WOLFGANG MÜNCHAU, FERNANDA CÂNCIO E MARCELLO SACCO
Os próximos líderes terão de resolver a trapalhada histórica da crise da zona euro. Que diferença faria se Martin Schulz se tornasse chanceler alemão? Como um presidente chamado Emmanuel Macron mudaria a França? Estas são duas das perguntas mais frequentes sobre a política europeia. Acho as duas bastante aborrecidas. Há um aspeto muito mais interessante: que efeito teriam os dois, se ambos fossem eleitos, na UE em geral e na zona euro em particular?
A queda em desgraça de François Fillon, o candidato dos republicanos franceses, deixa o Sr. Macron como o único participante nas eleições presidenciais francesas que pode realmente reivindicar não ser um extremista. Só isso já faz dele o favorito. É natural que os acontecimentos se intrometam no caminho entre o momento atual e a primeira volta das eleições a 23 de abril e a segunda a 7 de maio. Marine Le Pen continua a ser uma candidata séria e de respeito. Não se deve subestimar a líder da Frente Nacional nem confiar muito nas sondagens.
Na Alemanha, a corrida para as eleições de 24 de setembro está empatada. Mesmo as sondagens não nos dizem muito: os dois maiores partidos – a CDU/CSU de Angela Merkel e o SPD de Martin Schulz – estão lado a lado. Elas também não nos trazem nenhuma resposta conclusiva sobre as duas alianças pós-eleitorais mais prováveis: outra grande coligação entre a CDU/CSU e o SPD, ou uma coligação entre o SPD, o Partido da Esquerda e os Verdes, uma opção conhecida na Alemanha como r2g [Rot-Rot-Grün (vermelho-vermelho-verde)] segundo as cores dos partidos.
Então, o que poderemos esperar se os dois homens ganharem? Schulz e Macron são sentimental e intelectualmente pró-europeus, mais do que qualquer líder desde os tempos de Helmut Kohl e François Mitterrand. Schulz é politicamente o mais experiente. Tenho a sensação de que Macron pode simplesmente ser surpreendido pela primeira crise que se avizinhe. Espero estar errado, porque as alternativas em França são calamitosas.
Em matéria de política interna, o espaço de manobra será limitado para ambos. Qualquer chanceler alemão será restringido pela coligação, pelas maiorias do Bundestag e do Bundesrat, e pelo direito constitucional ale- mão. Mesmo uma coligação r2g iria respeitar a regra do orçamento equilibrado: nunca se deve subestimar a capacidade do SPD para dececionar aqueles que o apoiam.
As limitações do Sr. Macron serão ainda maiores. Ele tem um novo movimento político atrás dele, mas não tem qualquer deputado. Poderá derrotar o Sr. Fillon na primeira volta das eleições. Mas irá precisar do partido de Fillon, ou dos socialistas, para poder governar.
Assim, o impacto de cada candidato na política interna será limitado – mas juntos podem fazer a diferença na UE.
Historicamente, a dinâmica para a integração europeia alicerçou-se na cooperação franco-alemã. Outros países nunca conseguiram alcançar o mesmo efeito. A Espanha não pode assumir esse papel porque está muito preocupada consigo mesma. A Itália não pode fazê-lo devido à sua frágil economia. O Reino Unido está a sair da UE e o governo polaco está a comportar-se como se também estivesse de saída. A liderança, se vier, virá de França ou da Alemanha.
Qual seria a natureza de uma nova aliança franco-alemã pró-europeia? A prioridade para ambos tem de ser a recuperação da zona euro. Os problemas desta permanecem sem solução. A recuperação económica é real mas mascara a divergência entre Norte e Sul. Alguém terá de fazer a convergência acontecer e as únicas figuras com uma hipótese remota de sucesso são os próximos chanceler alemão e presidente francês.
A recuperação da zona euro é importante tanto por si própria como porque a sua fraqueza contínua enfraquece todos os outros aspetos da integração. Não adianta adicionar a uma zona euro incompleta uma união de segurança disfuncional.
A incapacidade de resolver a crise da zona euro foi um dos grandes erros históricos da Europa do pós-guerra – o legado de Angela Merkel, Nicolas Sarkozy, François Hollande e todos aqueles que desempenharam um papel neste desastre político. É uma das principais causas do surgimento do populismo. Deixou-nos a todos vulneráveis a choques adicionais. A retirada de um único país desencadearia uma crise financeira de proporções inimagináveis.
Cabe à próxima geração o trabalho de resolver a trapalhada resultante de uma década passada a marcar passo. A tarefa concreta não é diferente da do passado. Serão necessários mecanismos para forjar a convergência económica. Será necessário criar uma verdadeira união bancária. De outra forma, não haverá fim para as crises bancárias permanentes. Isso, por sua vez, exigirá a capacidade de aumentar os impostos e a capacidade de emitir dívida conjunta. Tudo isso exigirá uma nova legislação, talvez até uma mudança nos tratados.
Schulz e Macron não conseguirão fazer milagres, mas o futuro da integração europeia dependerá de eles estarem prontos para dar início à mudança de caminho. E a velocidade da viagem é menos importante do que a direção tomada.
As limitações do Sr. Macron serão ainda maiores. Ele tem um novo movimento político atrás dele, mas não tem qualquer deputado