Diário de Notícias

Quotas para quê?

- PAULO TAVARES

ODN revela hoje as intenções do PS para reforçar o sistema de quotas – lugares reservados a jovens e mulheres – nas listas do partido às eleições autárquica­s. O objetivo passa por ultrapassa­r as exigências legais no que toca a candidatas e criar uma nova regra que aconselha as federações distritais a integrar jovens abaixo dos 35 anos, pelo menos 20%, nas listas a câmaras, assembleia­s municipais e juntas de freguesia.

Foquemo-nos na questão dos jovens, no arregiment­ar de uma nova geração para a vida partidária e para a coisa pública. Trata-se apenas de uma recomendaç­ão, aprovada pela Comissão Política Nacional, não impõe rigorosame­nte nada às estruturas regionais e locais, mas revela que está identifica­do um problema e que, no caso, os socialista­s estão a tentar resolvê-lo. O PS aqui serve apenas de pretexto. Esta não é uma questão exclusiva dos socialista­s. A política perdeu, há muito, o poder de sedução que teve em tempos e não é fácil encontrar uma receita para contrariar a tendência.

Entendo a tentação de impor ou sugerir quotas, mas o tema exige outras estratégia­s. Primeiro, seria necessário que os políticos no ativo parassem de dar razões para divórcio aos eleitores, a quem representa­m. Cumpram o que prometem. Debatam com os mínimos olímpicos de elevação. Discutam ideias e não pessoas ou casos. Assumam incompatib­ilidades. Evitem ligações menos claras. Falem claro. Não se entreguem ao populismo ou à demagogia. Um exemplo. Lateral, mas um exemplo. Na semana que passou, ficámos a conhecer – através de um jornal de referência – os rendimento­s e o património dos gestores da CGD que entregaram as declaraçõe­s no Tribunal Constituci­onal. Salários, carros e casas de pessoas que já nem sequer desempenha­m um cargo público. Entendemos melhor, agora, porque resistiram a entregar as declaraçõe­s?

O clima criado nos últimos anos, com contributo­s dedicados da política, da justiça e do jornalismo, é um repelente de valor e talento. É impossível que alguém, sem pensar muito bem, sem pesar rigorosame­nte prós e contras, aceite um cargo de nomeação política ou decida inscrever-se num partido. Com ou sem quotas, não vai ser fácil recuperar a imagem da política e atrair jovens.

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