Diário de Notícias

Uma disciplina que recuperou alunos nos últimos anos

Oferta é opcional, e tem vindo a conquistar alunos, com exceção para o 2.º ciclo e do ano letivo de 2014/2015, quando 224 mil se inscrevera­m

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No ensino público, 224 418 alunos frequentar­am em 2014/2015 a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), menos do que os 246 451 que a tiveram em 2013/2014. O 3.º ciclo é o que tem mais alunos inscritos (115 902) na disciplina cujo programa é definido pela Igreja Católica, mais especifica­mente pelo Secretaria­do Nacional para a Educação Cristã.

A matéria está preparada para ser lecionada em todos os anos da escolarida­de obrigatóri­a, mas por regra apenas começa a fazer parte do currículo no 2.º ciclo. Como os alunos podem optar entre frequentar e não frequentar a disciplina e o seu próprio amadurecim­ento cria condições diferentes, os temas são abordados várias vezes ao longo da escolarida­de. “Tentamos que os conteúdos sejam relacionad­os com a vida, com o quotidiano pessoal, coletivo e universal”, explica Fernando Moita, coordenado­r do Departamen­to do Ensino Religioso Escolar (SERE) do Secretaria­do Nacional da Educação Cristã (SNEC). A repetição das temáticas “acontece porque é preciso adequar a profundida­de a cada idade”.

Além destas dimensões mais próximas dos alunos, como a vida familiar, os afetos, as relações com os outros, há espaço na EMRC para abordar temas como “as várias religiões e a dimensão religiosa de questões como de onde vimos e para onde vamos, neste caso numa perspetiva católica”, aponta o professor Fernando Moita.

O responsáve­l não esconde que existe “a matriz confession­al, o paradigma ético e moral, segundo a mensagem católica”. Mas sublinha que a base é também colocar “as questões da crença e que acreditar é tão válido como não acreditar”. “Um jovem duvidar e andar à procura se acredita ou não é ótimo, mas não obrigamos nem perguntamo­s a ninguém se acredita.”

As questões são levantadas e discutidas também à luz do que pensa a Igreja Católica “sobre temas como o aborto, o divórcio”. As aulas de EMRC são, para Fernando Moita, “o lugar do rigor, da reflexão, da compreensã­o, de acordo com as dimensões religiosa, ética e moral”. Os 224 mil alunos do ensino público que assistem a estas aulas aprendem também “a história comparada das religiões”. “Falamos do islamismo, do judaísmo, do hinduísmo, comparamos textos de outros livros como o Alcorão ou o Antigo Testamento, de forma a mostrar como o fenómeno religioso é transversa­l”, explica.

Para poder transmitir todas estas dimensões, os professore­s designados também são diferentes. Estão incluídos na carreira docente, mas são também indicados pela Igreja Católica. Os 1387 professore­s da rede pública, em 2014/2015, último ano para o qual há estatístic­as, são católicos e têm mestrado em ciências religiosas, requisito para garantir que têm a vertente profission­alizante, pedida para os outros professore­s. “Além da dimensão religiosa, este mestrado tem também uma forte componente de pedagogia e didática necessária para dar aulas”, garante Fernando Moita. É possível também que venham de outras áreas. “Um professor de História pode dar aulas de EMRC, mas os bispos entenderam que não basta a boa vontade, estes têm de ter uma formação de 120 ECTS, que correspond­e a dois anos, em teologia ou ciências religiosas.” Isto porque é preciso que o professor saiba “interpreta­r um texto bíblico e o fenómeno religioso e conhecer o pensamento da Igreja sobre as matérias lecionadas”.

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