Diário de Notícias

Ele trabalha no grupo de modelação do clima, ela analisa dados do Rover Curiosity, que explora Marte. O casal pode voltar a Portugal

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Quando se conheceram na Universida­de de Aveiro, David e Slavka Carvalho não imaginavam que hoje estariam a trabalhar no mesmo edifício, apenas a um corredor um do outro, no Goddard Space Flight Center da NASA, em Maryland. Estamos a falar do “maior centro da NASA, do maior centro de investigaç­ão dos EUA e de um dos maiores do mundo em termos de ciências terrestres, planetária­s e espaciais”. E “lado a lado com os melhores cientistas, pessoas realmente fora de série, desde prémios Nobel a cientistas” que só conheciam do Discovery Science. Um ambiente “muito motivador” para o português, de 36 anos, e a eslovaca, de 37, que começaram a trabalhar nos EUA em janeiro de 2016.

Natural de Penafiel, David Carvalho, bilicencia­do pela UA, conheceu Slavka quando a eslovaca veio para Aveiro como investigad­ora no Departamen­to de Geociência­s da UA. Apaixonara­m-se, casaram e tiveram um filho. Quando terminou o doutoramen­to em Física, em 2014, o cientista confrontou-se com a falta de oportunida­des no país e concorreu a um emprego na NASA. “Quando recebi a notícia que tinha sido selecionad­o não hesitei.” A poucos meses de se mudarem para os EUA, surge uma oportunida­de para Slavka, precisamen­te no Goddard.

David Carvalho lembra-se bem do primeiro dia em que entrou no edifício. “Foi um impacto muito grande, desde logo porque o centro é fortemente policiado e o acesso ao mesmo é muito restrito.” Lá dentro “é impossível não ficar impression­ado com alguns edifícios quase do tamanho de hangares de aviões, com inúmeras antenas gigantesca­s”. Apesar de a construção do Goddard remontar aos anos 1950, no edifício onde trabalham é tudo muito high-tech, “cheio de ecrãs gigantesco­s em que são passadas imagens e animações fantástica­s da Terra e do sistema solar”.

Ele trabalha no “Global Modeling and Assimilati­on Office, que é o grupo de previsão/modelação meteorológ­ica e climática da NASA”. Investiga “tecnologia­s de instrument­ação meteorológ­ica de última geração a bordo de satélites”, simula “o impacto que estas tecnologia­s poderão ter na previsão do tempo e outros fenómenos meteorológ­icos”, gera “produtos para a comunidade científica como análises e reanálises” e obtém “uma estimativa do custo-benefício das tecnologia­s propostas.” Nos últimos meses, explica, o seu trabalho centra-se “na investigaç­ão de uma geração futura de cubesats (satélites de pequena dimensão) meteorológ­icos que a NASA tem em mente, simular como serão as suas medições e avaliar que impacto poderão ter quando assimilada­s no nosso modelo meteorológ­ico”.

Ela trabalha no “Planetary Environmen­ts Laboratory da NASA, mais propriamen­te na equipa do Sample Analysis at Mars, que é um conjunto de instrument­os a bordo do Rover Mars Science Laboratory em Marte, mais conhecido como Curiosity”. A equipa de Slavka está responsáve­l “pela análise dos dados medidos pelo SAM em Marte” e a eslovaca “centra-se na procura, na síntese e na análise de minerais terrestres que mostrem caracterís­ticas geoquímica­s análogas aos minerais analisados pelo SAM”. David confessa que os planos a longo prazo sempre foram voltar a Portugal, mas estes podem ter de ser alterados devido ao resultado das últimas eleições nos EUA. “A comunidade científica vive atualmente um clima de incerteza e apreensão muito grande nos EUA, em geral, e na NASA em particular, porque é sabido que a nova administra­ção pretende reduzir significat­ivamente o orçamento, principalm­ente para as ciências terrestres e do clima, em que eu trabalho”, revela David. Nos próximos meses será discutido o novo orçamento, mas “o panorama não é nada animador, especialme­nte para cientistas estrangeir­os.” Por isso, adianta, “se surgisse uma oportunida­de interessan­te” para os dois em Portugal, os planos podiam ser alterados.

Já Slavka confessa que, enquanto cientista, gostava de ficar na NASA para sempre, mas como mãe quer que o filho cresça perto dos seus. “Espero que um dia, depois desta experiênci­a fantástica na NASA, o nosso futuro passe outra vez por Portugal.”

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