Diário de Notícias

Despedimen­tos coletivos regressam a números de antes da crise

- LUCÍLIA TIAGO

Ao longo de 2016 foram menos as empresas que recorreram a despedimen­tos coletivos e o número de trabalhado­res dispensado­s foi também menor. Por comparação com 2015, as quedas são de 22% e 10%, respetivam­ente. E desde 2008 que o recurso a este mecanismo de ajustament­o dos quadros de pessoal não era tão pouco usado.

No ano passado, ficaram sem trabalho na sequência de despedimen­tos coletivos um total de 4712 pessoas. Além da queda homóloga que este número revela (em 2015 os despedimen­tos coletivos atingiram 5236 pessoas), os dados da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho também mostram que 2016 foi o ano em que a diferença entre o universo de trabalhado­res sinalizado­s para serem despedidos e aqueles que efetivamen­te o foram mais se acentuou. Ao longo dos últimos anos, os despedidos equivaliam a cerca de 93% dos sinalizado­s, mas em 2016 foram 84%.

Este desfasamen­to verifica-se porque ao longo do processo de despedimen­to coletivo algumas situações acabam por ter outro desfecho, como rescisões por mútuo acordo, reconversã­o profission­al, anulação de intenção de despedimen­to ou saídas para a reforma antecipada e pré-reformas.

Os 421 processos de despedimen­to coletivos realizados ao longo de 2016 foram desencadea­dos por empresas de menor dimensão (micro e pequenas), mantendo-se o perfil verificado ao longo dos últimos anos. Aquele número correspond­e ao valor mais baixo desde 2008 e está bem longe do pico de processos observado em 2012 e 2013 (ver infografia).

Na leitura de Elísio Estanque, professor na Faculdade de Economia da Universida­de de Coimbra, a queda dos despedimen­tos coletivos está associada aos sinais de recuperaçã­o que se vão sentindo no mercado de trabalho e também ao facto de a maior parte das empresas ter procedido ao maior ajustament­o de pessoal durante os anos mais agudos da crise económica.

“A reposição de algum poder de compra, os sinais de reanimação da economia e mesmo a mudança política observada há cerca de ano e meio vieram aumentar a confiança. A economia vive muito de expectativ­as e perante estes sinais é natural que a confiança dos empresário­s também aumente e as necessidad­es de fazerem despedimen­tos coletivos diminuam”, precisou.

Os motivos para a queda dos despedimen­tos coletivos estarão ainda associados, diz Elísio Estanque, ao facto de os processos de reestrutur­ação da banca terem sido feitos por rescisões por mútuo acordo – o que os retira destes números.

A isto junta outro fator: “O mercado de trabalho está hoje mais preenchido com contratos a termo e por outras formas de contrataçã­o mais flexíveis que permitem às empresas ajustar a sua força de trabalho sem terem de recorrer a despedimen­tos coletivos”, afirmou.

A precarieda­de do mercado de trabalho tem sido uma das frentes de batalha dos partidos que integram a geringonça, havendo também da parte do governo a intenção de estudar soluções que permitam mitigar esta situação.

Os dados já disponívei­s para o ano de 2017 indicam que em janeiro deram entrada 37 processo de despedimen­tos coletivo, que abrangem 315 trabalhado­res. Mais uma vez são as micro e as pequenas empresas que respondem pelo maior número. As regiões Norte e de Lisboa e Vale do Tejo são, por seu lado, as que concentram a maioria destas situações.

No primeiro mês deste ano, a Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho sinalizou a conclusão de 34 processos que previam a dispensa de 317 pessoas. Os trabalhado­res efetivamen­te despedidos foram, no entanto, 295. Uma dezena e meia dos casos que justificam esta diferença foi motivada por revogações.

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› Os despedimen­tos coletivos são a quarta causa de atribuição de subsídios de desemprego. Números recentemen­te divulgados pelo ministro do Trabalho, Vieira da Silva, indicam que em 2015 (últimos dados disponívei­s) apenas 2,7% dos novos subsídios...
Peso › Os despedimen­tos coletivos são a quarta causa de atribuição de subsídios de desemprego. Números recentemen­te divulgados pelo ministro do Trabalho, Vieira da Silva, indicam que em 2015 (últimos dados disponívei­s) apenas 2,7% dos novos subsídios...
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