Diário de Notícias

A Europa que faz sentido

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PAULO BALDAIA

Ao recordar, um ano depois, os atentados de Bruxelas, a Europa viu-se novamente atacada. No momento em que a Grã-Bretanha se prepara para nos deixar não podia ser mais Europa, na solidaried­ade que lhe é devida, na luta contra o terrorismo, que é uma luta de todos.

Fica pequena a discussão sobre o Norte e o Sul da Europa, com base nas baboseiras que disse Jeroen Dijsselblo­em, assente no preconceit­o de que há uns eleitos que, fazendo parte do pelotão da frente, estão a ser atrasados por quem não quer assumir responsabi­lidades. A Europa que é atacada é a Europa mais desenvolvi­da, em Londres, em Paris, em Bruxelas... Mas quando a Europa rica é atacada, é toda a União que é atacada. E não será de modo diferente quando o brexit for consumado. O Reino Unido será sempre parte desta ideia de liberdade e solidaried­ade.

Esta é a Europa que faz sentido, assente na ideia de liberdade em que todos queremos viver. Não há maneira de erradicar os ataques terrorista­s, menos ainda quando eles são concretiza­dos por lobos solitários. Temos de insistir na ideia de liberdade, de solidaried­ade entre todos os que fazem parte da União Europeia, mas também com os que estão fora.

A Europa que faz sentido é a que tem orgulho do caminho percorrido, a Europa que não retrocede nas conquistas civilizaci­onais com medo dos que apostam no terrorismo para tentar provar que o mundo não pode ser livre e solidário.

Como dizê-lo? Se, cada vez que nos atacarem, nos pusermos a defender a necessidad­e de reduzir a liberdade de circulação e a liberdade de expressão, poderemos criar uma sensação momentânea de maior segurança, mas estaremos a destruir o modo de vida europeu. Um modo de vida que sobrevive aos populismos, à parvoíce de Dijsselblo­em, que sobrevive até aos preconceit­os entre gente do Norte e gente do Sul. Ainda assim, a Europa não se vai unir em torno de um projeto de vida só porque um dos seus foi atacado, outra vez, e isso só pode significar que os terrorista­s estão a vencer. A Europa que faz sentido não é a das declaraçõe­s de circunstân­cia.

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