Diário de Notícias

Baal manda nisto tudo

- Finale, via crucis (grand

Houve um dia, foi no ano passado, em que acreditei que Murphy, o da Lei de Murphy, era cenarista do filme que eu vivia. Aos oito minutos, tungas, mas a coisa apaziguou; aos 17, ameaçou mas não foi o fim; e, aos 25, uma borboleta pousou na cara de Cristiano e ele saiu do campo. Eu tinha-me fechado no quarto a ver o filme, adivinhava um dramalhão, e como um homem não chora, quis estar sozinho. Primeira pancada (8 min.), segunda recaída (17 min.), e saída definitiva

25 min.)... Olhei para o canto mais sombrio do teto e disse: “Afinal, existes mesmo Edward A. Murphy...” Foi o meu primeiro dia de crente e eu havia logo de me meter numa religião com culto maléfico, por Baal. Mandamento único: “Qualquer coisa que possa acontecer mal, acontecerá mal, no pior momento possível.” Depois, tenho tido recaídas. Ainda no ano passado voltei a ver filmes que me provavam que Baal, ou o seu profeta Murphy, mandava nisto tudo. Houve até um episódio na minha

em que dei conta de que a minha religião era a única que se ria, num riso cavernoso. Há-as gentis, há-as tristes, mas a minha era sarcástica, e elegeu uma piada loira e dolorosa. Mas o mais das vezes o que ela fazia era anunciar pequenos males.Vocês sabem, também leem jornais (os boletins da paróquia). Ontem, o Murphy, outra vez: a Ucrânia não vai deixar entrar a cantora russa para o Festival da Eurovisão. Entre dois noticiário­s, vivo com esta esperança: um dia, o Eder vai voltar à Terra.

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JORNALISTA
FERREIRA FERNANDES JORNALISTA

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