A um ano e meio das eleições, Lula e Doria dividem as atenções
Para as presidenciais, entre todas as dúvidas, a maior é se vai prevalecer um candidato tradicional, como o ex-presidente ou outro, um outsider, como o prefeito de S. Paulo ou outro
Brasileiros escolhem a 7 de outubro de 2018 um novo presidente. Há vários nomes falados, de Lula a Doria, passando por Moro
É preciso recuar a 1988, quando a democracia brasileira ainda gatinhava, a hiperinflação atingia os quatro dígitos ao ano e Collor de Mello surgiu do nada rumo ao Palácio do Planalto, para encontrar uma eleição presidencial tão imprevisível como a de 2018. A exato ano e meio da sua realização, os efeitos devastadores da Operação Lava-Jato, a economia titubeante, a ação que corre contra o presidente Michel Temer, e a antecessora Dilma Rousseff, o trauma do impeachment e a polarização nas ruas e nas redes sociais deixam tudo em aberto. Mas Lula da Silva, o chefe do Estado entre 2003 e 2010 e político à antiga, e João Doria, o surpreendente prefeito de São Paulo e autoproclamado “não político”, parecem em curva ascendente.
“Se não for abalroado pela Lava--Jato, o Geraldo Alckmin é um nome forte e estruturado mas para ganhar ao Lula isso parece pouco, daí que o campo esteja fértil para um outsider, como Doria, com força para encarnar o ‘novo’, embora faça parte da engrenagem política tradicional”, defende ao DN Igor Gielow, repórter especial do Folha de S. Paulo. Paulo Baía, cientista político da Universidade do Rio de Janeiro, parece apostar em Doria ao dizer ao DN que “um candidato novo de partidos convencionais está a ser construído com vista a 2018”.
E quem é Doria? É um empresário de sucesso, ex-apresentador da versão brasileira do programa de Donald Trump The Apprentice que venceu as municipais em São Paulo com um discurso antipolítica e que tem pautado os seis primeiros meses à frente da megalópole por ações de efeito a um ritmo frenético. Com a popularidade em alta, viu o seu nome ser lançado pelo PSDB para 2018 – ele para já nega a intenção de concorrer, afinal o primeiro passo de todos os candidatos. Sucede que quem criou Doria foi Geraldo Alckmin, o sólido governador de São Paulo que deseja ardentemente o Palácio do Planalto e teme agora ser engolido pela sua, mais ágil, criatura.
Ainda no campo do PSDB, partido que produziu o presidente de 1995 a 2002 Fernando Henrique Cardoso, tem aspirações Aécio Neves, embora muito atingido na Operação Lava-Jato. José Serra, mais atingido ainda e com problemas de saúde que o fizeram sair do Ministério dos Negócios Estrangeiros, é hipótese meramente académica.
Por sua vez, Ronaldo Caiado (DEM) é o nome da direita rural e Jair Bolsonaro, o da direita militar. Se Caiado ambiciona apenas bater o ponto, o capitão na reserva Bolsonaro aparece como um caso sério nas sondagens oficiais – só batido por Lula na pesquisa espontânea – e nas oficiosas – é recordista de seguidores nas redes sociais. Além disso, batizado nas águas do rio Jordão pelo pastor Everaldo, candidato em 2014, pode acumular também o voto evangélico.
Michel Temer, pela impopularidade do seu governo transitório e por ter a idade mais avançada de todos os potenciais candidatos, só será concorrente ao cargo que já ocupa se a economia tiver resultados notáveis em um ano e meio. Mas, nesse caso, seria o seu ministro das Finanças e preferido do PIB brasileiro Henrique Meirelles a colher a maior parte dos louros – eo presidente do Banco Central na era Lula ambiciona o Planalto.
À esquerda, tudo gira em torno de Lula, do PT, cuja candidatura só não é ainda certa por causa da Operação Lava-Jato, e outras, em que é réu. Caso o líder nas sondagens em todos os cenários não se candidate, Ciro Gomes (PDT) pode reunir o apoio das esquerdas, incluindo do PT, partido que tem ainda Fernando Haddad, antecessor de Doria na prefeitura de São Paulo, como reserva. Marina Silva, terceira classificada nas duas últimas eleições, deve ser tida em conta, até porque desta vez tem um partido feito à sua medida, o Rede, e quem sabe um trunfo na manga, o juiz do escândalo do Mensalão Joaquim Barbosa como candidato a vice. O PSOL e outras forças de extrema-esquerda devem apresentar nomes com potencial para baralhar as contas mas só na primeira volta.
Na tal esfera não política, podem emergir do poder judicial nomes como o do juiz da Lava-Jato Sergio Moro, idolatrado por largas faixas da população, ou o de Carmen Lúcia, atual presidente do Supremo, cuja atuação sóbria não a torna hostil nem aos olhos da direita nem aos olhos da esquerda.
Ou até Luciano Huck, apresentador de televisão que afirmou estar na hora da sua geração tomar o poder, ou Roberto Justus, um empresário que, curiosamente, antecedeu Doria na condução da versão brasileira do The Apprentice e já se declarou disponível. A corrida está tão imprevisível que até Tite, bem-sucedido selecionador de futebol do Brasil, receberia 15% dos votos se a eleição fosse hoje, de acordo com o Instituto Paraná Pesquisas.