Mais de meio milhar de vinhos tentam conquistar o ouro
Evolução. 5.ª edição mais próxima do público, com dedicado e consumidores no júri, a par de especialistas. Resultados a 23 de junho site
A marcar o quinto ano de realização do Concurso Uva de Ouro esteve o novo recorde de vinhos apreciados – mais de 510 –e a elevação do lema da democratização a um nível mais alto: depois de ter tornado acessíveis ao consumidor comum vinhos premiados por conceituados especialistas, neste ano o concurso abriu a prova cega à participação de quem se quis inscrever online. Por entre leigos e conhecedores, perto de 80 jurados, em dez mesas de júri, provaram e avaliaram mais de meio milhar de vinhos numa prova cega que decorreu ontem e na terça-feira na Escola do Estoril da Rede de Escolas do Turismo de Portugal.
Passadas cinco edições do Uva de Ouro, o impacto desta iniciativa do Continente, em parceria com o DN, JN e TSF, é já inegável: o interesse em conquistar os troféus máximos do evento induziu os produtores a elevar a qualidade dos seus vinhos de consumo diário; e aumentou a curiosidade do consumidor em conhecer mais e melhor os vinhos nacionais que estão ao seu alcance nas prateleiras dos hipermercados.
Pelo menos, assim pensa AntónioVentura, presidente da Associação Portuguesa de Enologia (APE). “Os produtores têm todo o interesse em ter os seus vinhos no Uva de Ouro porque, obviamente, o reconhecimento com uma medalha é, para eles, uma mais-valia enorme.”
Uma opinião que é confirmada pelo recorde de vinhos propostos à apreciação da edição deste ano. “Já ultrapassámos o meio milhar de vinhos e, neste momento, já é difícil começar a pensar, no futuro, que outra dimensão é que este concurso poderá ter”, comentou o coordenador do Uva de Ouro, Aníbal Coutinho, visivelmente satisfeito no final da prova cega.
O próprio setor da distribuição, também representado na prova cega, reconhece a relevância do Uva de Ouro. “É claro que sabia que existia este concurso há cinco anos, que acho muito importante aqui em Portugal, porque é direcionado para o consumidor final, que não é o caso de todos os concursos”, disse Stephane Perrin, enólogo e proprietário de uma empresa de distribuição de vinhos em Portugal e que neste ano se estreou como um dos presidentes de júri do Uva de Ouro.
A aproximação da garrafeira nacional ao grande público sempre foi uma das metas do Uva de Ouro. Por isso, em 2016 o Continente já tinha dirigido convites aos seus melhores clientes para participarem na prova cega do evento. Neste ano, a democracia foi total e abriram-se as inscrições online aos consumidores que quiseram participar. Integrados em mesas de júri a par de especialistas e orientados pelos respetivos presidentes, experientes profissionais do mundo da prova de vinhos, todos os leigos afirmaram ter sido uma experiência enriquecedora (ver acima).
Ainda nesta senda de aproximação ao consumidor, nesta 5.ª edição o Uva de Ouro embarca no mundo das novas tecnologias, lançando um site – www.uvadeouro.dn.pt – que em breve estará online com notícias, entrevistas, vídeos, tudo o que se quiser saber sobre esta e outras edições do concurso. E é aqui também que – a par da publicação no DN e no JN – será divulgada a lista dos vinhos contemplados com os prémios Uva de Ouro, que serão revelados numa cerimónia de gala na noite de 23 de junho, no Porto.
Alice Vilela, enóloga e professora da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, explica todo o interesse e sucesso do concurso de uma forma simples: “O vinho está na moda outra vez”, afirmou. “Agora as pessoas vão aos bares, à noite – mesmo a camada mais jovem da população –, e já pedem um vinho a copo, coisa que antigamente não se fazia.” Seguindo essa tendência, AliceVilela trouxe consigo duas alunas de pós-graduação para apreciarem ao vivo uma prova real que obedece a todas as regras de isenção e rigor dos
“Sou um amante de vinhos. Os meus pais foram produtores de vinho. Depois tive curiosidade de saber mais, por isso resolvi participar”
VÍTOR DUARTE
64 ANOS, PROFESSOR “O Uva de Ouro puxou os produtores a melhorar os seus vinhos. O interesse deles é grande: todos têm vinhos na grande distribuição”
ANTÓNIO VENTURA PRESIDENTE DA ASSOC. PORT. DE ENOLOGIA “Já trabalhei no setor e foi a paixão pelos vinhos que me fez inscrever. Isso e poder ouvir as opiniões dos especialistas”
ANDREIA FERREIRA
34 ANOS, SUPERVISORA “Estas iniciativas são sempre de louvar e, ano após ano, nota-se que a qualidade está presente e tem sido sempre num nível muito superior”
ANA CHAMBEL PROVADORA DA COM. VIT. PENÍNSULA DE SETÚBAL
“Temos colaborado com o Uva de Ouro nos últimos cinco anos e isso tem permitido fomentar nos alunos o gosto pela área dos vinhos”
concursos internacionais de enologia, e que, por isso, merece a chancela de idoneidade do Instituto da Vinha e doVinho.
O mesmo fez o professor Manuel Malfeito Ferreira, do Instituto Superior de Agronomia, que se fez acompanhar por seis alunos de pós-graduação que integraram os júris das diversas mesas.
O sucesso do Uva de Ouro junto Aníbal Coutinho, no palco, dá as orientações iniciais acerca da mecânica da prova cega, que teve dez mesas de júri, durante duas manhãs, para classificar mais de 500 vinhos do consumidor reflete-se também nos produtores e na qualidade dos vinhos produzidos. “Desde a primeira edição do concurso para esta, que é a quinta, sente-se, de facto, uma notória evolução dos vinhos portugueses, o que é extremamente satisfatório”, afirmou António Ventura, da APE. E há mais quem o diga. “Temo-nos apercebido de que a média de prova tem sido todos os anos a subir”, disse Bruno Antunes, escanção do ano em 2016.
Ao longo dos seus cinco anos de edição, o Uva de Ouro contou com a participação da Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril – cuja designação oficial agora é Escola do Estoril da Rede de Escolas do Turismo de Portugal –, e também aí o saldo é positivo. “O facto de estarmos a trabalhar com a organização deste concurso tem permitido uma evolução muito consolidada naquilo que são os conhecimentos na parte da enologia que nós passamos aos alunos”, explicou Rui Santos, diretor da Escola do Estoril. Neste ano, na receção, catalogação e serviço dos mais de 500 vinhos a concurso intervieram 25 alunos de enologia e restauração.
RUI SANTOS DIR. ESCOLA DO ESTORIL DA REDE DE ESCOLAS DE TURISMO DE PORTUGAL