Parquímetros da discórdia voltam a Carnide. Promessa de Medina
Moradores contestam parquímetros no centro histórico da freguesia. “Onde estão as obras prometidas dos orçamentos participativos, que previam parqueamento?”, questionam
O dia foi longo, ontem, para o presidente da Junta de Freguesia de Carnide, Fábio Sousa, e para as dezenas de pessoas daquela zona de Lisboa que fizeram questão de estar a seu lado até ao fim, quando ele conseguiu, finalmente, entregar na câmara municipal uma petição com mais de 2500 assinaturas. Motivo: a contestação aos parquímetros no centro histórico de Carnide, sem que a câmara tenha concretizado os projetos de requalificação previstos para a zona, como se lê no documento.
A manhã começou agitada naquela parte da cidade, depois de um grupo de moradores ter arrancado durante a noite os 12 novos parquímetros instalados pela EMEL, entre outras, na Azinhaga das Carmelitas, Rua das Parreiras e largo central, onde se ergue o coreto. A ação, “expressão da indignação e do protesto da população”, como a qualificou Fábio Sousa, tinha sido decidida numa reunião anterior, “com mais de 200 moradores”, sublinhou o autarca.
“Como gestora do espaço público, a junta de freguesia recolheu os parquímetros”, justificou o presidente da junta, contestando as acusações de vandalismo feitas pelo presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina.
“Vandalismo seria destruir os equipamentos, mas eles estão intactos e a funcionar”, garantia o autarca da CDU, apontando os parquímetros empilhados numa carrinha de caixa aberta da junta.
A intenção era entregar a “carga” na câmara, ao fim da tarde, juntamente com a petição assinada pelos mais de 2500 moradores, e dirigida a Fernando Medina e a Helena Roseta, a presidente da assembleia municipal, “contra a inoportunidade da entrada da EMEL no centro histórico de Carnide e pela concretização dos projetos de requalificação previstos”.
Mas, no fim, Fábio Sousa e as quase 50 pessoas que o acompanharam até aos Paços do Concelho, na Praça do Município, só puderam entregar a documentação. A meio da tarde, a Polícia de Segurança Pública foi ao local para levar os parquímetros para a Esquadra de Benfica e ficou a saber-se também que a EMEL apresentou uma queixa-crime contra a Junta de Freguesia de Carnide. Câmara de Lisboa não cede Para Fábio Sousa, essa foi, aliás, “mais uma demonstração da má-fé da EMEL, que nunca esteve aberta ao diálogo com a população de Carnide”.
Os moradores aplaudiam. Alguns já estavam na Praça do Município quando ele chegou, por volta das 18.30, e davam-lhe os parabéns, agradeciam a sua atitude, “ao lado da população”.
Ana da Conceição Dias, que há 35 anos tem uma peixaria no centro histórico de Carnide, na Rua do Machado, foi uma das que quis estar com Fábio Sousa na Praça do Município. “Não estamos contra os parquímetros, mas não se pode começar uma casa pelo telhado”, explicava. “Os orçamentos participativos de anos anteriores, que previam a construção de um parqueamento, nunca foram para a frente”. Joaquim Campos, morador na freguesia, não podia estar mais de acordo. “Já perguntámos para a câmara porque não foram cumpridos os orçamentos participativos e nunca nos responderam.”
Fernando Medina, entretanto, já garantiu que os parquímetros vão voltar a ser instalados “com toda a rapidez” e Fábio Sousa responde que “se isso suceder, a população de Carnide há de pronunciar-se e a junta de freguesia, tal como agora, estará com a população”. Mas o autarca de Carnide faz questão de reafirmar a disponibilidade para dialogar. “Estamos abertos ao diálogo, como sempre estivemos, com o presidente da câmara e o presidente da EMEL”.
Quanto à petição, todos esperam que ela seja discutida em breve na Assembleia Municipal. O mínimo necessário para que isso aconteça são 250 assinaturas. Aquela tem muito mais.