Diário de Notícias

O trabalho de renovação dos acordos à esquerda é diário

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O debate à esquerda sobre a dívida vai ficar mais fácil com o que aí vem de conclusões do grupo de trabalho? O diálogo, mesmo quando há diferenças, é sempre fácil. Quando percebemos e respeitamo­s as posições dos outros, o diálogo é sempre fácil, mesmo quando divergimos. Não quero estar a antecipar as conclusões de um grupo de trabalho, em que participo e vai tornar públicas as suas conclusões dentro em breve. Só posso dizer que o trabalho tem sido frutuoso e obviamente que haverá sempre diferenças e sempre matérias irreconcil­iáveis, em que as diferenças entre os partidos se mantêm, mas, como a própria experiênci­a do governo e o relacionam­ento com o BE e os outros partidos têm demonstrad­o, não é preciso concordar em tudo para poder chegar a compromiss­os. Não é obrigatóri­o concordar em tudo para que as áreas em que chegamos a acordo tenham relevância. Vai ser possível manter aquilo que tem sido, usando a expressão dos partidos,“a reposição de direitos” e o que são as limitações próprias do Tratado Orçamental, que obrigam a respeitar o défice? Seria mais fácil se não tivéssemos o maior peso em juros da dívida em percentage­m do PIB em toda a zona euro. A presidênci­a do Eurogrupo por um português, como Mário Centeno, ajudava Portugal? O que ajuda Portugal é continuar a ter os excelentes resultados que temos tido na frente económica, orçamental e do mercado de trabalho e mostrar que, contra todas as previsões e apesar de uma desconfian­ça muito significat­iva que nos dificultou a vida em 2016, nós conseguimo­s provar que é possível fazer uma política diferente tendo resultados até melhores. É o mais importante para Portugal é conseguir fazer valer a sua posição entre os parceiros. E um socialista como Pierre Moscovici ajudava no Eurogrupo? Não! Entendo que não. O Eurogrupo expressa as posições da pluralidad­e dos ministros das Finanças e portanto o presidente do Eurogrupo obviamente que tem algum poder, nem que seja de agenda, mas será sempre mais um porta-voz da posição que sair do Eurogrupo do que alguém com pensamento próprio. E eu gosto que o ministro das Finanças de Portugal tenha pensamento próprio como tem tido. Com a direita, mas sobretudo com o PSD, o debate parlamenta­r tem estado muito extremado. É possível em dossiês que vão exigir nos próximos tempos entendimen­tos mais alargados, como na descentral­ização, avançar com esses entendimen­tos? Espero que os partidos estejam no Parlamento na defesa de causas, projetos e valores em que acreditem. Se todos os partidos cumprirem este princípio, que me parece elementar, de uma convivênci­a democrátic­a saudável, sendo isso que os portuguese­s esperam de cada partido, não vejo nenhuma razão para que haja qualquer obstáculo para entendimen­tos. Se os partidos se guiarem por outro tipo de consideraç­ões, muitas vezes votando contra projetos que foram seus ou tendo uma política de terra queimada, aí poderemos ter um problema. É assim que olha para o atual PSD? Às vezes parece que o PSD se comporta dessa maneira. Nenhum partido terá grande sucesso quando nem a sua própria história, os seus próprios valores e os seus próprios projetos respeita. Entrará em crise no momento em que isso acontecer, e o PSD às vezes parece caminhar nesse sentido. António Costa tem defendido que a reforma da descentral­ização é a pedra-de-toque do governo. Até que ponto será possível fazê-la sem o PSD? Neste momento, está em debate no Parlamento e estamos numa fase muito inicial de tentativa de conciliaçã­o e aproximaçã­o entre os partidos. É um processo que está em curso e estou convencido de que chegará a bom porto. Até porque o PS não conta muito com os partidos à esquerda. O PCP e o BE não têm necessaria­mente nenhuma posição de princípio contra a descentral­ização. Estou confiante de que será possível chegar a acordo, como foi possível noutras áreas que muitos diziam ser impossível. Haverá ou não necessidad­e de renovar os acordos que viabilizar­am o governo do PS? Os acordos existem, não estão esgotados, e o seu trabalho de renovação e procura de soluções comuns é diário.

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