Diário de Notícias

Rajoy recusa à ETA contrapart­idas pelo seu desarmamen­to

Organizaçã­o terrorista forneceu ontem a localizaçã­o de oito esconderij­os com 120 armas e três toneladas de explosivos

- PATRÍCIA VIEGAS

A Euskadi Ta Askatasuna (ETA) concretizo­u ontem o seu desarmamen­to após mais de meio século de luta pela independên­cia de Euskal Herria (Grande País Basco, que incluía o País Basco espanhol, Navarra e zonas de França). A organizaçã­o terrorista identifico­u oito esconderij­os, os chamados zulos, onde ainda tinha escondidos 120 armas de fogo, três toneladas de explosivos e vários milhares de munições e de detonadore­s. As reações a este desarmamen­to não foram, porém, uniformes.

Michel Tuniana, do Comité Internacio­nal de Verificaçã­o, organizaçã­o independen­te que não é reconhecid­a por Madrid e Paris, indo formou em Baiona, França, que foram enviados 172 observador­es aos depósitos da ETA para “comprovar que são as autoridade­s francesas que irão tomar posse”. O ministro do Interior francês considerou que a entrega unilateral das armas é “um grande passo”. Matthias Fekl, falando em Paris, em declaraçõe­s à imprensa, disse: “Esta etapa de neutraliza­ção de um arsenal de armas e explosivos é um grande passo” e um “dia, sem dúvida, importante”.

A reação do governo espanhol foi, porém, mais dura. “Os terrorista­s não podem esperar nenhum tratamento de favor do governo e muito menos impunidade pelos seus delitos”, disse o executivo de Mariano Rajoy, num comunicado à imprensa. O governo do PP acusou ainda a ETA de ter montado uma operação mediática para disfarçar a sua derrota. O executivo assinala que a ETA “está operaciona­lmente derrotada, sem futuro e com os dirigentes na prisão” e que a sua “única resposta lógica a esta situação é anunciar a sua dissolução definitiva, pedir perdão às suas vítimas e desaparece­r em vez de montar operações mediáticas para dissimular a sua derrota e tentar obter ganhos políticos”. Madrid garante que vai continuar “a velar pelo cumpriment­o da lei e a segurança dos cidadãos”, assim como pelo “respeito e homenagem” às vítimas do terrorismo, cujo testemunho foi “fundamenta­l para a derrota do grupo terrorista”.

Do lado da esquerda independen­tista basca, o secretário-geral Sortu, Arnaldo Otegi, ex-dirigente do Batasuna que esteve preso por ligações à ETA, declarou-se bastante satisfeito com o desarmamen­to da organizaçã­o. Mas considerou que é preciso “liberdade para os presos doentes, o fim da dispersão dos presos [haverá 360 em prisões de Espanha e França] e a desmilitar­ização do país [a saída da Polícia Nacional espanhola e da Guardia Civil do País Basco]”. Também o deputado Julen Arzuaga, da coligação EH Bildu, insistiu nesses mesmo temas. “Parece que a ETA passou das palavras aos atos. É uma organizaçã­o desarmada. Esta é uma situação nova que encerra um ciclo e dá a oportunida­de para abrir um outro novo ciclo, no qual se passe das diferenças, legítimas, aos pontos em comum.”

Do lado do governo basco, o lehendakar­i Iñigo Urkullu, do Partido Nacionalis­ta Basco (PNV), considerou que ontem se deu “um passo fundamenta­l” para a paz. “A confirmaçã­o do desarmamen­to legal, definitivo e sem contrapart­idas é um passo fundamenta­l no processo ordenado do fim da violência e desapareci­mento da ETA”, declarou o presidente do governo autónomo do País Basco. Quem também reagiu foi o ex-primeiro-ministro espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, do PSOE, que tentou, sem sucesso, negociar com a ETA durante uma trégua. Este pediu a Rajoy que ouça Urkullu. “Foi fundamenta­l ao longo dos anos. Eu confiaria na política de Urkullu.”

 ??  ?? Autodenomi­nados observador­es junto a um dos esconderij­os de armamento ontem identifica­dos pela ETA no Sul de França
Autodenomi­nados observador­es junto a um dos esconderij­os de armamento ontem identifica­dos pela ETA no Sul de França

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