Esqueça a bruxa, vá à IBM em Haifa
Pode-se programar o Watson para responder se vale a pena investir em Portugal?” Oded Cohen nem hesita: “Claro.” E acrescenta que não tarda muito a que tanto a pergunta como a resposta sejam feitas em português. Para já, esta tecnologia que a IBM está a desenvolver em Haifa só funciona em inglês, mas outras cinco línguas serão em breve acrescentadas ao Watson, o megacomputador da IBM que se tornou popular ao disputar um concurso de cultura geral na TV americana em 2011 e ganhando um milhão de dólares.
A IBM tem em Israel o seu maior laboratório de pesquisa fora dos Estados Unidos. Fica numa colina sobranceira a Haifa, a cidade onde judeus e árabes melhor convivem, e acolhe uma multidão de geniais cientistas israelitas. À frente deles está Cohen, que aproveita a visita de um grupo de jornalistas a convite da Europe-Israel Press Association para mostrar as novidades em termos de investigação. Há projetos extraordinários, como o diagnóstico por computador do cancro da mama ou a cibersegurança das nossas contas bancárias. Mas a curiosidade é atraída por um chamado qualquer coisa como pró e contra. Não é bem como ir à bruxas, porém tem semelhanças.
Das dez perguntas predefinidas para o encontro com os jornalistas duas são logo escolhidas: “Têm os carros sem condutor futuro?” e“É a Wikipédia de confiança?”. No primeiro caso, suscitado pela compra da Mobileye pelos americanos da Intel, o pró ganha; no segundo também, com a voz do Watson (hoje na nuvem, não num local concreto) a responder que os editores da Wikipedia são sérios, os artigos mais extensos e complexos do que noutras enciclopédias e, citando um estudo, o vandalismo é corrigido quase de imediato. Como chega o Watson a estas conclusões? Milhões e milhões de livros, de jornais e outras fontes de dados digeridos pela inteligência artificial criada pela IBM, neste caso pela sua filial israelita, criada em 1972.
É fiável esta análise do Watson? Cohen garante que sim e que vai ajudar muita gente, dos mais afoitos aos cronicamente indecisos. Dizem os cientistas aqui em Haifa que uma pessoa toma em média 35 mil decisões por dia. Ora, não é para decidir se o café é cheio ou normal que a IBM está a trabalhar. A ideia é ajudar a fazer escolhas daquelas com consequências a longo prazo, como a compra de uma casa ou a mudança de emprego. O computador oferece-nos um aconselhamento técnico, que justifica de uma forma simples, quase como se fosse um tio muito sábio.
Pergunto ao vice-presidente da IBM se o Watson também pode responder se um político é competente para o cargo a que se candidata. Ri-se e responde que, em termos de voto, ainda antes de perguntar, a pessoa já se decidiu e só está à espera de que o computador concorde e lhe forneça os prós. Mas há áreas em que imagina o Watson a ser mesmo muito útil, como decidir para que universidade deve um filho ir.
“Esqueça isso da política. Pense antes num casal a discutir sobre o futuro do filho ou da filha. Cada um a dizer que tal escola é melhor. Se perguntarem a Watson os prós e contras e forem passear enquanto ele pensa, quando voltarem terão uma decisão. E o casamento aguentar-se-á talvez muitos anos”, afirma o cientista israelita, com um humor que muitos, sem preconceito, diriam ser o típico judaico. Bem, até nisso de servir para salvar casamentos a bruxa está ameaçada pela IBM de Haifa.