Putin sai em apoio de Assad apesar de autópsia provar ataque químico
Damasco garante que exército “nunca utilizou e jamais utilizará” armas químicas contra o seu povo. Rússia diz ser “inaceitável fazer uma acusação infundada sem uma investigação detalhada e imparcial”. Trump estuda ação militar
O presidente russo,Vladimir Putin, renovou ontem o seu apoio ao governo sírio de Bachar Al-Assad, mesmo depois de as autópsias na Turquia revelarem que foi mesmo um ataque com armas químicas o responsável pela morte de, pelo menos, 86 pessoas, 30 delas crianças, na província de Idlib. Segundo Putin, é “inaceitável fazer acusações infundadas contra alguém sem uma investigação detalhada e imparcial”. O presidente norte-americano, Donald Trump, estará a estudar uma resposta militar.
“Posso assegurar-vos novamente que o exército sírio nunca utilizou e jamais utilizará este tipo de armas contra o nosso próprio povo, contra as nossas crianças, nem mesmo contra os terroristas que mataram o nosso povo”, afirmou o chefe da diplomacia síria, Walid Mouallem. Damasco admite ter feito um ataque aéreo na região, mas alega que atingiu instalações rebeldes que teriam armas químicas. “O primeiro ataque da aviação síria ocorreu às 11.30 [09.30 em Lisboa] num armazém de munições que pertencia à Frente Al-Nusra [antiga Al-Qaeda no Levante] e continha substâncias químicas”, referiu o ministro.
Uma versão dos factos que vai ao encontro do que alegam os russos, aliados de Assad e os únicos a sair em sua defesa no Conselho de Segurança. Em Nova Iorque, EUA, França e Reino Unido exigiram que fosse votado um projeto de resolução que pede uma investigação, depois de na véspera uma primeira votação ter sido adiada. Após dois dias de negociação, o texto proposto era uma versão modificada do original.
Moscovo alega que os países ocidentais não têm informações “objetivas”, “fiáveis” e “realistas” sobre o ataque. Ontem, o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, falou com o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, para perguntar qual era a versão russa dos acontecimentos. Mas numa curta declaração à imprensa, Tillerson disse que não há dúvida que o governo sírio é responsável pelo ataque. Antes, num telefonema com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, Putin dissera ser “inaceitável fazer acusações infundadas contra alguém sem uma investigação detalhada e imparcial”. Damasco aceita uma comissão de inquérito, desde que seja “imparcial e não politizada e largamente representativa”, segundo Mouallem.
Pelo menos 86 pessoas, incluindo 30 crianças, terão morrido no ataque a Khan Sheikhoun, pequena aldeia na província rebelde de Idlib, segundo o último balanço do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, com sede em Londres. A Turquia realizou três autópsias e confirmou que foram utilizadas armas químicas no ataque, indo mais longe e acusando Assad de ser o responsável. “As autópsias foram realizadas em Adana a três corpos de Idlib. Estas autópsias concluíram que foram usadas armas químicas”, disse o ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag, citado pela agência noticiosa Anadolu. “Este exame científico estabelece igualmente que Assad usou armas químicas”, acrescentou, sem contudo fornecer provas da acusação.
Os exames foram feitos por médicos legistas turcos, na presença de membros da Organização Mundial da Saúde e da Organização para a Interdição de Armas Químicas. As autópsias foram filmadas e foram recolhidas amostras que serão enviadas para Haia, sede desta última organização. Mais tarde, o Ministério da Saúde turco disse em comunicado que os testes que foram feitos aos feridos que foram levados para hospitais turcos “levam a pensar que foram expostos a uma substância química (sarin)”. Trump estuda resposta “Estes atos odiosos pelo regime de Assad não podem ser tolerados”, afirmou Trump na véspera, reconhecendo que a sua “atitude em relação à Síria e a Assad tinha mudado claramente”. Segundo várias fontes, ouvidas pela CNN e pela Reuters, uma resposta militar está em cima da mesa, havendo entre as opções a possibilidade de atingir alvos militares sírios ou ações destinadas a manter em terra a força aérea síria.
Questionado sobre as declarações de Trump e da embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, que ameaçou com uma ação unilateral por parte deWashington, o chefe da diplomacia síria lembrou que “os membros permanentes do Conselho de Segurança têm a responsabilidade de preservar a paz e a segurança no mundo, segundo a carta” da ONU. “Por isso, não podem agir de maneira unilateral”, afirmou.