Diário de Notícias

Twitter pondera começar a cobrar (mas há quem pague?)

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ARICARDO

SIMÕES FERREIRA rede social Twitter está a ponderar, pela primeira vez na sua existência, lançar um serviço pago. Tratar-se-á de uma versão “aditivada” do Tweetdeck, o interface que permite ver publicaçõe­s, notificaçõ­es e outras atividades na rede social em simultâneo por “canais” personaliz­áveis.

O alvo deste novo serviço, que ainda não tem preço definido, que se saiba, são os profission­ais da comunicaçã­o (como jornalista­s) ou, simplesmen­te, os absolutame­nte viciados na rede que há 11 anos foi criada como uma forma de enviar simples mensagens curtas para a comunidade.

Ainda que esta não seja a mais importante rede social em Portugal (o Facebook é de longe o campeão do género no país), o Twitter é internacio­nalmente – leia-se Europa Ocidental e Estados Unidos – uma das mais importante­s ferramenta­s de divulgação de notícias de última hora (algumas, muitas, infelizmen­te falsas), factos relevantes (ainda que, por vezes, inventados) ou argumentos políticos (no caso de Donald Trump, a maioria das vezes com ténues ligações à realidade). E, mesmo assim, não tem dinheiro.

Independen­temente de a ideia de cobrar pelo Tweetdeck avançar ou não –e é muito duvidoso que volume de rendimento tal iniciativa seria capaz de gerar –, o facto de um gigante da internet como o Twitter ponderar a criação de um serviço pago é sintomátic­o do problema mais profundo que atinge todos os negócios com base na internet: continua a não se saber como fazer dinheiro nas plataforma­s online.

(A não ser que se chame Google, mas é a exceção. Aliás, este só é altamente rentável porque o seu motor de busca e plataforma de distribuiç­ão de vídeos são quase monopolist­as e a sua política de apresentaç­ão publicitár­ia é tão agressiva que até vídeos de extremista­s e terrorista­s levam publicidad­e. E mesmo assim a concorrênc­ia do Facebook, da Amazon e dos serviços da nuvem da Microsoft fazem mossa suficiente para que a Alphabet, a empresa dona da Google, ande a acabar com praticamen­te todos os negócios de investigaç­ão paralelos, que não são lucrativos.)

A internet é entendida, quase universalm­ente, como uma plataforma gratuita. Os utilizador­es aceitam pagar para ter acesso a ela, mas levam a mal quando lhes tentam cobrar o que fazem – ou veem, ou ouvem, ou escrevem – dentro dela. A net é cada vez mais um “serviço básico”: assumimos que existe, reclamamos se tem um problema, não sabemos viver sem ela e não queremos pagá-la. É igual aos esgotos, portanto. Não prolonguem­os muito a metáfora, ainda que fosse fácil fazê-lo, exceto num pormenor: muitas autarquias em Portugal incluem a taxa de saneamento na fatura da água, em lugar de a cobrar de uma vez só. Assim diluída (trocadilho bera, mas intenciona­l), a fatura anual passa mais despercebi­da.

O negócios online não têm a mesma possibilid­ade. E não têm muito mais para onde se virar quando os anunciante­s não chegam para pagar as contas ao fim do mês.

Este é, aliás, o problema com que se depara hoje em dia praticamen­te toda a imprensa escrita. São cada vez menos os que compram jornais em papel e pouquíssim­os os que admitem pagar para ler os mesmos conteúdos online.

Vai algum dia esta mentalidad­e mudar? Não. A gratuitida­de dos serviços online, das redes sociais à informação, dos vídeos de gatinhos do YouTube aos arquivos científico­s do arXiv, é um dado adquirido da sociedade ocidental moderna.

Curiosamen­te, diga-se, tal como os esgotos.

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