Diário de Notícias

Os jogos especiais onde o sentimento fica à porta

Petit reencontra domingo o Benfica. João Alves e Domingos contam como é defrontar o clube do coração

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CARLOS NOGUEIRA O que sente um treinador quando tem de defrontar o clube do coração? A situação já aconteceu várias vezes esta época, com diferentes protagonis­tas. Augusto Inácio e José Couceiro já mediram forças com o Sporting; Nuno Capucho e Luís Castro já enfrentara­m o FC Porto e Pepa e Petit já tiveram pela frente o Benfica. Petit, aliás, vai reencontra­r os encarnados pela segunda vez este domingo, agora ao serviço do Moreirense, ele que jogou seis anos de águia ao peito e nunca escondeu o seu amor ao clube da Luz.

Domingos Paciência e João Alves já passaram por muitas situações destas e garantem ao DN que o profission­alismo fala sempre mais alto, apesar de ambos reconhecer­em que são momentos especiais para quem, como eles, viveu intensamen­te os respetivos clubes do coração. “Em primeiro lugar está a equipa que treinamos, que é como se fosse a nossa família, pois passamos mais tempo com os jogadores do que na nossa própria casa. Não lutar pela vitória seria o mesmo que vender a nossa família. É impensável”, assume João Alves, que chegou ao Benfica aos 15 anos e na Luz viveu alguns dos melhores momentos da sua carreira.

“Fiquei vacinado durante o meu percurso de treinador”, diz Domingos Paciência ao DN, lembrando que foi sempre conotado com o FC Porto, algo que lhe valeu alguns problemas: “Fui sempre mal tratado pelos adeptos, em vários estádios, por causa disso.” Ainda assim, o antigo avançado garantiu que foi “sempre natural” defrontar os dragões e, tal como João Alves, justifica que, afinal, a carreira está sempre à frente das preferênci­as clubística­s. “Queremos sempre ganhar porque estamos envolvidos e comprometi­dos com os projetos”, sublinhou, admitindo, no entanto, que “é um sentimento especial defrontar um clube e gente que contribuiu para o cresciment­o profission­al”. “Mas somos sempre do clube onde estamos a trabalhar. Queremos sempre o melhor para a nossa casa, que é sempre aquela onde estamos a trabalhar”, acrescento­u João Alves. A final e Dublin e o alívio nos 6-3 Dos 14 jogos em que teve de enfrentar o FC Porto, houve um muito especial para Domingos Paciência quando estava no Sp. Braga: a final da Liga Europa de 2011, em Dublin. “Era a final que eu não queria. Consegui o sonho de qualquer treinador que é chegar a um jogo decisivo de uma prova europeia, mas não queria que tivesse sido contra um clube que era tão especial para mim”, assumiu, garantindo que, apesar das emoções, tudo fez para vencer e levar a taça para Braga. “Venci dois jogos ao FC Porto ao longo da minha carreira, mas nunca mudei a abordagem por ser o adversário que era”, resumiu.

No caso de João Alves, houve um jogo que podia ter sido um marco na sua carreira de treinador, quando esteve quase a tirar um título aos encarnados. “Eu estava no Estrela da Amadora e fomos à Luz defrontar o Benfica, que era treinado pelo meu amigo Toni. Empatámos 1-1 numa altura crucial do campeonato e esse resultado podia ter-lhes custado o campeonato, razão pela qual até fui insultado por alguns adeptos, que pensavam que tinha sido o adeus ao título. Mas eu apenas fiz o que me competia que era lutar pelo resultado”, recordou o antigo médio, que uma semana depois recebeu uma boa notícia: “Fiquei aliviado quando na jornada seguinte o Benfica foi vencer o Sporting, em Alvalade, por 6-3, pois assim não fiquei com o ónus de lhes ter roubado o título.”

“Nunca senti nada de diferente nas semanas que antecediam os duelos com o FC Porto, houve sempre os mesmos níveis de intensidad­e e de grande motivação”, refere Domingos. Essa é aliás uma ideia partilhada por Alves, que lança um novo dado para a mesa: “Ganhar a um grande é um momento de grande glória, pelo menos até à jornada seguinte, e representa um marco importante para o currículo de um treinador.” Este domingo, o Moreirense de Petit precisa de somar pontos para fugir à despromoçã­o. Mas uma vitória ou empate pode atrasar o Benfica na luta pelo título...

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