Diário de Notícias

De “genial” a “genuíno” o segredo do... “paraquedis­ta”

Há mais de 13 anos no ar, Fernando Mendes não se assusta com a concorrênc­ia de Cristina Ferreira, que lhe ganhou na primeira semana. Afinal, o que é que o “gordo” tem?

- NUNO AZINHEIRA

“Uma vitória de pirro.” É assim que Herman José, que neste domingo comemora 62 anos, classifica os primeiros dias de vitória de Cristina Ferreira sobre Fernando Mendes. Na primeira semana de exibição, Apanha Se Puderes, a nova aposta da TVI para o horário das 19.00, tem vencido O Preço Certo, que desde 2002 é emitido diariament­e na RTP1.

O humorista esclarece que “nada” o move “contra Cristina Ferreira” e até acha que “foi uma boa aposta” da estação, mas “estas vitórias são um efeito-novidade que ainda vai durar alguns meses”. “Passado esse tempo, as pessoas vão voltar ao porto seguro. É como o açúcar, é viciante.”

O apresentad­or e humorista fala numa “reação química explosiva” que decorre da junção da “genial simplicida­de do formato e do enor- me talento do Fernando Mendes”.

A isso, aponta Herman, acresce a personalid­ade genuína de Fernando Mendes, 54 anos. “Ele é assim desde que acorda até que se deita. Não é desmontáve­l.” Uma opinião que Teresa Guilherme, amiga e recente adversária no horário, corrobora em absoluto. “Ele é genuinamen­te generoso. Não é por acaso que o Nico [Nicolau Breyner] gostava tanto dele”, afirma ao DN. A produtora adianta que Mendes “fica genuinamen­te interessad­o nas pessoas, naquela gente que o vai ver. Aquela reação não é plástica, é de carne e osso”.

Herman afina pelo mesmo diapasão. “Aquela plateia que todos os dias vai vê-lo é constituíd­a de gente de carne e osso. Aquele público é verdadeiro, vem mesmo dos sítios. Não tem nada que ver com o público que hoje está nos programas de televisão, que é sempre o mesmo, que salta do Goucha para a Júlia e depois para a Fátima, que é gente paga para fingir que está a gostar.”

O humorista, ele próprio vítima do poder das audiências de O Preço Certo, quando em 2008 deu nova vida, então na SIC, ao histórico A Roda da Sorte, diz que “no Preço Certo está tudo no seu lugar”. “A base do programa são os preços. É disso que aquelas pessoas falam na rua. Falam da promoção que conseguira­m no Pingo Doce, dizem que compraram uma varinha mágica muito jeitosinha em promoção. Não falam do novo filme do Woody Allen ou do prémio do Lobo Antunes”, afirma. Por isso, “não deixa de ser sintomátic­o que a Cristina Ferreira tenha arranjado um concurso onde lá estão os frigorífic­os e as tábuas de engomar”.

Para Teresa Guilherme, 61 anos, “O Preço Certo é um belíssimo formato, mas só um apresentad­or genial seria capaz de mantê-lo vivo durante tanto tempo”. “O programa é novo todos os dias. Todos os dias ele diz coisas diferentes, faz piadas novas, interage de forma diferente com o público, e é isso que o faz ser diferente de todos os outros”, diz a apresentad­ora.

Teresa, que no ano passado combateu no mesmo horário com Drop Money (“em 72 programas ganhámos quase 50”, afirma), diz-se “fãzona do Fernandinh­o”. “Ele tem todas as técnicas da comédia consigo e a cada momento ele usa essas ferramenta­s para construir uma graça espontânea.”

A apresentad­ora aponta um outro “pormenor muito importante”: “Ele é um vencedor num canal com poucas audiências. As pessoas vão à RTP1 para o ver. E depois vão à sua vida. Não quer dizer que não vejam o Telejornal, mas muitas escolhem outras coisas para ver. É ele que puxa pelo canal e não o canal que puxa por ele.”

“Ele não é imbatível, mas acabar com aquele programa pode demorar muito tempo”, sublinha a produtora, enaltecend­o o lado “trabalhado­r” do apresentad­or. “É um homem que não para. Farta-se de trabalhar, está sempre em contacto com as pessoas.”

Em 13 anos e meio no ar, Fernando Mendes já teve de combater a artilharia pesada da concorrênc­ia: a ficção portuguesa da TVI (Morangos com Açúcar, I Love It, Massa Fresca) e a brasileira da Globo, exibida na SIC. Mas também, além dos já citados Herman e Teresa, ainda outros nomes como a jornalista Conceição Lino (2009) ou, antes ainda, em 2007, o humorista Fernando Rocha, que conduziu A Ganhar É Que a Gente Se Entende.

“Ter o Fernando Mendes como concorrent­e é o maior pesadelo de qualquer apresentad­or”, reconhece ao DN Rocha, que durante este mês anda em digressão pelos Estados Unidos, com vários espetáculo­s para a comunidade portuguesa. Fernando Rocha não hesita em dizer que “o Nandinho é o maior”, e sintetiza a fórmula matemática com a adição de “profission­alismo, humildade, trabalho, camaradage­m, talento e 120 quilos”.

Estreado pela primeira vez em 1956 nos EUA, O Preço Certo já foi transmitid­o em mais de 30 países. Em Portugal, Carlos Cruz e Nicolau Breyner foram os primeiros apresentad­ores, na década de 1990, tendo o programa, produzido pela Fremantle-Media, regressado em 2002, com Jorge Gabriel, que passou o leme, um ano mais tarde, a Fernando Mendes.

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A 29 de setembro de 2003, Fernando Mendes tomou conta de O Preço Certo. E por lá continua...

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