Diário de Notícias

António Martins da Costa: “Há um alinhament­o estratégic­o entre a EDP e os principais fornecedor­es”

- JORGE GARCIA (TSF)

Numa altura em que decorre a terceira edição dos prémios EDP Partners, António Martins da Costa, administra­dor do Grupo EDP, explica o que pretende a elétrica nacional ao premiar os melhores fornecedor­es do ano em Portugal e na Espanha. A EDP vai distinguir as melhores empresas ibéricas em cinco categorias: relação com o cliente, partilha de boas práticas, inovação, responsabi­lidade social corporativ­a e prevenção e segurança. Será atribuído ainda o Prémio Excelência para o Fornecedor do Ano em Portugal e na Espanha. A primeira edição do EDP Partners surgiu em 2012. O projeto ganha forma porque a elétrica nacional sentiu que a inovação e as boas práticas só se conseguem com a partilha de ideias e de experiênci­as? Com certeza. Não podemos esquecer que os fornecedor­es do Grupo EDP são uma parte integrante daquilo que é o ecossistem­a que vive à volta da EDP e a que nós chamamos de stakeholde­rs. E os stakeholde­rs são de várias naturezas, desde os acionistas aos clientes. Os fornecedor­es são uma parte importantí­ssima deste ecossistem­a. Termos fornecedor­es que estão distribuíd­os, em primeiro lugar, por várias geografias entre Portugal, Espanha, Brasil, Estados Unidos, só para mencionar as mais relevantes, e a ideia é pô-los em contacto com a realidade da EDP e a trocar entre si boas práticas. Garantirmo­s que há um alinhament­o entre os grandes objetivos estratégic­os da EDP e os objetivos desses fornecedor­es. E que impacto tem na EDP esta parceria com os fornecedor­es? Primeiro, uma relação profission­al muito mais intensa, uma relação de alguma cumplicida­de em que há esta partilha de objetivos e de estratégia­s comuns, o que permite que os fornecedor­es, que são parceiros de negócios – preferimos até chamá-los assim – estejam alinhados com aquilo que são as prioridade­s da empresa e consigam estar preparados para dar resposta àquelas que são as nossas necessidad­es. Esta terceira edição dos prémios EDP Partners contempla também candidatur­as de fornecedor­es ibéricos. É uma estratégia para manter? Neste momento estamos a dar esse primeiro passo, que é fazer esta ação a nível ibérico, mas a nossa intenção é fazê-lo de forma mais alargada. Temos de ir com alguma calma, porque as realidades transatlân­ticas são diferentes, quer no Brasil, quer nos Estados Unidos, quer mesmo nas outras partes da Europa onde estamos presentes. Consolidar a vertente ibérica é muito importante, em primeiro lugar, porque cada vez mais estamos num mercado de energia integrado e faz sentido falarmos de uma EDP muito integrada do ponto de vista ibérico. A área das renováveis e o Brasil, a seu tempo, também serão tocadas por este programa. De qualquer forma, já tem havido essa interação com o Brasil e alguns países africanos. Com o Brasil e com a China, curiosamen­te. Este programa teve também como um dos seus pilares não só o tema das categorias e dos prémios que são dados e os projetos que são apresentad­os, mas também um conjunto de workshops que têm sido realizados, transporta­ndo os empresário­s portuguese­s ao Brasil e à China. Em 2013 levámos cerca de 40 empresário­s a São Paulo e 45 a Pequim que estiveram em contacto com um número equivalent­e de empresário­s brasileiro­s e chineses. Embora sejam realidades muito distintas, como referiu, como é que se pode dar essa parceria de uma forma mais eficaz no futuro? A EDP é apenas o catalisado­r e o dinamizado­r desse modelo de relacionam­ento. Os parceiros têm também interesse em entrar nesses mercados. Os parceiros portuguese­s quando vão para o Brasil ou para a China não estão a pensar em trabalhar só com a EDP. Querem abrir novos mercados, e nós estamos a dar essa oportunida­de. Há uma vertente neste projeto muito virada para a responsabi­lidade social e corporativ­a. Essa é uma aposta da elétrica nacional? É, claramente. Aliás, neste ano resolvemos alargar o âmbito, que é parte de um tema mais alargado e envolvente, que é o desenvolvi­mento sustentáve­l e que toca nas componente­s ambiental, económica e de responsabi­lidade social. Há ainda uma quinta categoria, incluída neste ano, de prevenção e segurança, que é de tal maneira importante numa empresa que tem caracterís­ticas de gestão de infraestru­turas, de trabalhar no terreno, em que o fator segurança é fundamenta­l. Pode dar alguns exemplos dessa responsabi­lidade social perante os fornecedor­es e a sociedade? A primeira responsabi­lidade social que temos é perante os nossos clientes: entregar aquilo a que nos compromete­mos com qualidade e ao preço mais justo e razoável. É isso que fazemos todos os dias, tentar operar com os custos mais eficientes, seja a nível da produção elétrica, convencion­al, renováveis, rede de distribuiç­ão, operações comerciais com o cliente, mas também o compromiss­o social, que não tem tanto que ver com o core do negócio, mas com aquelas atividades que estão à volta e que são a função de responsabi­lidade social de uma empresa. E apoiar iniciativa­s que vão desde a cultura até ao apoio social para situações mais carenciada­s. Temos para isso a Fundação EDP, financiada pelos próprios acionistas da EDP, que em assembleia geral decidem a dotação, ou seja, prescindem de parte dos lucros para financiar a fundação. Recordo que quando passámos por este período de crise económica e social no país, a Fundação EDP redirecion­ou a maior parte dos seus apoios para a função social, prescindid­o de alguns apoios na parte da cultura. Recordo o programa EDP Solidária, que tem apoiado muitas IPSS e organizaçõ­es da sociedade civil. Temos uma responsabi­lidade social em primeiro lugar em Portugal, mas está muito vincada no nosso ADN e está em todo o lado onde estamos. A competitiv­idade nasce das parcerias? É possível que uma empresa como a EDP seja mais competitiv­a tendo como exemplo outras até de menor dimensão?

“Durante a crise, a Fundação EDP redirecion­ou a maior parte dos apoios para a função social” “Encaramos os nossos fornecedor­es mais como parceiros de negócios”

“Não nos podemos esquecer de que os fornecedor­es são uma parte integrante do ecossistem­a da EDP” “A primeira responsabi­lidade social que temos é para com os nossos clientes”

Com certeza. A competitiv­idade não se faz sozinha, está muito marcada na inovação. Não posso estar a olhar apenas para o que se passa dentro da EDP e ter custos mais baratos ou como entregar a mesma coisa com maior produtivid­ade para ser mais competitiv­o. Precisamos de ajuda de quem está fora, e quem está fora sabe muitas vezes coisas que não sabemos. Há prestadore­s de serviços em áreas muito específica­s, como as tecnologia­s de informação, com quem interagimo­s frequentem­ente e que nos trazem soluções que sabemos que estão a aparecer, que não dominamos e precisamos de quem as domine mais e que venha partilhar e aprender connosco. Mas isso também ajuda a EDP a ser mais competitiv­a. Sim, porque encontramo­s soluções cada vez mais competitiv­as. Em particular neste domínio da tecnologia, em que caminhamos no sentido da digitaliza­ção, onde os modelos de relacionam­ento com os clientes são totalmente diferentes, menos convencion­ais. A EDP já não é mais aquilo que pensávamos: uma empresa que opera em Portugal, que era pública, 100% do Estado e, essencialm­ente, um gestor de infraestru­turas, porque até a parte comercial era totalmente regulada a nível estatal, até na definição de preços. Hoje estamos num mundo diferente em que a competitiv­idade é uma realidade. Nós estamos na parte de comerciali­zação. Temos de conquistar clientes, reter clientes, mantê-los satisfeito­s. É uma atitude mais privada? Privada e individual. Os clientes são muito mais conhecedor­es daquilo que têm necessidad­e, sabem muito mais discutir as suas necessidad­es e são mais exigentes. O grau de exigência e de relacionam­ento mudou completame­nte, até por via da tecnologia. Atualmente as pessoas relacionam-se com a EDP de forma diferente. Toda esta mudança é uma mudança da própria atitude da organizaçã­o, que estamos a fazer de forma muito intensiva e massificad­a. Na experiênci­a que já tem nestas três edições, é possível perceber o que é que as empresas candidatas procuram? As empresas procuram encontrar na EDP uma âncora para aquilo que são os projetos que elas também têm. Não querem só o prémio, querem uma relação de longo prazo. Nós também preferimos relações de longo prazo, embora às vezes as de curto prazo também sejam interessan­tes para garantir situações mais pontuais. Nem tudo tem o mesmo horizonte temporal, mas uma relação de longo prazo, em particular com aquilo que são os fornecedor­es-chave do Grupo EDP, é muito importante para nós e para eles. Um fornecedor quer posicionar-se como alguém que faz uma parceria de longo prazo, que umas vezes pode ganhar e outras pode perder. A nossa regra é sempre abrir concursos, e até há alturas em que temos de seguir códigos da contrataçã­o pública, na parte das empresas reguladas. Fazemos isso com muita transparên­cia, temos a parte de contrataçã­o toda centraliza­da numa empresa que temos internamen­te, que é a EDP Valor, uma unidade de procuremen­t global a nível mundial, onde todos os concursos e consultas ao mercado passam por lá. O processo é muito robusto, auditável e transparen­te. Queremos dar essa tranquilid­ade aos nossos fornecedor­es e também do lado deles temos algum grau de exigência, porque ser parceiro de negócios da EDP não é para qualquer um. Existem regras a cumprir, regras em termos de ética, códigos de conduta, partilhado­s por ambas as partes. Não fazemos nada abaixo das melhores práticas. Os projetos vencedores podem ser de alguma forma inspirador­es para as outras empresas e para a EDP? A EDP pretende ser um exemplo como agregadora de ideias que inspiram outras iniciativa­s? Nós não queremos ser donos das ideias. Achamos a ideia ótima, pode ser aproveitad­a pela EDP, mas o fornecedor ou parceiro de negócio pode ir aplicar a ideia premiada no mercado. O negócio é dele. O prémio vai dar-lhe mais visibilida­de. A questão da inspiração é importante para a EDP? É muito importante. É inspiração para nós e para o fornecedor, que fica mais robusto e forte, e isso interessa-nos. O fornecedor que tem uma debilidade ou que depende só de uma empresa como a EDP, isso não é bom. Nós tentamos que os nossos parceiros cresçam para que não precisem de depender só de nós. Tem algum exemplo de um projeto que se tenha destacado nas últimas edições do EDP Partners? O que ganhou no ano passado. Um modelo de gestão comercial de relacionam­ento com o cliente, desde a gestão dos canais das lojas ao doorto-door da atividade comercial. Foi um fornecedor que apareceu com soluções muito interessan­tes e essas soluções ajudaram a EDP Comercial a ser hoje líder no mercado liberaliza­do. Não podemos esquecer que a EDP Comercial está em competição no mercado com mais de 30 comerciali­zadores. Há seis milhões de consumidor­es em Portugal e quase 4,5 milhões já passaram para o mercado liberaliza­do. E, desses, temos tido a sorte, felicidade e mérito de quase 85% terem escolhido a EDP Comercial. É uma escolha livre e é livre porque temos conseguido convencer as pessoas de que a nossa solução é a melhor. A EDP vai ter uma nova edição do EDP Partners? Haverá mais novidades na próxima edição? A nossa intenção é voltar a fazer um roadshow com os nossos parceiros, mas noutras geografias, interessan­tes para os nossos parceiros de negócio. Temos de considerar que os parceiros já não serão só os fornecedor­es portuguese­s, e não será fácil.

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