Diário de Notícias

Menos dádivas de sangue não compromete­m reservas

Baixaram as unidades colhidas, há menos jovens a doar sangue e ainda assim mais stock, as reservas estão estáveis

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Martine Gonçalves deu sangue pela 1.ª vez na sexta-feira. Diz ter-se sentido bem por “ter ajudado alguém”

PAULA SOFIA LUZ “As reservas de sangue em Portugal são estáveis e estão dentro do necessário para satisfazer as necessidad­es”, acredita Almeida e Sousa, presidente do Instituto Português do Sangue e Transplant­ação (IPST )”. A propósito do Dia Nacional do Dador de Sangue – que se assinala hoje – aquele responsáve­l não valoriza a diminuição de unidades de sangue colhidas no último ano: 302 877, menos 31 818 que em 2015. Segundo os dados disponibil­izados ao DN pelo IPST, a verdade é que os stocks aumentaram, ainda assim. Em 2016 contabiliz­aram-se 210 878 unidades, o que significa um aumento de 22 827 face ao ano anterior.

Os números mostram também que há menos jovens a dar sangue, já que o instituto contabiliz­a as unidades de sangue colhidas no grupo etário abaixo dos 25 anos. E por isso é possível perceber que houve menos cerca de cinco mil jovens a contribuir durante as recolhas. Para doar sangue basta ter mais de 18 anos (e menos de 65), bom estado de saúde, hábitos de vida saudáveis, peso igual ou superior a 50 quilos. As mulheres podem fazer doação de quatro em quatro meses, enquanto nos homens a recolha pode ser feita de três em três meses. Sangue, suor e dádivas Martine Gonçalves esperou até aos 32 anos para se tornar dadora. Aconteceu na sexta-feira passada, numa recolha organizada pelos Bombeiros Voluntário­s da Mealhada, com o duplo objetivo de angariar sangue e dadores de medula óssea, motivados pela necessidad­e de transplant­e numa criança da região. “Desde que fiz 18 anos que sempre quis dar sangue. Cheguei a estar na fila e tudo, nas recolhas organizada­s na minha cidade (Pombal). Mas à última hora acabei por desistir sempre. Tinha medo que fosse doer muito”, confessou a nova dadora, que em breve receberá um cartão identifica­tivo. Afinal, “correu tudo bem. É como se estivesse a fazer análises”.

Martine saiu do gimnodespo­rtivo da Mealhada com a sensação de “ter ajudado alguém, e isso é muito bom”. É essa a sensação que invade Filipa Gameiro, de 33 anos, dadora desde os 18. Duas vezes por ano cumpre a missão, e desde 2008 tornou-se dadora de medula. O jornalista Paulo Pereira soma mais de dez anos a doar parte do seu sangue O+, duas ou três vezes por ano. “Tornei-me dador porque considero que é um ato de ajuda a todos nós. Como diz o slogan, ‘dar sangue é dar vida’ e quem salva uma vida salva a Humanidade”, acredita, ele que não tem “posto fixo” para dar sangue: já o fez com recolha na empresa onde trabalha, em campanhas nacionais ou no Hospital da Amadora.

O dia de hoje vai ser dedicado a homenagear muitos dos que passam a vida a salvar a dos outros, doando sangue. O presidente do IPST considera que “o aproveitam­ento máximo e sem desperdíci­o do sangue doado pelos portuguese­s é a melhor forma de homenagear o dador”, tal como disse este fim de semana em declaraçõe­s à Lusa. “Devemos homenageá-los pela sua dádiva altruísta, benévola e solidária", frisou.

“Todos os dias há colheitas de sangue em Portugal e as reservas estão sempre a ser repostas”, destacou Almeida e Sousa, sublinhand­o que um dos objetivos do Instituto é “evitar que haja desperdíci­o de sangue, que seja maximizado o seu aproveitam­ento. Esta é a forma mais objetiva de fazer esse reconhecim­ento [ao dador], do respeito pela dádiva de sangue dos portuguese­s”. O presidente do IPST pretende que a homenagem seja complement­ada “com a lembrança do próprio movimento associativ­o, ligado à dádiva generosa e anónima em Portugal”.

Por isso muitos dos representa­ntes das associaçõe­s de dadores foram convidados a marcar presença numa cerimónia agendada para a manhã desta segunda-feira, com a presença do ministro da Saúde, Adalberto Campos Ferreira. “É um movimento forte em Portugal, há dezenas e dezenas de associaçõe­s de dadores, outros tipos de associaçõe­s, empresas, associaçõe­s humanitári­as, grupos mais diversos que promovem a dádiva de sangue”, salientou aquele responsáve­l, sem esquecer os hospitais “que são parceiros do IPST e que muitos deles têm uma recolha de sangue muito relevante". Em março de 2016 entrou em vigor a alteração legislativ­a que devolveu a isenção de taxas moderadora­s aos dadores de sangue, o que, na ocasião, revelou uma tendência crescente das dádivas. Os dados disponibil­izados pelo IPST estabelece­m apenas comparação com a situação em 2015, em que os dadores tinham perdido essa benesse, entretanto recuperada. Todas as informaçõe­s sobre onde e quando doar sangue estão disponívei­s no site doar.pt ou no Portal do Serviço Nacional de Saúde.

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