“O ideal é ler a Bíblia no original e não na tradução”
› Nasce em Lisboa em 1963. › Licenciado em Línguas e Literaturas Clássicas e doutorado em Literatura Grega. › Ensaísta, tradutor, ficcionista e poeta. › Após os dois primeiros volumes, seguir-se-á o próximo após o verão: Antigo Testamento: os Livros Proféticos. Os restantes conterão a tradução de os Livros Sapienciais, os Livros Históricos e os Livros da Lei. realidades. Os historiadores e os linguistas não fazem a mesma leitura da Bíblia que farão os teólogos católicos e protestantes. Tudo isso é normal. O que achou da acusação de ter criado suspeição sobre as outras bíblias? Nunca fiz isso. Aliás, sempre elogiei uma excelente tradução que existe em português, a chamada Bíblia dos Capuchinhos. Contudo, é uma tradução católica da Bíblia; a minha tradução privilegia outra abordagem e informações mais de índole histórica e linguística. Haverá outras traduções da Bíblia com que não concordo por motivos estritamente académico-universitários, mas nunca falei delas. O lançamento do primeiro volume da Bíblia transformou-se no acontecimento editorial do ano. A que se deve? Só a própria editora o poderá comentar, porque não sei medir o que é normal neste contexto. Fiquei satisfeito pelo acolhimento e agora é continuar com calma até ao fim. Teve alguma surpresa ou percalço na tradução deste segundo volume? O trabalho foi começado com muita antecedência, tanto assim que o segundo volume já tinha sido entregue quando saiu o primeiro. Até agora não aconteceu nenhum percalço: está a correr tudo bem e dentro do cronograma. Como surpresa, houve textos que eu não conhecia tão bem e que, graças ao ato de os traduzir, passei a compreender e apreciar de outra forma. Pode dar um exemplo? Um bom exemplo são as Epístolas de Paulo, apóstolo de quem eu nem era muito simpatizante. Agora o texto de Paulo é aquele a que mais volto. É um texto fascinante do ponto de vista espiritual, intelectual e filosófico. Esta tradução é para o grande público. Isso obriga-o a facilitar um pouco? Não facilito rigorosamente nada. A única facilidade foi a opção de transliterar as palavras gregas e, no caso do Antigo Testamento, as hebraicas, porque não coloco nada em carateres gregos ou hebraicos. De resto, fiz tudo com o rigor de um trabalho académico, que é como considero que devo agir, enquanto professor universitário que sou. Esta tradução destina-se apenas a um leitor religioso? Não pensei este trabalho para pessoas religiosas, nem o contrário, mas sim para quem tem curiosidade em obter informações sobre a Bíblia, despojadas de doutrina e de dogma, que provavelmente não encontraria noutras traduções.