Diário de Notícias

Em alerta severo há três anos, Reino Unido recusa “ceder ao terror” após novo ataque

Atacante foi morto a tiro depois de atropelar 40 pessoas (três delas morreram) e esfaquear mortalment­e um polícia ao tentar entrar no Parlamento

- SUSANA SALVADOR

Desde os ataques de 7 julho de 2005 contra os transporte­s londrinos, que fizeram 56 mortos, só tinha havido uma outra vítima mortal ligada ao terrorismo islâmico no Reino Unido: o soldado Lee Rigby, assassinad­o em plena rua no Sudeste de Londres a 22 de maio de 2013. Até ontem. O terror voltou ao centro da capital britânica, quando cerca de 40 pessoas foram atropelada­s por um carro na Ponte de Westminste­r (três acabariam por morrer) antes de o condutor matar à facada um polícia na tentativa de entrar no Parlamento, sendo contudo abatido a tiro. Um ataque que tem semelhança­s com outros na Europa inspirados pelo Estado Islâmico.

Em dezembro, Alex Younger, o líder do MI6, descreveu como “sem precedente­s” a ameaça que representa­m grupos como o Estado Islâmico ou os seus simpatizan­tes no Reino Unido. Desde agosto de 2014 que o nível de alerta tem estado no “severo”, o segundo mais elevado, que avisa que é altamente provável que haja um atentado. Mas desde os atentados de 7 de julho de 2005, perpetrado­s por quatro bombistas suicidas, só tinha havido uma vítima mortal atribuída ao terrorismo islâmico. Outros ataques não tiveram sucesso, como o de 30 de junho de 2007, quando dois homens conduziram um jipe carregado de bilhas de gás contra o terminal do aeroporto de Glasgow, na Escócia. Um dos suicidas acabaria por morrer, devido às queimadura­s, sem fazer mais vítimas.

Entretanto, dezenas de ataques foram travados – ainda há dias o comissário Mark Rowley da Polícia Metropolit­ana revelava que, desde 2013, tinham sido parados 13 potenciais ataques. Uma das razões para o aparente sucesso da polícia foi o facto de a tradiciona­l rivalidade entre agências ter sido ultrapassa­da, com maior coordenaçã­o entre MI5, MI6 e o GCHQ, responsáve­l pela vigilância das comunicaçõ­es. Além disso, houve mais recrutamen­to de agentes.

Ontem, o ataque começou quando um carro atropelou dezenas de pessoas que seguiam no passeio na Ponte de Westminste­r – uma das vítimas saltou mesmo para o rio Tamisa para tentar escapar. Depois, o atacante atirou o carro contra o gradeament­o do Parlamento, antes de tentar entrar, esfaqueand­o um agente desarmado pelo caminho. Outros polícias abateram-no já nos jardins no interior de Westminste­r. Pelo menos 40 pessoas ficaram feridas, entre as quais um português, havendo pelo menos oito em estado considerad­o grave. O uso de um veículo e de uma arma remete para atentados semelhante­s em Nice (86 mortos, a 14 de julho de 2016) e Berlim (12 mortos, a 19 de dezembro de 2016), reivindica­dos pelo Estado Islâmico.

Depois de uma foto do atacante ferido ter sido revelada pela agência Associated Press, este foi identifica­do como sendo Abu Izzadeen, um velho conhecido das autoridade­s pelas ligações ao terrorismo que no passado tinha defendido a morte de polícias e políticos. Contudo, o advogado dele falou aos media locais para confirmar que ele ainda continuava preso. Segundo o jornal The Independen­t, Izzadeen, que nasceu há 41 anos em Hackney (Londres) numa família de origem jamaicana, converteu-se ao islão na véspera de fazer 18 anos.

Trevor Brooks, como era conhecido até então, radicalizo­u-se após conhecer os clérigos Abu Hamza e Omar Bakri Muhammed na mesquita de Finsbury Park, nos anos 1990. Este último, conhecido como o “ayatollah de Tottenham”, foi o responsáve­l também pela radicaliza­ção dos assassinos de Lee Rigby, entretanto condenados a prisão perpétua.

Se o Reino Unido tem escapado ao terrorismo islâmico, o mesmo não se pode dizer da Europa. Este ataque ocorre precisamen­te um ano após os ataques de Bruxelas, que fizeram 32 vítimas mortais. “As nossas condolênci­as aos que estão de luto e a todos os afetados em Londres. A Bélgica está ao lado do Reino Unido na luta contra o terrorismo”, escreveu o primeiro-ministro

belga, Charles Michel, no Twitter, numa mensagem dirigida à primeira-ministra britânica.

Theresa May, que estava no Parlamento na altura do ataque, presidiu ao final do dia a uma reunião de emergência sobre o atentado e fez depois uma declaração emotiva em homenagem às vítimas e à polícia. “Para aqueles de nós que estávamos no Parlamento na altura do ataque, estes eventos são uma recordação da bravura excecional da nossa polícia e serviços de segurança, que arriscam a vida para manter-nos a salvo”, disse a primeira-ministra. Falando num “ataque terrorista doente e depravado”, May disse que os londrinos e os britânicos “nunca vão ceder ao terror” e “nunca vão permitir que as vozes do ódio e do mal nos separem”.

Michel não foi o único a mostrar a solidaried­ade. “Apoiamos firmemente o Reino Unido quando se trata de lutar contra qualquer tipo de terrorismo”, disse a chanceler alemã, Angela Merkel. No Twitter, o presidente francês, François Hollande, escreveu que “o terrorismo afeta-nos a todos e a França sabe o que o povo britânico está a sofrer”. Também o presidente dos EUA, Donald Trump, manifestou o seu apoio num telefonema a May. O Parlamento britânico estará hoje aberto como normalment­e.

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Atacante atropelou várias pessoas na Ponte de Westminste­r, a caminho do Parlamento (visível ao fundo o Big Ben). Autoridade­s reagiram de imediato, com três polícias a ficarem feridos (um deles morreu)
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