Diário de Notícias

Leal Coelho ou Assunção Cristas? Tanto faz

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Tanto faz” é uma conjunção invulgar nos políticos, sobretudo quando falam do seu próprio partido. Mesmo quando paira a certeza de uma derrota, são raríssimos os que a admitem a priori. Dizer “tanto faz” tem também esse efeito demolidor. A posteriori não há outro remédio e ainda assim há os que a rodeiam tanto que as transforma­m em vitórias a todo o custo. É por isso ainda mais esquisito ouvir o coordenado­r autárquico do PSD dizer que é indiferent­e ser Teresa Leal Coelho, a candidata escolhida por Pedro Passos Coelho para a corrida à presidênci­a da Câmara de Lisboa, ou Assunção Cristas, líder do CDS e candidata ao mesmo lugar, a passar a perna a Fernando Medina.

Perdão? Então se tanto faz como tanto fez, mais valia o PSD, depois da nega de Pedro Santana Lopes, ter arranjado maneira de apoiar a líder do CDS, mesmo com o sacrifício de alguns lugares na lista à câmara da capital. Dois partidos a apoiar a mesma cabeça-de-lista teriam mais hipóteses de beliscar o candidato do PS.

O apoio a Cristas não aconteceu porque os antigos parceiros de coligação de governo, que foram sondados muito informalme­nte, perceberam que os sociais-democratas estavam em maus lençóis depois de terem esperado tanto tempo por Santana. E nem começaram a negociar porque o preço de partida era demasiado alto. O partido mais pequeno pôs-se em bicos dos pés e queria mais lugares na lista do que recomenda a proporcion­alidade com o partido maior, o PSD.

Depois muita água correu debaixo da ponte, até Passos acabar por escolher a vereadora da câmara e sua vice-presidente. O partido encaixou que o que não tem remédio, remediado está, ciente de que Teresa Leal Coelho não é candidata para fazer sombra ao imparável homem das recentes obras em Lisboa. Até porque não se conhece a oposição que a vereadora fez, se é que fez, em Lisboa.

Carlos Carreiras corrigiu o tiro. O coordenado­r autárquico do PSD quer que Medina perca e prefere que seja, voilà, Teresa Leal Coelho a vencedora das eleições de outubro. Do “tanto faz” ao “prefiro que” vai uma distância muito curta. As palavras de Carlos Carreiras revelam até um receio, incompreen­sível, de que Assunção Cristas consiga ficar à frente da candidata do seu partido, que costuma ter o triplo da votação da do CDS – o que, a acontecer, seria um descalabro tão grande que Passos Coelho só com grande imaginação e muita resiliênci­a poderia escapar a essa derrota.

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JORNALISTA
PAULA SÁ JORNALISTA

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