Meticuloso e atento a tudo que rodeia uma seleção de topo, o australiano tem uma língua afiada e capaz de desfazer um opositor em segundos
na seleção nipónica, em especial na histórica vitória frente aos Springboks no Mundial 2015 –, Jones estabeleceu como objetivo ultrapassar os All Blacks como seleção n.º1 do mundo, igualando os seus parâmetros de intensidade.
Com um estilo peculiar, meticuloso e atento a tudo o que rodeia uma seleção de topo do râguebi mundial, o ex-talonador do Randwick, 57 anos, sem grande expressão como jogador, antigo professor e filho de um militar australiano e de uma japonesa que se conheceram quando as forças aliadas ocuparam Tóquio no final da II Guerra Mundial, é dotado de uma língua afiada “capaz de desfazer um opositor em segundos” nas palavras do seu antigo atleta Matt Burke.
Especialista em mind games – ainda esta semana, com ar angelical, desnudou a estratégia que a Ir- iria utilizar... – e genial a gerir e controlar os media que utiliza para os seus propósitos é, tal como José Mourinho, um mestre a proteger os atletas. Após a má exibição diante da Itália há três semanas, as afirmações de que a tática do adversário não fora râguebi e que os espectadores deveriam exigir o dinheiro dos bilhetes de volta fez esquecer o fraco desempenho e pôs toda a gente a falar da estratégia transalpina. E quando o problemático Dylan Hartley foi de novo expulso na liga inglesa, Jones veio publicamente atacar o seu capitão, centrando em si todas as críticas.
António Aguilar, selecionador nacional de sevens, conhece bem o australiano: “Num curso em Stellenbosch, no verão passado, e depois de várias atividades conjuntas, convidou-me para almoçar e disponibilizou-se para ser o meu tutor.” O técnico teve assim o privilégio de acompanhar, a seu convite, os trabalhos da Inglaterra na semana que antecedeu o início do Torneio das Seis Nações. “Abriu-me totalmente as portas sem esconder nada da preparação da sua equipa para os jogos que aí vinham.”
“É um treinador com grande nível de exigência e de duas faces. Dá muito poder aos adjuntos e jogadores, mas tem um truque: conduz os atletas a pensarem da mesma forma que ele e fá-los acreditar no que pretende. Fala muito com eles mas privilegia o contacto individual pois sabe que cada qual tem as suas características”, revela.
Os treinos são intensos e com bom ambiente. Faz apenas uma reunião de preparação em conjunto “em que diz pouco, colocando os jogadores-chave (Ford, Farrell, Haskell) a falarem do plano de jogo e ele limita-se a pequenos ajustes”. Como tudo nele tem um propósito esta é a maneira de testar se o plano por ele idealizado foi compreendido e interiorizado.
Descontente com o isolamento do excelente Centro de Alto Rendimento em Pennyhill Park, Jones já trouxe esta época duas vezes a sua seleção a Vilamoura. “Adora o Algarve, as condições proporcionadas e os jogadores podem desfrutar da marina. E ele delicia-se com o excelente peixe português que também a mulher, japonesa, adora”, acrescenta Aguilar, que pôde acompanhar os estágios.
Graças aos vastos recursos da federação inglesa, Jones dispõe de um staff técnico com mais de 30 elementos. Recentemente incluiu nele técnicos olímpicos de luta greco-romana (para a melhor forma de placar), um treinador de defesa do rugby league e uma sul-africana especialista em visão periférica. E até existe na estrutura um advogado que prepara os atletas mais problemáticos para citações disciplinares e as decorrentes entrevistas...