ETA entrega armas até 8 de abril mas Madrid insiste na “dissolução”
Cinco anos após anúncio do fim da luta armada, organização terrorista basca vai revelar localização dos últimos esconderijos
SUSANA SALVADOR A organização terrorista basca ETA, que em outubro de 2011 anunciou o fim da luta armada, revelou ontem que vai proceder ao desarmamento total até 8 de abril, de forma unilateral. A localização dos últimos esconderijos de armas será transmitida às autoridades, com a ETA a querer um processo supervisionado por observadores estrangeiros. O governo espanhol reagiu insistindo na necessidade não só do desarmamento mas também na dissolução total do grupo terrorista.
“A ETA confiou-nos a responsabilidade do desarmamento do seu arsenal e, na tarde de 8 de abril, a ETA estará totalmente desarmada”, disse ao jornal francês Le Monde Jean-Noël Etcheverry, dirigente do movimento ecologista separatista Bizi!. Txetx, como é conhecido, foi um dos cinco detidos em dezembro quando participava numa ação de destruição de armas da organização terrorista. Na altura foram apreendidas 21 espingardas, 25 armas de cano curto e duas granadas, especulando-se então que isso representava 25% do arsenal existente.
Daí que este desarmamento seja visto como apenas simbólico, numa altura em que a organização está sem liderança e sem apoio. O último barómetro, revelado em dezembro, diz que só 47% dos inquiridos estavam de acordo com o reconhecimento do País Basco como nação (menos oito pontos percentuais do que há 11 anos), sendo que destes apenas 25% defendem duas nações distintas, enquanto 14% quer uma nação dentro do Estado espanhol.
“A posição do governo não mudou nada desde o início, em dezembro de 2011. O que a ETA tem de fazer é desarmar-se e dissolver-se e essa posição não mudou nada, nem um centímetro, em seis anos”, disse o ministro da Educação, Cultura e Desporto e porta-voz do executivo. Íñigo Méndez deVigo insistiu que o governo “não especula sobre vontades e desejos”, lembrando que a ETA ainda não entregou as armas. Só depois da dissolução do grupo é que o governo admite negociar a situação dos presos e a sua eventual transferência para prisões mais próximas do País Basco.
Já o lehendakari (líder do governo basco), Íñigo Urkullu, acredita que o anúncio é “credível”. Comprometendo-se a fazer “tudo o que esteja nas nossas mãos” para garantir que este vai em frente, pede aos governos espanhol e francês para que abram “canais de comunicação” com a ETA, de forma a facilitar o desarmamento “definitivo, unilateral, irreversível, completo e legal”.
Por seu lado, o secretário-geral do partido da esquerda abertzale Sortu, Arnaldo Otegi, disse que esta é “uma boa notícia”, acrescentando ter “a satisfação de poder dizer que a esquerda independentista tem estado a trabalhar para que a paz se consolide” no país. Otegi, ex-líder do ilegalizado Batasuna, a ala política da ETA, foi libertado há um ano, após cumprir seis anos e meio de prisão por tentar reconstruir o partido. Otegi pediu para que nem Madrid nem Paris ponham “entraves ao processo”, lembrando que até agora estiveram “empenhados” em impedir o desarmamento da ETA.
A secretária-geral do Partido Socialista basco, Idoia Mendia, considera que o anúncio já chega tarde. Contudo, disse esperar que seja feito “com plenas garantias, com segurança e com legalidade, para que as diferentes forças policiais possam ter o material e colocá-lo nas mãos da Justiça, de forma a contribuir para o esclarecimento de assassínios que ainda estejam por resolver”. Desde 1960, quando fez a sua primeira vítima, uma bebé de apenas 22 meses apanhada na explosão de uma bomba na estação de caminhos-de-ferro de Amara, em San Sebastian, a ETA matou 829 pessoas.