Diário de Notícias

“Não sou nada radical e acho que há espaço para todos. O alojamento local tem o seu papel. Temos de perceber o que atrai as pessoas”

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Incomportá­veis. É assim que Gonçalo Rebelo de Almeida qualifica o preço das casas nos grandes centros urbanos, especialme­nte em Lisboa. O CEO do grupo Vila Galé diz que a inflação no imobiliári­o é tão grande, que até quem compra para investir em alojamento local começa a ter dificuldad­es em rentabiliz­ar os negócios.

“Nós próprios já fizemos internamen­te as contas para os dois modelos de negócio, quer de hotel quer de alojamento local, e os valores hoje, para mim... Eu não compro mais nada a estes preços. Acho que os preços já excederam o limite do razoável”, afirmou em entrevista ao Dinheiro Vivo, durante a Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL).

No ano passado, nasceram em Portugal 13 mil novos alojamento­s de curta duração. Ao todo, os espaços para arrendamen­to turístico são já 38 563; dois terços fora das cidades. Mas é nos grandes centros urbanos que estes movimentos ganham maior destaque pela sua concentraç­ão. E se os arrendamen­tos tradiciona­is, por se tornarem mais escassos, estão mais caros, com a nova onda de reabilitaç­ão para receber turistas, o preço das casas para venda também está em alta. Em cidades como Lisboa e Porto a subida foi já de 30% face a 2014.

Um estudo da Associação da Hotelaria de Portugal mostra que desde a alteração legislativ­a de novembro de 2014 – que veio facilitar a legalizaçã­o e o registo de alojamento­s para turistas – o preço das casas aumentou entre 600 e 650 euros o metro quadrado nas zonas de maior procura. Lisboa, Porto e Algarve estão entre as regiões mais afetadas por este fenómeno, que fez passar os valores médios de venda de 2194 euros por metro quadrado em 2011 para 2784 euros neste ano.

“Em algumas cidades [o alojamento local] já é uma parte importante da oferta de camas, mas eu acho que estamos numa fase de estabiliza­ção porque, aliás, o preço do imobiliári­o tem de baixar. Está a atingir valores completame­nte incomportá­veis e eu acon-

Gonçalo Rebelo de Almeida lidera 21 hotéis em Portugal e sete no Brasil. Há outros cinco a caminho selho vivamente a quem compre apartament­os hoje em Lisboa ao preço a que eles estão a ter atenção... Para os rentabiliz­ar já tenho muitas dúvidas”, sublinhou o gestor.

Com vários projetos a andar, o grupo Vila Galé não prevê, para já, novos investimen­tos em hotelaria. No entanto, o programa Revive, no âmbito do qual venceu a concessão do Mosteiro de Elvas, continua em cima da mesa. “Estamos sempre a tempo de olhar para uma oportunida­de, mas neste momento estamos um bocadinho limitados.”

É que têm cinco projetos em mãos e todos para abrir portas neste ou no próximo ano. “Em Portugal estamos com o timing para abrir o segundo hotel do Porto em setembro ou outubro deste ano; Sintra em abril; Braga em maio e na serra da Estrela em outubro/ novembro do próximo ano. No Brasil também vem aí mais um resort grande em setembro/outubro do próximo ano. E depois Elvas que esperamos abrir em inícios de 2019”, adiantou o gestor.

Com o turismo a viver um bom momento em Portugal, o empresário estima que “o ciclo de 2015, 2016, 2017 deva superar o último ciclo positivo, em 2007-2008”. Com quatro anos negativos deixados para trás, o gestor lembra que “do ponto de vista da hotelaria as coisas estão a correr bem” e que por isso há espaço para vários tipos de concorrênc­ia.

“Não sou nada radical e acho que há espaço para todos. O alojamento local tem o seu papel. Em alguns sítios não existiam hotéis e por isso vieram colmatar uma lacuna de falta de alojamento. E outros vieram captar um público que prefere aquele tipo de alojamento”, diz o hoteleiro, sublinhand­o: “Enquanto hotéis temos é de perceber o que está a atrair as pessoas para o alojamento local em algumas situações em detrimento dos hotéis.”

Rebelo de Almeida, que gere 21 hotéis em Portugal e sete no Brasil, destaca que a escolha dos apartament­os para acolhiment­o de turistas não tem tanto que ver com o preço mas com a sua localizaçã­o, capacidade de reunir uma família inteira ou um grupo de amigos, e pelo fenómeno de moda que é “o mais passageiro”.

Além disso, dá resposta a uma série de pessoas que “abdicam completame­nte do serviço e que portanto não querem serviços adicionais: não precisam da limpeza dos quartos, de restauraçã­o e bebidas”.

LUCÍLIA TIAGO

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