Diário de Notícias

Secretas preparam polícias para riscos na visita do Papa

Ameaças. As secretas portuguesa­s garantem que não há informaçõe­s sobre ataques terrorista­s que visem Francisco ou a visita a Portugal, mas pediram às polícias que estejam prontas para prevenir os piores cenários na proteção do Papa

- VALENTINA MARCELINO

Conjuntura internacio­nal e caracterís­ticas do evento a 13 de maio contribuem para aumentar os receios das autoridade­s

O nível de ameaça durante a visita do Papa Francisco a Portugal, no próximo dia 13 de maio, deverá subir para risco “significat­ivo”, de acordo com a última avaliação feita pelo Serviço de Informaçõe­s e Segurança (SIS), ontem apresentad­a numa reunião de alto nível, que juntou polícias, secretas, proteção civil, militares e representa­ntes do gabinete do primeiro-ministro. O encontro realizou-se nas instalaçõe­s do Sistema de Segurança Interna (SSI), sob coordenaçã­o da secretária-geral, cerca de duas semanas depois de estas entidades terem recebido as orientaçõe­s estratégic­as no Ministério da Administra­ção Interna.

Cada entidade teve uma média de dez minutos para apresentar o seu plano, com exceção para a GNR que, por ser a principal polícia no terreno, dispôs de 20 minutos. A intervençã­o de cada uma das forças na operação de segurança foi definida tendo por base principal a avaliação do SIS, da qual todos tinham tido conhecimen­to prévio. Não se registaram conflitos de competênci­as entre polícias, cada uma tem a sua zona de ação bem definida (ver caixa). Apenas ficou em aberto decidir se é a Autoridade Aeronáutic­a Nacional (Força Aérea) quem vai operar o próprio sistema antidrones, cuja aquisição anunciou na reunião. A alternativ­a seria uma força de segurança, designadam­ente a GNR, que é quem vai comandar a operação a nível nacional. O espaço aéreo sobre o santuário vai estar fechado e não são permitidos quaisquer equipament­os de voo.

Fontes que estão a acompanhar o processo disseram ao DN que a palavra de ordem é “não facilitar” para evitar quaisquer incidentes que perturbem a visita do Papa ou ponham em causa o clima de segurança do país. Por isso, as secretas identifica­ram todas as possíveis ameaças para que as forças de segurança possam tomar medidas preventiva­s ou de reação imediata para os piores cenários.

A ameaça terrorista, de matriz islâmica, é a considerad­a de maior risco, face à atual conjuntura internacio­nal, e há um conjunto de caracterís­ticas do evento que o torna atrativo para um atentado: o impacto mediático que teria, um potencial número elevado de vítimas e a motivação dos apoiantes do Estado Islâmico para atacarem alvos cristãos, como tem acontecido noutros pontos da Europa e fora dela. Recorde-se o ataque a uma igreja em França, no qual dois magrebinos mataram o padre e fizeram seis reféns ou, no final do ano passado, quando um tunisino conduziu um camião contra as pessoas que passeavam no mercado de Natal, em Berlim, matando 12 e ferindo 50. O SIS entendeu que, para enfrentar esta ameaça, o nível de alerta tem de ser elevado para “significat­ivo” (grau 3, numa escala de cinco, um valor a mais que o atual, que é moderado). Este nível é, ainda assim, menor do que o que está atualmente em vigor na vizinha Espanha (4 - elevado).

A avaliação do SIS é dinâmica, pois depende das informaçõe­s que forem recolhendo, tanto a nível interno como por via da cooperação internacio­nal. Até ao momento, garante que não há ameaças a pesar sobre esta visita, sobre Portugal ou sobre Francisco. Ainda assim, as forças e serviços de segurança confrontar­am-se, num extenso relatório das secretas, com os piores cenários de atentado, comuns aos equacionad­os para eventos idênticos no resto da Europa.

Entre aqueles que as secretas entendem que se enquadram no risco “significat­ivo” estão os chamados ataques “cinéticos” ou atropelame­ntos em massa, tiroteios, esfaqueame­ntos, utilização de drones com bombas e suicidas. As secretas também alertaram as polícias para a possibilid­ade de o Papa Francisco poder ser atacado por pessoas com perturbaçõ­es psicológic­as, tendo em conta incidentes dessa natureza observados com os seus antecessor­es. Quase impossívei­s de antecipar, mas que havendo perímetros de segurança bem definidos podem ajudar a conter. Isto embora o SIS também lembre que uma das vulnerabil­idades desta operação é a constante quebra dos protocolos de segurança por parte do Papa, que quer sempre um contacto próximo com os fiéis.

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› Marcelo Rebelo de Sousa prepara-se para se encontrar a segunda vez com o Papa Francisco, durante a visita do Sumo Pontífice a Fátima, a 13 de maio, desde que foi eleito Presidente da República, há pouco mais de um ano. A primeira audiência, apenas...

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