Diário de Notícias

Heróis anónimos dos 21,0975 quilómetro­s

LISBOA Corrida junta 35 mil pessoas e é a única oportunida­de para cruzar a ponte. Presidente da autarquia correu a minimarato­na

- LINA SANTOS

O som seco dos ténis no alcatrão e a respiração cansada dos corredores é a única banda sonora da Meia-Maratona de Lisboa a partir dos 18 quilómetro­s. Esse é aquele momento em que alguns trocam a corrida pela marcha, em que os grupos já se partiram, já não há cantores a animar o percurso. A meta está próxima, mas ainda faltam aqueles três mil e quase cem metros para vislumbrar o Mosteiro dos Jerónimos atrás da meta, na Praça do Império, e voltar a fazer aquela festa que se vive na ponte, quando 35 mil pessoas se acotovelam para a travessia.

A Meia-Maratona de Lisboa, que existe desde 1991, esgotou as inscrições mais uma vez eé a única oportunida­de do ano para atravessar a pé a Ponte 25 de abril, pouco menos de quatro quilómetro­s de percurso. Percebe-se, pois, a sugestão de um dos corredores para a sua companhia: “Aproveita a vista.” Há quem use o corredor lateral para tirar fotografia­s e até quem suba o separador central para ter melhor panorâmica do mar de T-shirts florescent­es, a maioria azul clara com risquinhas rosa – a cor oficial deste ano. Por esta altura, o ambiente (ainda) é distendido.

A 27.ª edição da Meia-Maratona de Lisboa tinha começado às 10.30 já com um sol de 14 graus (muitas camisolas de manga comprida ficaram para trás), depois de uma espera animada com música pop, filas para as casas de banho improvisad­as e braços no ar dizendo adeus ao helicópter­o da RTP.

Foi uma massa compacta de gente de todas as formas e feitios, incluindo um grupo de militares de boina, casacos de manga comprida e botas, e idade, incluindo crianças de carrinho empurradas pelos pais, que atravessou a 25 de Abril. Em Alcântara, o grupo divide-se. Para a esquerda, os que fazem a prova que dá nome ao evento. Para a direita, a minimarato­na de sete quilómetro­s, em que participou o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina.

Se há mais turistas em Lisboa, eles também estiveram na Meia-Maratona. Espanhóis, franceses, um grupo de alemães denunciado­s pelas T-shirts que aludiam a uma prova em Berlim, dinamarque­ses e holandeses com o nome do país estampado nas camisolas, brasileiro­s, checos (segundo a lista de classifica­ções) e pelo menos um casal de italianos foram algumas das nacionalid­ades que se viram e ouviram durante os 21,0975 quilómetro­s da meia maratona.

O calor fez-se notar durante toda a corrida, mas sobretudo a partir dos 13 quilómetro­s, passado o primeiro grande obstáculo psicológic­o: o momento em que os corredores deixam a meta para trás com quase metade da prova ainda pela frente. Foi nessa altura que as scooters dos paramédico­s mais se viram, socorrendo desmaios.

Carlos Móia, presidente do Maratona Clube de Portugal, admitiu que a temperatur­a acabou por ter influência nos resultados. “O tempo não é digno da Meia-Maratona de Lisboa. Esperava francament­e melhor, porque estiveram das melhores atletas do mundo aqui”, disse à Lusa, referindo-se aos resultados das atletas de elite. A prova foi ganha pela etíope Mare Dibaba (1:09:43) nas mulheres e pelo neozelandê­s Jake Robertson (01:00:01) nos homens (ver texto principal).

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Calor obrigou atletas a esforço suplementa­r

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