Diário de Notícias

Sevilhana

- LEONÍDIO PAULO FERREIRA

Foi com o sevilhano Felipe González à frente que os socialista­s espanhóis atingiram o seu pico eleitoral: 48,1% nas legislativ­as de 1982, ano da chegada da esquerda ao poder que confirmou o sucesso da transição democrátic­a pós-franquismo. Agora é a sevilhana Susana Diaz que se candidata a secretária-geral do PSOE com a promessa de tirar o partido da agonia em que vive, uns modestos 22,6% de votos nas eleições do ano passado e a liderança da esquerda ameaçada pela novidade Podemos. Há vários pontos que jogam a favor de Diaz, a começar por González a apoiar, ele que, tal como José Luis Zapatero, o outro antigo primeiro-ministro socialista, esteve na apresentaç­ão da candidatur­a da atual presidente do governo da Andaluzia.

Contra Diaz apresenta-se Patxi López, que já presidiu ao governo do País Basco, e Pedro Sánchez. Este último é o principal obstáculo à eleição da sevilhana, pois já foi secretário-geral e apesar dos péssimos resultados eleitorais continua a afirmar-se como o campeão das bases contra a elite do PSOE, nomes como González e Zapatero, mas também Alfredo Pérez Rubalcaba e Alfonso Guerra, que estiveram todos no pavilhão da Ifema em Madrid a aplaudir Diaz.

O resultado da luta entre socialista­s está em aberto. Mesmo pondo já de lado a hipótese de López ganhar, o duelo entre Diaz e o madrileno Sánchez é de desfecho imprevisív­el: ela, apoiada pelos barões, defende que o PSOE tem de se diferencia­r do Podemos, o movimento contestatá­rio que se tornou num partido que ambiciona pasokizar os socialista­s; ele, já com uma vitória em primárias no currículo, promete aos militantes construir uma alternativ­a de esquerda ao PP do primeiro-ministro Mariano Rajoy – em tempos isso significav­a estar disposto a aliar-se ao Podemos.

O eventual desequilíb­rio a favor de Diaz pode ter que ver com as provas que a sevilhana já deu nas urnas: conseguiu ser eleita presidente da Andaluzia, confirmand­o um cargo que herdara, e defende como pode o estatuto da Andaluzia como reservatór­io de votos para os socialista­s. É das poucas regiões espanholas onde o mapa eleitoral ainda mostra bastante vermelho.

Espanha precisa de um PSOE forte, de esquerda, europeísta e defensor da unidade nacional respeitand­o a diversidad­e. Diaz, pelo que faz e diz, é quem mais correspond­e a esse ideal.

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