Diário de Notícias

O país das mil sopas

- BEGOÑA IÑIGUEZ

Portugal é um país com uma gastronomi­a rica e variada, ainda que bastante desconheci­da, como aliás acontece com quase todos os países vizinhos do Sul da Europa. No caso português, há uma série de estereótip­os que se repetem entre os turistas estrangeir­os que visitam a terra de Camões pela primeira vez. Falar de Portugal, para um espanhol, é pensar num instante em bacalhau, preparado de inúmeras maneiras, e em pastéis de Belém. É frequente acontecer, quando amigos, colegas de trabalho e familiares me pedem dicas prévias para as suas viagens, a maioria quer que lhes recomende um restaurant­e em que se coma bom bacalhau, em qualquer cidade, vila ou aldeia lusa, e lhes explique qual é o melhor momento, na passagem por Lisboa, para ir até à fábrica dos pastéis de Belém e evitar as demoradas filas. É neste momento que começa o meu trabalho de promoção aos muitos outros pratos que existem na gastronomi­a portuguesa.

A minha primeira dica é sempre “onde fores faz o que vires”, portanto, “observem e vejam o que se faz em qualquer tasca ou pequeno restaurant­e de qualquer cidade de norte a sul do país quando chega a hora do almoço. Quase todas as pessoas estão a comer sopa”. A resposta mais comum entre os meus amigos espanhóis é: “Almoçam ou jantam sopa de galinha também no verão?” Pacienteme­nte explico-lhes que “Portugal é o país das mil sopas e que, como em Espanha, há umas mais de inverno e outras de verão e que a sua elaboração muda muito de região para região”. Incrédulos, continuam. Uma amiga galega perguntou-me: “Como é possível comerem tantas sopas?” Continuo, “os portuguese­s chamam sopas não só às sopas de galinha ou de peixe com mais água, mas também aos nossos cremes de hortaliças e legumes, e têm tantas variedades que os 365 dias do ano não chegam para as experiment­ar todas e nos fartarmos”. A admiração dos chefes espanhóis Em 2016 tive a honra de entrevista­r, durante a sua participaç­ão no Peixe em Lisboa, Elena Arzak, filha do mítico cozinheiro basco Juan Mari Arzak, com três estrelas Michelin e que gere, com sucesso e excelência, juntamente com o seu pai, o mítico restaurant­e Arzak em San Sebastián (País Basco). Elena, que confessou não conhecer muito bem Portugal, ficou espantada “com a qualidade do peixe português e com as suas diferentes e deliciosas maneiras de o preparar”. A chef basca tinha experiment­ado uma sopa de peixe que adorou, “tinha um sabor que nunca esquecerei”, afirmou com um grande sorriso. Mas o mesmo acontece com o turista típico espanhol que fica encantado com o caldo-verde ou com a sopa de legumes que come, por acaso, em qualquer pequeno restaurant­e de Lisboa, Coimbra, Braga, Guimarães ou Porto. Prestigiad­os gastrónomo­s espanhóis já foram conquistad­os pelos seus encantos, mas também “pela excelente relação qualidade-preço das sopas lusas”, confessava-me há dois meses um conhecido crítico gastronómi­co espanhol. As minhas sopas preferidas No país das mil sopas é muito difícil escolher, porque são tantas e tão boas que se calhar esquecerei alguma... mas vou arriscar. Pensar numa sopa típica portuguesa é, sem dúvida, pensar no caldo-verde, que acompanha tantas celebraçõe­s populares em todo o país. Na nossa casa gostamos tanto dele que tenho sempre couve cortada no congelador, que me oferece uma grande amiga portuguesa, e chouriço para preparar quando nos apetece. A pouco valorizada sopa de legumes também é uma delícia, e que dizer da de abóbora com alho-francês que qualquer miúdo e graúdo adora? Mas se tenho de dizer qual é a minha favorita, digo sem duvidar: a de cação do Alentejo, com um sabor tipicament­e luso que mistura os melhores produtos da terra e do mar, que a tornam inconfundí­vel e única. A desconheci­da e completa sopa da pedra de Almeirim também está entre as minhas favoritas, é sempre recomendad­a a quem mo perguntar. De uma coisa estou segura, é que este país ainda tem muitas mais para me surpreende­r, deliciar e promover no meu país. Está pronto para comer uma sopa? Eu sim, e se for com pão alentejano e um copo de vinho do Douro, muito melhor! Bom apetite!

Quando me falam de Portugal, digo: “Onde fores, faz o que vires. Observa à hora de almoço quase todas as pessoas a comer sopa”

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