Diário de Notícias

“O PSD é um partido de oposição, tem de fazer propostas concretas”

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mas que seja um templo de amizade. A política não leva nada do meu tempo. Trabalho, faço a minha vida que é o que tenho de fazer. Como é que vê a forma como o poder político lidou com o sistema financeiro nos últimos anos? Eu já me atrevi por muitas áreas, já não me quero atrever por mais nada. Não sou político, não quero ser político, vim aqui dar a entrevista para falar sobre um caso concreto, já me aventurei por áreas de que não falo em público há anos e chega, não vou falar sobre nada do setor financeiro. Sente que esta decisão do Ministério Público é um primeiro passo para a sua recuperaçã­o, para a recuperaçã­o da sua imagem pública ou já deu o caso como perdido? Quando estive na política nunca trabalhei para ser popular. Não é isso que me motiva. Trabalhei para fazer uma obra e servir o país. Não sou um tipo de pessoa que vê de onde sopram os ventos e tenta ir na corrente. Tenho convicções. Sei que tenho uma maneira de ser e de sentir de que se gosta muito ou se não gosta. Já vivi anos suficiente­s para saber que sou assim. Nisto não mudo. Haverá muita gente que foi influencia­da por isto? Certamente que há. Perdi um grande amigo, como já disse, em todo este processo, porque eu quando sou amigo sou amigo e a essa pessoa mostrei-lhe, aliás, que era fortemente amigo. Procuro seguir a minha vida com os princípios que o meu pai me ensinou. O meu dia de amanhã vai ser igual a hoje: agora vou trabalhar e amanhã voltarei a trabalhar. Hoje, se puder, ainda vou dar festinhas e beijinhos aos meus netos. Amanhã, se puder, farei o mesmo. Hoje ainda terei oportunida­de de dar atenção e carinho à minha mãe, à minha mulher, às minhas filhas, aos meus irmãos e alguns amigos. Amanhã farei o mesmo. Não conta, portanto, receber nenhuma mensagem do Prof. Cavaco Silva? Não penso nisso. Ainda é militante de base do PSD? Sou, em Aguiar da Beira. Como é que tem acompanhad­o a atualidade política? Eu acompanho muito mal, como já disse. Vejo muito mais o que escreve o Financial Times quando escreve.Vejo muito mais Portugal de fora, vejo Portugal comparado com realidades onde eu estou naquele momento.Vejo e tento compreende­r as razões históricas que levaram a isto, não é um problema de agora, é um problema muito velho. E tivemos culpa, e culpa porquê? Pelas lideranças políticas e pelas lideranças económicas. Como é que vê o atual momento do PSD e a atual liderança? Eu não quero falar nisso. O PSD é um partido de oposição, tem de fazer propostas concretas. Acho que a questão toda é aparecer em Portugal alguém que explique aos portuguese­s, que seja líder suficiente para dinamizar e explicar aos portuguese­s um projeto que seja de sucesso, de criação de riqueza. Às vezes rio-me porque ouço dizer que é o turismo. Não, Portugal está numa situação em que tem de criar riqueza em tudo o que puder criar riqueza. No mar, na terra, na agricultur­a. Temos de ganhar dinheiro em tudo. Estamos a endividar-nos, devemos dinheiro, temos de pagar e devemos cada vez mais. Parece que o país está muito contente com o défice orçamental de 2016. Quer dizer, parece que o país está muito contente pelo facto de o governo só ter gasto mais 3500 milhões de euros do que previu. São pequenas e tristes alegrias. Temos de criar riqueza, no turismo, na produção de bens, na agricultur­a, no mar, em tudo o que nós possamos fazer, temos de criar riqueza. É preciso alguém que entenda e que possa mobilizar o país para um projeto destes. Promovendo mais coesão social. E que seja um projeto de grande desenvolvi­mento, que mobilize a inteligênc­ia que está a ir toda embora. Tudo o que é bom em Portugal sai e é atraído para sair, não tem aqui nada que o possa estimular a ficar. Portanto, o problema vai ser mais grave ainda, e isto tem de preocupar o PSD. O PSD tem de se preocupar em ter alguém que tenha credibilid­ade para mobilizar empresário­s e trabalhado­res, mobilizá-los para um projeto consistent­e, que seja racional e que seja possível. estamos aqui... A troika foi um desastre absoluto que nos aconteceu.Vou dar um exemplo: você tem uma família que produz vinho e está endividada. Os credores começam a perguntar como é que aquilo está e intervêm naquela família e dizem, os Mercedes acabaram, passam a andar de Renault, a casa do Algarve nem pensar, a casa onde moram vendem e vão para um andar, os empregados são reduzidos a um só. Os credores fizeram uma intervençã­o para tentar viabilizar aquela família, aquela operação, mas depois, num ato de estupidez, começaram a dizer: e a vinha? Vocês estão a fazer seis tratamento­s por ano?Vamos fazer só três.Vocês podam todos os anos? Isso é um exagero, se calhar o melhor é podarmos só videira sim, videira não. É claro que a videira morre e o vinho não vai dar. Foi o que a troika fez connosco. A troika matou-nos um conjunto de empresas, um conjunto de postos de trabalho, que apesar de tudo podiam ser dinamizada­s e que deviam ter sido era reformulad­as. A troika veio basicament­e dar-nos dinheiro e matar uma série de coisas. Eu achava que um credor tinha de ter vindo e posto de fora tudo aquilo que era demais, mas tinha de salvar a vinha, pôr a vinha mais produtiva, para pagar mais depressa. Mas quando comecei a ver matarem a vinha, aí comecei a ficar preocupado. Não sentiu em algum ponto do processo, no início, que havia ali uma oportunida­de para mudar o país, para fazer reformas necessária­s que o bloco central não tinha coragem para fazer? Nós precisamos de reformas, sem dúvida nenhuma. Uma vez fiz um discurso na Assembleia sobre toda esta questão, em que abordava toda esta problemáti­ca. A grande reforma que nós temos de fazer em Portugal é a de criar riqueza. E sobre isso é que ninguém está a pensar devidament­e. Nem o seu partido? Ninguém está a pensar em como é que se cria riqueza em Portugal. Há alguns empresário­s, a Jerónimo Martins, por exemplo, que está a pensar em criar riqueza, abriu na Colômbia, na Polónia. Até certo ponto, a Sonae o que fez fora fez bem. Mas quem tem muito dinheiro e investe numa coisa que já existe para tirar de lá os dividendos… Nós precisamos é que façam coisas novas, que nos acrescente­m riqueza. É essa a reforma que falta fazer. O problema de Portugal não é que se trabalhe pouco. Em Portugal, em média até se trabalha mais horas do que nos outros países, mas a produtivid­ade é muito diferente. Nós temos é que fazer outras coisas.

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