Diário de Notícias

A senhora de Sevilha rodeia-se de barões para voltar a unir o PSOE

A andaluza Susana Díaz anunciou ontem oficialmen­te a candidatur­a à liderança socialista num evento em Madrid rodeada de antigos líderes e primeiros-ministros do partido

- SUSANA SALVADOR

À segunda é de vez, mesmo tendo de lutar contra os fantasmas da primeira. Susana Díaz apresentou ontem a sua candidatur­a oficial à liderança do PSOE, quase três anos depois de ter abdicado de entrar na corrida a favor de um então desconheci­do Pedro Sánchez. O mesmo que obteve os piores resultados de sempre para os socialista­s numas eleições gerais e que foi expulso da liderança pelos companheir­os em outubro, deixando o partido profundame­nte dividido. É com o objetivo de voltar a unir o PSOE que a andaluza concorre agora às primárias, tendo-se rodeado dos barões do partido no lançamento da campanha para demonstrar a sua força.

O pavilhão do centro de congressos de Madrid (Ifema) foi pequeno para receber todos os apoiantes da senhora de Sevilha, que lidera os socialista­s andaluzes desde novembro de 2013. Sete mil estiveram no pavilhão principal, outros dois mil num secundário. Entre eles os antigos primeiros-ministros socialista­s Fe- lipe González e José Luis Zapatero, assim como o ex-líder Alfredo Pérez Rubalcaba e o antigo vice de González, Alfonso Guerra. Os dois não se falam há anos (por causa de um escândalo com o irmão de Guerra), pelo que Díaz pode dizer que já está a unir o partido. Presentes estavam também vários líderes autonómico­s, como o presidente da Comunidade­Valenciana, Ximo Puig.

“Peço a vossa ajuda para que o PSOE volte a liderar um projeto que tome conta de Espanha”, disse Susana Díaz, deixando claro que não vai “tolerar” que Sánchez diga que é o candidato dos militantes face a uma elite que seria representa­da pela andaluza. “O PSOE é um projeto coletivo”, referiu, recusando “o voto da nostalgia ou o do rancor”. Nos últimos tempos têm-se multiplica­do as trocas de acusações entre apoiantes dos três candidatos – Patxi López, ex-líder do governo basco, também está na corrida.

Díaz nasceu a 18 de outubro de 1974 em Sevilha, numa “família humilde”, como fez questão de lembrar. O pai era canalizado­r e a mãe doméstica. Ela foi catequista e trabalhou com cosméticos enquanto estudava Direito – foi a primeira da família a ir para a universida­de, mas os críticos lembram que demorou dez anos a fazer o curso. Ela responde que desde muito cedo se envolveu com a política: aos 24 anos já era vereadora da Juventude em Sevilha.

Foi deputada e senadora no Congresso espanhol e desde 2008 que está no Parlamento andaluz. Em 2009, quando o ex-presidente da Junta da Andaluzia José Antonio Griñán procurava renovar o partido após quase duas décadas de liderança de Manuel Chaves, ela tornou-se responsáve­l pela organizaçã­o do PSOE andaluz. Três anos depois, subia a número dois de Griñán no governo regional, mas um escândalo de corrupção catapultou-a para a liderança no verão de 2013.

Díaz apostou tudo na antecipaçã­o das eleições autonómica­s em 2015 e, graças ao apoio da Esquerda Unida, conseguiu formar governo – há 38 anos que o PSOE está à frente da região e nas últimas eleições gerais só ali o mapa de Espanha se pintou de vermelho. Agora, a senhora de Sevilha – adepta do Bétis, casada e com um filho – quer saltar do bastião socialista para o país. As primárias, nas quais podem votar quase 190 mil militantes, serão marcadas no sábado para 21 de maio.

Uma corrida a pensar na liderança de Espanha. “Este país tem três grandes desafios: a pobreza e desigualda­de, os populismos que crescem na Europa, com a sua onda de racismo e xenofobia, e a luta contra os nacionalis­mos”, disse Díaz. E, num recado ao Podemos, lembrou que “mais à esquerda do PSOE não há nenhuma outra esquerda transforma­dora”. Defendendo um “partido autónomo”, lembrou que uma coisa é “pactuar com outro partido e outra diferente é entregar o PSOE ou imitar o modelo de outros”.

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Alfredo Pérez Rubalcaba, Felipe González, Susana Díaz, José Luis Zapatero, Alfonso Guerra e Ximo Puig na primeira fila do evento
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