Diário de Notícias

Famílias descobrem paradeiro de familiares um século após I Guerra

Investigaç­ão da jornalista e historiado­ra Maria José Oliveira permitiu identifica­r 259 prisioneir­os portuguese­s e o destino que tiveram

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MANUEL CARLOS FREIRE Há vários arquivos históricos sobre a I Guerra Mundial em Portugal, que enviou as suas tropas para o teatro europeu há precisamen­te cem anos. Mas foi a recém-publicada investigaç­ão da jornalista e historiado­ra Maria José Oliveira, com uma inédita listagem de 259 prisioneir­os portuguese­s, a permitir que várias pessoas descobriss­em agora “o paradeiro e o destino dos seus familiares”.

“Tenho tido muitos contactos, pelo Facebook e por e-mail ou através da editora, de descendent­es de presos que leram o livro e me contam experiênci­as parecidas com a do meu avô”, conta ao DN a autora de Prisioneir­os Por- tugueses da Primeira Guerra Mundial – destacando ainda que considerou “importante colocar na capa” o subtítulo Frente Europeia – 1917/1918, porque houve muitos milhares de soldados portuguese­s detidos em África e que essa história continua por estudar e contar.

Recorde-se que antes de o Corpo Expedicion­ário Português (CEP) ter sido enviado para a Flandres, no início de 1917, Portugal já tinha enviado destacamen­tos com milhares de soldados para Angola e para Moçambique desde o final do verão de 1914 (ver entrevista).

Maria José Oliveira, que começa o seu livro com a história familiar do avô enviado para França com o regimento da Figueira da Foz, explica que conseguiu identifica­r 259 presos portuguese­s na Flandres cruzando dados recolhidos em diferentes arquivos históricos.

Embora sem números exatos, sublinha a investigad­ora, “a historiogr­afia oficial apontava para cerca de 230 militares portuguese­s presos” na Flandres e enviados para “campos de internamen­to e de trabalhos forçados” na Alemanha, França, Bélgica e Polónia. “Cheguei a 259 mas acho que houve mais, porque há muita documentaç­ão que se perdeu ou está dispersa... os números não são de fiar”, insiste.

O livro da historiado­ra, sem índice, integra a listagem dos 259 soldados presos com “uma pequena biografia de cada um” – indicando o posto, datas e locais de nascimento e de morte, bem como onde estão sepultados (havendo casos em que não foi possível revelar esse detalhe).

Uma das razões para isso decorre de os nomes nos registos terem sido “escritos por militares alemães e franceses .... há imensos erros de transcriçã­o e não é fácil encontrar uma pessoa. Tem de se ir por intuição ou, por exemplo, eliminando o apelido... o que acertavam era na data de nascimento”, assinala Maria José Oliveira.

Por saber que “não é muito fácil fazer essa pesquisa” é que a historiado­ra, a fazer o doutoramen­to, conta que procura apoiar aqueles que a contactam “para saber se podia ajudar a descobrir o campo onde os familiares estiveram presos” e o seu destino. Por exemplo, revela Maria José Oliveira, “uma família desconheci­a por completo que o tio-avô, dado como desapareci­do, foi preso em La Lys, que sucumbiu em cativeiro e foi enterrado num campo alemão .... que já não existe”.

O que o livro de Maria José Oliveira revela também, acrescenta, é o “conjunto de cartas censuradas”pelo serviço de censura do Corpo Expedicion­ário Português. Prisioneir­os Portuguese­s da Primeira Guerra Mundial

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