sociedade de advogados Sousa Pinheiro & Montenegro, que de 2014 a 2017 “obteve seis contratos por ajuste direto de entidades públicas: quatro do município de Espinho (presidido por Joaquim Pinto Moreira, do PSD) e dois do município de Vagos (presidido por Silvério Regalado, do PSD), perfazendo um valor global de cerca de 188 mil euros”.

Antecipand­o-se às justificaç­ões, o presidente da subcomissã­o de Ética, Luís Marques Guedes, anunciou que foram pedidos esclarecim­entos aos sete deputados visados – José Luís Cruz (PS), FernandoVi­rgílio Macedo (PSD), o líder parlamenta­r do PSD, Luís Montenegro, Ricardo Bexiga (PS), Luís Moreira Testa (PS), Renato Sampaio (PS) e Paulo Rios de Oliveira (PSD). E há ainda o caso de um ex-deputado Guilherme Silva. As explicaçõe­s serão depois analisadas na comissão e alvo de um parecer para cada um dos casos.

Também o BE veio recordar que tem uma proposta há quase um ano na comissão eventual de transparên­cia. “Aquilo que tínhamos proposto já há quase um ano, que está na especialid­ade – a criação de uma Entidade para a Transparên­cia para fiscalizar património e rendimento­s, quer de políticos quer de altos cargos públicos –, é essencial e urgente”, defendeu o líder da bancada bloquista, Pedro Filipe Soares.

A acumulação entre as funções de deputado e o exercício da advocacia é já há muito um tema polémico na Assembleia da República. O Estatuto dos Deputados, refere, no artigo 21.º, que os deputados estão impedidos de “no exercício de atividade de comércio ou indústria, direta ou indiretame­nte, com o cônjuge não separado de pessoas e bens, por si ou entidade em que detenha participaç­ão relevante e designadam­ente superior a 10% do capital social, celebrar contratos com o Estado e outras pessoas coletivas de direito público, participar em concursos de fornecimen­to de bens ou serviços, empreitada­s ou concessões”.

A questão de eventuais incompatib­ilidades, que já foi levantada em anteriores legislatur­as, teve sempre uma leitura: a não existência de impediment­os. O entendimen­to do Parlamento tem sido o de que as sociedades de advogados não são atividade de comércio ou indústria. O facto de se tratar de serviços prestados às autarquias e não ao Estado central tem concorrido para a mesma conclusão.

O entendimen­to do Parlamento tem sido o de que sociedades de advogados não configuram atividade de comércio e indústria

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Luís Marques Guedes, presidente da subcomissã­o de Ética, quer explicaçõe­s dos deputados

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