Merkel dá tiro de partida em ano eleitoral a vencer no Sarre
CDU da chanceler subiu em escrutínio-teste antes das legislativas de 24 de setembro. Efeito Schulz não se confirmou no SPD
Conhecido como a “Grécia da Alemanha” devido à grande dívida, o Sarre representa apenas 1% da população alemã. Mas ontem todos os olhares estavam postos na pequena região fronteiriça com a França. Nas mãos dos cristãos democratas da CDU há 18 anos, o Sarre era visto como o primeiro teste a Angela Merkel antes das legislativas de setembro. E com o seu partido a conseguir 40,1% dos votos, segundo as primeiras projeções para a televisão ARD, a chanceler provou que pelo menos ali o efeito Martin Schulz não chegou para dar a vitória ao SPD, que se ficou pelos 30,1% dos votos.
A governar o Sarre com a CDU numa grande coligação semelhante à que existe a nível nacional, o SPD tinha passado nas últimas semanas dos 25% de intenções de voto para os 34%, aproximando-se perigosamente da CDU. Mas “os sociais-democratas não conseguiram traduzir o efeito Schulz numa vitória surpresa”, escrevia no Twitter Thomas Sparrow, correspondente político da Deutsche Welle. A entrada na corrida do ex-presidente do Parlamento Europeu, que aposta forte numa mensagem de maior igualdade social, veio dar um forte impulso ao SPD, que chegou a surgir à frente da CDU em algumas sondagens a nível nacional. O crescimento da CDU, liderada no Sarre pela atual ministra-presidente do estado, Annegret Kramp-Karrenbauer, deixa o partido perto da maioria absoluta. Apelidada de “Merkel do Sarre”, esta mãe de três filhos, de 54 anos, é mesmo apontada como uma possível sucessora da chanceler na liderança da CDU nacional. Por enquanto, e com os liberais do FDP de fora do Parlamento – por não terem chegado à fasquia dos 5% de votos –, os cristãos-democratas do Sarre arriscam-se a ter de repetir a grande coligação com o SPD. “Sofrer um golo não significa que o jogo tenha terminado”, lembrou Schulz, fazendo jus à sua paixão pelo futebol.
Os sociais-democratas, liderados pela ministra da Economia, Anke Rehlinger, ficaram aquém das expectativas e os 13% de votos do Die Linke, o partido de esquerda liderado por Oskar Lafontaine, não chegam para fazer uma coligação capaz de manter a CDU afastada do poder. Tudo porque os Verdes terão ficado abaixo dos 5% de votos, inviabilizando uma coligação “vermelho, vermelho, verde”, uma fórmula que Schulz sonha vir a aplicar a nível nacional no outono.
O líder do SPD esteve esta semana no Sarre em campanha ao lado de Anke Rehlinger. Fiel à sua imagem de homem próximo do povo, distribuiu rosas e comeu salsicha num mercado de rua. Já Merkel, que tem garantido ser cedo para começar a fazer campanha para as eleições de setembro, esteve também no pequeno estado de apenas 800 mil habitantes. Num comício em Sankt Wendel, na fronteira entre a Alemanha, França e Luxemburgo, a chanceler lembrou que: “Desta vez todos os votos contam mesmo”. Os eleitores da CDU parecem ter-lhe dado ouvidos.
Quem conseguiu entrar em mais um parlamento regional – o 11.º dos 16 que existem no país – foi a Alternativa para a Alemanha (AfD). O partido que nasceu como antieuro mas se transformou numa formação de extrema-direita anti-imigração tem vindo a perder votos nas sondagens a nível nacional mas conseguiu aqui 6%, mais uma vitória para o populismo.
As eleições no Sarre foram as primeiras de uma série de escrutínios regionais que antecedem as legislativas de 24 de setembro na Alemanha. Este “ano eleitoral super”, como lhe chamam os media, prossegue já no dia 7 de maio no estado de Schleswig-Holstein – governado desde 2012 pelo SPD em coligação com os Verdes e com o partido regional SSW. Uma semana depois é a vez da Renânia do Norte-Vestefália, reduto dos sociais-democratas e região mais povoada da Alemanha.