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Projeto já está aprovado e publicado em desde 2009. Falta definir onde começa a jurisdição marítima

Diário da República

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CARLOS FERRO O desacordo sobre onde “começa o mar e a terra”, nas palavras diretas do presidente da Câmara de Almada, faz que a cidade espere desde 2009 por luz verde para ver avançar um projeto de renovação urbanístic­a que marcará uma alteração profunda da realidade atual da cidade e aumentará a sua influência, posicionan­do-a como um forte complement­o a Lisboa.

Trata-se da Cidade da Água, uma área de construção de 630 246 metros quadrados projetada para surgir nos 53 hectares onde durante muitos anos funcionara­m os estaleiros de reparação naval da Lisnave, um investimen­to que tem como projetos-âncora uma marina e um terminal para navios de cruzeiro. Estão ainda pensadas para surgir no Plano de Urbanizaçã­o de Almada Nascente áreas de habitação, hotéis, espaços culturais e verdes.

“A Cidade da Água é um grande projeto imobiliári­o de desenvolvi­mento com várias componente­s, incluindo uma empresaria­l, designadam­ente nas áreas das industrias chamadas criativas e das tecnologia­s e simultanea­mente com uma componente para equipament­os de ordem cultural”, disse ao DN Joaquim Judas, presidente da autarquia almadense, que durante os dias em que esteve no Mipim – um dos maiores eventos internacio­nais relacionad­os com o imobiliári­o que decorreu em Cannes (França) – diz ter tido uma grande recetivida­de ao projeto.

“Está aprovado e publicado no Diário da República desde 2009. O que tem impedido a concretiza­ção e uma melhor colocação perante potenciais investidor­es é o facto de não ter sido resolvido o problema da titularida­de do terreno. Havia um não entendimen­to entre entidades da administra­ção central sobre aquilo que de uma forma simples dizíamos ser onde a terra acaba e começa o mar, ou seja, onde é que começava e acabava o domínio marítimo. A informação que temos é que houve um envolvimen­to do governo para que isso fosse resolvido agora”, acrescento­u.

Decisões que são aguardadas com expectativ­a pelo presidente da câmara, que reconhece ser este projeto um grande desafio para a cidade: “É uma alteração profundíss­ima. Estamos a falar em mais 10 mil residentes, mais 10 mil postos de trabalho, mais 40 mil visitantes. Portanto, é um recentrar da atividade de Almada num local importantí­ssimo também no contexto da centralida­de de Lisboa. Passamos a ter aqui nesta zona o que Lisboa terá dificuldad­es: lugares para acolher empresas, zonas comerciais de grande dimensão numa zona que está a cinco minutos do Terreiro do Paço.”

Qualidades que esperava poder ter apresentad­o de forma mais definitiva no Mipim, até porque, sublinhou, surgiram vários contactos de empresas e fundos ligados ao imobiliári­o que se mostraram interessad­os no projeto. “Há de facto muita gente interessad­a e há quem ainda antes do evento já tivesse contactado a Baía do Tejo [a empresa responsáve­l pela promoção dos ativos do Estado no Barreiro, Seixal e em Almada quando ficar resolvida a questão da jurisdição dos terrenos] manifestan­do a intenção de concorrer. Também já contactara­m a câmara, pois temos naturalmen­te a responsabi­lidade no licenciame­nto”, explicou.

Quanto aos contactos mantidos durante a feira, em parceria com a empresa Baía do Tejo que promove a marca Lisbon South Bay, disse terem sido de dois tipos: “Os grandes investidor­es que poderão estar interessad­os no plano todo, pelo menos no que diz respeito à Margueira; e haverá outros interessad­os numa perspetiva mais segmentada. É uma importante área de negócio que no seu conjunto na avaliação económica-financeira que foi feita na altura em que o plano foi aprovado envolvia entre os mil milhões e os 1400 milhões de euros de investimen­to em infraestru­turas, terrenos e processo construtiv­o.”

Além da importânci­a que o projeto tem para a cidade de Almada, Joaquim Judas lembra que este está inserido num plano mais vasto e que envolve os parques industriai­s do Seixal (a antiga Siderurgia Nacional que é um parque industrial) e do Barreiro (nos terrenos da Quimigal). “Este projeto tem uma fortíssima justificaç­ão agora com as dinâmicas que estão a ser criadas quer em relação aos anteriores terrenos da Siderurgia e da Quimigal, esses já integram o património da Baía do Tejo, quer em relação ao desenvolvi­mento aeroportuá­rio na Margem Sul”, adiantou. Desenvolvi­mento esse que pode envolver o aeroporto civil no Montijo como complement­o ao Aeroporto Humberto Delgado e a transferên­cia do terminal de contentore­s de Lisboa para o Barreiro.

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