Admite-se como forte a hipótese de que Vera Lynn 100 possa bater o seu próprio recorde de artista mais velha a conseguir chegar ao primeiro lugar do top de vendas
metido, um compositor clássico que torce o nariz à música “popular”… No ano seguinte, além de protagonizar mais dois filmes e Aconteceu
Vera desenvolveu a sua colaboração com o aparelho militar, apresentando-se em espectáculos para as tropas britânicas estacionadas na Índia, no Egito e na Birmânia. Curiosamente, no ano em que o pesadelo terminou (ficando as sequelas, claro),Vera Lynn estava ocupada noutra “batalha”, a da maternidade – a sua filha,Virginia Penelope Ann Lewis, nasceu a 10 de março de 1945.
No pós-guerra, a dama ainda prolongou uma carreira impressionante. Em 1952, com a canção AufWiederseh’n Sweetheart, tornou-se a primeira artista britânica a comandar o top de vendas nos Estados Unidos. Em 1954, o tema My Son, My Son, de que é coautora, valeu-lhe nova liderança na tabela britânica. Durante décadas – literalmente –, foi chamada como convidada especial para programas da BBC e para espetáculos patrocinados pela Família Real, que já a condecorou diversas vezes. Como a própria escreve em Some Sunny Day, a “reforma nunca foi uma opção levada a sério”, porque estava demasiado ocupada com as suas causas: foi presidente do fundo de pesquisa para o cancro da mama, criou uma fun- com o seu nome para participar na ajuda às crianças vítimas de paralisia cerebral. Pelo caminho, nunca abdicou de outras convicções, algo que deixou bem claro quando, em 2009, processou o British National Party, de extrema-direita, por incluir a sua canção White Cliffs Of Dover num disco anti-imigração.
Viúva desde 1998, depois de um casamento que durou mais de meio século (desde 1941), viveu sozinha até há pouco tempo, embora tendo a filha e o genro como vizinhos. Hoje, festeja mais uma vitória e, um pouco por toda a Grã-Bretanha, vai voltar a ouvir-se a sua voz, nas versões que assinou de As Time Goes By, When You Wish Upon a Star ou A Nightingale Sang in Berkeley Square (todas recuperadas em Vera Lynn 100), mas sobretudo nos êxitos que construiu de raiz. Fica desmentido o final apocalíptico traçado por Stanley Kubrick em Doutor Estranho Amor (1964), em que o ator Slim Pickens monta, como se de um rodeo se tratasse, uma bomba atómica que vai espalhando a destruição ao som de We’ll Meet Again e da voz de Vera Lynn. Kubrick e todos os atores principais do filme – Peter Sellers, George C. Scott, Sterling Hayden, Keenan Wynn e Pickens – morreram há muito. Só Vera ainda não se rendeu.