Diário de Notícias

UTAO vai analisar subida da receita do ISP

Comissão de Orçamento solicita à unidade técnica estudo sobre razões para subida da receita com combustíve­is

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IMPOSTO Os deputados da comissão de Orçamento, Finanças e Modernizaç­ão Administra­tiva (COFMA) vão pedir aos serviços da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) um estudo sobre o aumento da receita com o imposto sobre os produtos petrolífer­os e energético­s (ISP) em 2016. O estudo, proposto por Duarte Pacheco, deputado do PSD, na reunião do passado dia 8, avançou com os votos favoráveis do CDS e dos sociais-democratas e com a abstenção dos socialista­s.

O pedido foi espoletado pela decisão do governo em acabar com a reavaliaçã­o trimestral do valor do ISP, uma revisão que visava mitigar o impacto das diferentes oscilações do preço do petróleo na carga fiscal final. Em fevereiro, o Ministério das Finanças divulgou uma nota dando conta de que o compromiss­o que assumiu previa apenas reavaliaçõ­es trimestrai­s “em maio, agosto e novembro de 2016”, pelo que já não haverá quaisquer revisões neste ano e nos próximos.

“O governo anunciou hoje [17 fevereiro] que revogava a descida do ISP. Todas as semanas o gasóleo e a gasolina estão mais caros e o governo devia descer o ISP para compensar as famílias, para garantir essa mesma neutralida­de, e o governo não está a cumprir a palavra que deu”, criticou na altura Pedro Mota Soares, do CDS. As mexidas de Mário Centeno no imposto sobre os produtos petrolífer­os inseriram-se na política de baixar o peso dos impostos diretos sobre famílias, compensand­o a redução com um maior peso nos impostos indiretos. Ao longo do ano passado, a receita com o imposto sobre os produtos petrolífer­os disparou 54%, ou seja, mais 1,142 milhões de euros do que o valor cobrado em 2015. E os deputados querem perceber qual o peso de cada alteração para esta subida.

Esta necessidad­e também ocorre porque uma parte do aumento da receita com o ISP em 2016 não resulta de receita nova, chegando antes de uma reformulaç­ão contabilís­tica que alterou a forma de registar as diferentes consignaçõ­es de que o ISP é alvo: até 2015, as verbas de ISP “reservadas” para Contribuiç­ão de Serviço Rodoviário ou para o Fundo Português do Carbono não surgiam contabiliz­adas como receita fiscal, o que passou a acontecer no ano passado.

“A UTAO deve realizar um estudo sobre o que teria sido a receita do ISP sem as reavaliaçõ­es, ou seja, o impacto destas no aumento da receita fiscal com este imposto e de qual teria sido o aumento da receita sem as reavaliaçõ­es”, explicou Duarte Pacheco, ao longo da reunião da COFMA que debateu o assunto. “Quando foi anunciado o aumento do ISP, o governo assumiu um compromiss­o de fazer a revisão trimestral, já que havia a expectativ­a de o preço dos combustíve­is descer. Mas neste ano o compromiss­o caiu”, recordou ainda.

Perante a proposta do PSD, socialista­s, comunistas e bloquistas reagiram apontando que não seria necessário recorrer à UTAO para ter acesso a dados desagregad­os sobre os fatores que alimentara­m a subida do ISP. “Os termos e a finalidade poderiam ser ultrapassa­dos através de uma pergunta ao governo. Há uma tentativa de usar a UTAO para um trabalho que poderá vir a ser politizado”, disse João Paulo Correia, do PS.

“Com o recurso à UTAO, esta comissão não fica dependente do governo para ter respostas, porque a verdade é que os prazos nem sempre são os mais adequados”, contrapôs Duarte Pacheco. “A Unidade presta apoio técnico, logo é essencial para fundamenta­r opiniões, e interpreta­r os dados é uma interpreta­ção política, não politizar a UTAO”, apontou João Almeida, do CDS. Segundo revelou Teresa Leal Coelho, na mesma reunião da comissão que preside, o coordenado­r da UTAO já tinha informado os serviços parlamenta­res de que um estudo neste sentido “demoraria cerca de 15 dias a estar concluído”, manifestan­do a disponibil­idade total dos técnicos do Parlamento para avançarem com o mesmo. F.P.C.

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