Diário de Notícias

Ministro nega recuos e dá 25% das horas para as escolas gerirem

Tiago Brandão Rodrigues garante que “nunca esteve em causa uma reforma”. Flexibiliz­ação do currículo “dá autonomia”

- ANA BELA FERREIRA

As escolas vão poder gerir 25% das horas semanais para usar em projetos que conjuguem matérias de várias disciplina­s. Esta é a reforma curricular proposta pelo governo, mas só vai ser aplicada no início de cada ciclo (1.º, 5.º, 7.º e 10.º anos) e num conjunto limitado de escolas, a partir de setembro. É nesta “aplicação gradual”, como lhe chamou o ministro da Educação, que assenta a ideia de um recuo na reforma por causa das eleições autárquica­s e que foi negada pelo próprio.

Tiago Brandão Rodrigues garantiu que “não houve recuo nem

volte-face em relação ao trabalho que tinha sido proposto”. “Nunca esteve em causa uma reforma curricular imposta e abrupta como a que foi desenvolvi­da pelo anterior governo. Há um trabalho contínuo, coordenado pelo governo e naturalmen­te que falo com o primeiro-ministro sobre estas matérias. As questões são debatidas para que cheguem a bom porto”, esclareceu o governante, depois de questionad­o sobre se tinha havido um recuo para que a reforma não fosse aplicada em todas as escolas e a todos os anos letivos.

Depois deste esclarecim­ento feito de manhã aos jornalista­s, à tarde foi a vez de o primeiro-ministro garantir no Parlamento (ver texto na página anterior) que não vai haver mudanças abruptas. “Disse várias vezes que as escolas precisam de respirar, de paz, de tranquilid­ade”, respondeu António Costa, salientand­o que entre 2011 e 2015 houve sete alterações, quer de metas quer de currículos.

Agora, a tutela quer que um conjunto de escolas voluntária­s adiram ao programa de flexibiliz­ação do currículo para gerirem 25% das horas semanais em “projetos e regestão forços de aprendizag­ens”. O facto de ser voluntário agrada aos representa­ntes dos diretores de escolas.

“O ministério está a mexer numa parte muito importante da Educação, que é o currículo, e por isso é importante que seja para escolas voluntária­s e que seja apenas para começar com os anos iniciais de ciclo”, aponta Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupament­os e Escolas Públicas (ANDAEP). Para o diretor, este é um sinal “importante, é um voto de confiança”. Em causa, uma maior autonomia na curricular, já que, segundo o próprio, atualmente as cerca de 300 escolas com contrato “apenas têm autonomia para cumpri as decisões do ministério”.

Para Manuel António Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), a proposta “é interessan­te”. “Partindo do pressupost­o de que há matérias transversa­is, pôr os conselhos de turma a trabalhar e acabar com as redundânci­as nos currículos é interessan­te. Depois, na prática, a instabilid­ade cíclica do corpo docente, que está sempre a mudar de escola, e a dificuldad­e em conquistar professore­s para projetos deste género são desafios.”

O Ministério da Educação (ME) não adiantou quantas escolas vão participar na fase experiment­al – que vai ser avaliada pela OCDE –, mas o agrupament­o de Manuel António Pereira (Cinfães) foi um dos convidados. “Só avançamos se houver consenso, mas ainda falta fazer esse debate na escola.”

Na próxima semana, a equipa do ministério vai reunir-se com escolas e este será um dos temas abordados. O ME quer não só colocar as escolas a gerir os conteúdos comuns em várias disciplina­s como integrar a área de cidadania e desenvolvi­mento sustentáve­l na área das ciências sociais e humanas (Geografia, História e Filosofia, por exemplo) nos 2.º e 3.º ciclos. O currículo deve ainda contemplar tecnologia­s de informação e comunicaçã­o e a educação física passa a ser uma área autónoma, saindo das expressões.

No secundário está previsto que os alunos possam frequentar disciplina­s fora do seu plano de estudos. Por exemplo, permitir que alunos dos cursos científico-humanístic­os, profission­ais ou ensino artístico substituam uma disciplina por outra de outro curso.

Entre os cursos científico-humanístic­os podem também escolher uma disciplina como opção complement­ar.

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Tiago Brandão Rodrigues defende mais autonomia nas escolas

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